5 anos se passaram desde a 1ª vez que passei por Barrancos, não só para correr (29/11/2014) como também para o visitar, em ambas as vezes chegámos de noite e partimos de regresso de noite, pouco, muito pouco conhecemos a Vila, a não ser à noite da nossa chegada onde penetrámos no seu interior na busca de um local onde pudéssemos tomar uma refeição tranquilamente, é aqui que começa a complicação, os meios existentes são talvez suficientes para regularmente responder ás necessidades das gentes de Barrancos mas claramente insuficientes nestes dias de mais agitação e presença de visitantes para as mais variadas iniciativas que a Vila leva a efeito, a complicação seguinte foi o traçado das provas que nos apresentaram, brutal em comparação com o que nos ofereceram em 2015.
Mais de mil pessoas acorreram ali para participar em mais uma excelente prova de Trail organizada pelo Clube local, Barrancos Futebol Clube tendo como timoneiro o conterrâneo Francisco Bossa, professor e dinamizador desportivo muito credenciado na Região, região esta (Alentejo) que conhecemos como muito plana cujas dificuldades naturais em provas de trail por norma são mais fáceis de ultrapassar. Este era o pensamento em 2015 e que de forma geral se confirmou na altura, passados que foram estes 5 anos ao voltar no passado dia 17 de Novembro levava em linha de conta que a coisa seria mais ou menos o mesmo, muito estradão, trilhos fáceis de ultrapassar, muito corrível portanto, os 56 kms de então davam-me agora a esperança de uma prova tranquila até pela distância mais curta que tinha escolhida, os 14 kms. Puro engano, nestes últimos 5 anos o Ico Bossa transformou aquilo
num autêntico inferno no aspecto de desgaste físico para todos os atletas e em todas as distâncias, de tal maneira fui surpreendido porque até aos primeiros 5 kms fomos (eu e o Canelas, meu companheiro na corrida) num andamento tranquilo e quase sempre a correr, lento é certo mas a correr, após o 1º abastecimento e até ao 2º abastecimento entrámos numa espécie Alpina onde o sossego físico nunca mais chegou até nós, "muros e declives" eram constantes, de vez em quando para ajudar apareciam os pedregulhos difíceis de escalar, um empurrão aqui e outro ali eram oportunos, a inclinação nas subidas era tal que os pés começavam a ceder por câimbras ou perto de fracturas de esforço, a simpatia do marcador da prova era tanta que raras vezes nos contemplava não ir até ao topo de cada pico ou alto de cada Serra, de lá podia-se contemplar a beleza de todo aquele
local, quase que diria que dos pontos mais altos, e eram tantos, se via todo o desenrolar da prova, ora víamos atletas em baixo, em cima, na Serra ao lado, junto ao rio, eu sei lá, o colorido era bonito por toda a Serra, quando se descia as dificuldades, principalmente o perigo, aumentavam, sorte a nossa que a chuva com intensidade estava ausente, a que caía era suave não dando para provocar a indesejável lama e as consequentes escorregadelas com quedas à mistura, claro que elas existiram, creio que mais de 50% dos atletas sujaram os calções levando cada um um pouco da terra de Barrancos, eu fui um deles, para alem da terra as pedras e rochas ameaçavam a cada instante e obrigaram a uma atenção constante onde a experiência acumulada no trail de cada um ajudou a ultrapassar todas as dificuldades encontradas. Muitos atletas da prova dos 25 kms e outros com as dificuldades inerentes
ao seu percurso até chegarem ali para os seus últimos 9 kms já vinham a dar aquilo que não tinham, ainda assim se via a sua bravura em ultrapassar todos aqueles obstáculos, pediam licença para passar, agradeciam o apoio que lhes dispensávamos, um e outro ia-se queixando de dores musculares e câimbras, subiam e desciam com a energia suficiente ajudando dessa forma a galvanização que já nos ia faltando, foi com eles que eu e muitos nos fomos envolvendo naqueles labirintos de serras cavalgando lentamente os kms que se iam esgotando com o aproximar da meta. Ultrapassado que foi aquela "beleza" de percurso, que gostei imenso, diga-se apesar de tudo, a desolação aparece perante os nossos olhos, a Serra queimada, o trail é por si só desfrutar daquilo que a Natureza nos dá nos seus lugares mais apropriados, nas serras, na alta montanha, nos mares e nos rios, passar por ali foi como se sentisse um
choque de tristeza, fez bem a Organização manter o trilho original, ou a ideia original melhor dizendo já que trilho não havia, ainda assim fiz um esforço para imaginar aquele local bem florido e verde com o seu matagal e arvoredo cobrindo-nos à nossa passagem, ouvindo-se ao mesmo tempo também o chilrear constante dos pássaros numa caminhada até ao desolador alto de onde podíamos observar todo o Vale e o percurso por onde andáramos. Dali até à meta foi um instante, a meio da descida ia já muito cansado e dorido da tareia que tinha levado até ali, disse ao Canelas para ir embora, eu há muito que o ia já a travar mas ele teimou sempre em ficar comigo, nas partes mais difíceis de escalar estava sempre pronto para me ajudar, aqui fica também o meu agradecimento!
Após aquela descida e logo de seguida a subida final eis que aparece logo ali Barrancos, andámos por
ali à volta e quando chegamos nem sabemos por onde vamos entrar, não admira pois que facilmente o Ico descobrisse ali mesmo ás portas da Vila aquele maravilhoso, mas difícil percurso que nos colocou a todos em sentido, ao regressar ao local de partida o sentimento de satisfação pela superação era geral, sorrisos e choros de emoção também eram visíveis, por certo o desespero rondou a mente de muitos de nós, chegar correspondeu a mais uma pequena vitória, ou grande para alguns!
Cheguei com 4h de prova e 14,5 kms de percurso!
Parabéns à organização ficando também o agradecimentos pela atenção que nos dedicaram, voltaremos!
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Espero que para a próxima já esteja a florir deixando para trás este rasto de desolação |