quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Ultra Trail Amigos da Montanha 2013


Conforme prometera voltei a Barcelos passados que foi 1 ano depois daquela magnífica experiência que foi o Ultra Trail do ano passado. Tinha contas a ajustar comigo mesmo, em boa verdade só concluí essa prova devido à boa vontade dos elementos da organização que me permitiram passar para o lado de lá do Cávado em mota de água devido ao facto de os kayaks já estarem fora do Rio. na crónica que então fiz neste meu Blogue:  
assinalava alguns erros que cometi durante o percurso e que no final levaram a que tivesse muitas dificuldades em concluir aquilo.
Em 2013 tudo foi diferente, estava confiante que iria superar todas as dificuldades e conseguir chegar ao 1º dos objetivos desta prova, o Rio Cávado, excetuando os ligeiros enganos de então (2 kms) e a cena da passagem do Rio de mota de água, tudo foi igual na edição de 2013. A organização atenta ao que alguns atletas escreveram então decidiu e bem adiantar uma hora na partida da prova principal, passando das 8h para 7h indo assim ao encontro de solicitações de atletas, entre os quais me encontrava eu, que de outra forma mantendo-se tudo na mesma me inviabilizaria lá voltar este ano. Melhorou ainda encurtando em 2 kms a aproximação aos kayaks a partir do momento que chegamos à margem do Rio Cávado permitindo assim mais a poupança de alguns minutos para quem vem no final e com tremendas dificuldades para ali chegar.
É claro que a maioria dos atletas dispensava bem estas alterações, mas também sei que estes mesmos atletas são solidários com aqueles que têm mais limitações em conseguir os mesmos objetivos, ou por via da idade ou porque a sua preparação não lhes permite superar as marcas necessárias para conseguir os mesmos resultados, daí parecer-me justíssimo e de grande alcance as alterações introduzidas permitindo assim muitos atletas terem conseguido superar a prova e voltarem a Barcelos com a certeza da garantia de poderem melhorar os seus resultados, agora com a garantia de a conhecerem melhor e assim poderem entretanto melhorar também a sua condição física para a enfrentarem.
Pela 1ª vez tive de dividir uma prova em duas, 1ª chegar aos 50 kms e depois então pensar no final até aos 62 kms. isto porque de nada importava pensar no final da prova se entretanto fosse eliminado aos 50 e foi esse sempre o meu pensamento desde a partida. Os treinos realizados foram exatamente com esse objetivo, correndo e andando a um ritmo a rondar os 8 minutos o km, sabia bem que se conseguisse fazer isto chegaria aos 50 kms com relativa folga fugindo assim ao risco da eliminação, por isso desde a partida o controlo horário das passagens a cada 10 kms era muito importante para o resultado final. Foi tudo perfeito até aos 43 kms onde estava mais um posto de abastecimento, a partir dali as coisas começaram a complicar-se, não porque não tivesse ainda tempo disponível para chegar ao Rio mas sim porque as dificuldades que ainda faltavam foram para além daquilo que ainda tinha em mente desde o ano passado, os 9 kms naquela serra após aquele abastecimento até chegar ao Rio veio deitar por terra o meu pensamento que o pior já ficara para trás, e se calhar até estava, mas foi um tormento e via a esfumar-se em pouco tempo aquilo que tinha conseguido amealhar até chegar ali.
Mas estava determinado, chegado ao último monte já tinha a certeza de chegar a tempo e horas, começo finalmente a descida para o Rio e com isto acontece também a 1ªqueda, a inclinação era brutal e deixei-me cair para trás quando vejo que a queda é inevitável, para além da sujidade nada mais me aconteceu, pouco depois estava a atravessar o km 50 recebo um telefonema da minha filhota Susana a informar-me que o meu genro Daniel já tinha terminado a sua prova (8,34h), animei mais um pouco, ia sozinho no meio da serra e sabe sempre bem termos a companhia de alguém e se for a filha ainda melhor. Prossegui na esperança de rapidamente chegar ao Rio, tinham-me informado que a passagem do Rio tinha sido encurtada em 2 kms, (o ano passado corremos 3 kms na margem do Rio para chegar aos barcos) e assim foi, passo por uns pescadores que ali estavam a cerca 200 metros e logo de seguida estava o abastecimento dos 52 kms e no Rio os kayaks ao lado uns dos outros à nossa espera.




Estava finalmente aliviado, conseguira o principal objetivo que era chegar ali por uns folgados "25 minutos", podia agora começar a pensar nos restantes 10 kms que ainda faltavam para chegar à meta em Barcelos. Vejo ali o meu amigo Miguel que o ano passado me permitira chegar à meta depois de ali ter chegado com 45 minutos de atraso levando-me para o outro lado do Rio de Mota de água e quando a noite já estava perto da escuridão. Desta vez tudo foi diferente, daí a minha grande satisfação, cumprimento o Miguel e ingeri qualquer coisa, de imediato me enfiam um colete de salvação e mandam-me para dentro do kayak, aviso que nunca andei naquilo mas de nada valeu, dão-me o remo e empurram o barco, vejo-me a navegar e mandam-me ir para a outra margem, o sol já estava muito baixo e não vejo a outra margem, o kayak vai aos ziguezagues conforme eu dava a remada, ora para a esquerda ora para a direita,
mas por incrível que pareça vou a gostar daquilo, vejo uma mota de água a aproximar-se de mim, creio que era o Miguel com um cameramen, faço um esforço para que consiga fazer aquilo bem mas em vão e lá vou seguindo sem saber onde era o ponto de chegada, sigo um kayak que segue um pouco mais à frente e que leva 2 atletas, que sorte a deles, consigo aproximar-me mas começa a doer-me os rins, não sabia que aquele movimento a remar afetaria os rins, de repente vem-me à ideia aqueles atletas que praticam aquele desporto e que a mim me parece muito bonito todos os movimentos que eles fazem e com aquela rapidez que é necessária para se ser um bom atleta, finalmente as árvores já tapam o sol e começo a ver claramente para onde tenho de ir, levo o barco até à margem e rapidamente inicio a corrida para concretizar os 10 kms finais.
Pouco depois o sol começa a esconder-se mas ainda consigo ir até aos 57 kms sem que fosse necessário ligar o frontal, é nesta altura que a Susana volta a telefonar e informa-me que o Daniel tinha o registo de 62 kms de prova, assim fiquei mais tranquilo ainda sabia agora com exatidão o tempo que faltava, a noite entretanto caíra, já de frontal vou na companhia de mais 3 amigos, a progressão faz-se agora andando na direção da margem do Rio já em Barcelos, uma última descida e nova queda e de novo sem consequências, uns metros mais à frente avistamos a ponte que liga Barcelinhos a Barcelos, continuamos juntos, sabemos que ainda vêm 6 atletas atrás de nós e que conseguiram chegar ao Rio a tempo de passar, os últimos 400 metros para a meta são feitos a correr, o Daniel lá estava à minha espera cheio de frio mas por certo satisfeito por me ver chegar e sem qualquer mazela que me afetasse.

Tal como ano passado a tenda já estava quase desarmada, nada de novo, apenas responsabilidade minha, ainda assim feliz por ter chegado e estarem à nossa espera.
Foi um empeno daqueles que de há muito não apanhava, ainda hoje ando um pouco dorida das pernas e braços (os bastões também castigam bastante) mas pronto para enfrentar novos desafios.
Se já gostava desta prova pela sua extraordinária beleza, quer nas serras quer nos rios e cascatas, ou ainda pela excelente organização e apoio que sempre tivemos ao longo de toda a prova, pela magnífica marcação e sinalização ao longo de todo o percurso (um pequeno senão com a sinalização luminosa depois de passar o Rio e já em plena noite com má visibilidade pelo facto dos autocolantes estarem colados nas fitas e a sua posição nem sempre condizerem com o sentido da nossa corrida, situação esta que passou quase despercebida pelo facto das fitas sinalizadoras estarem muito perto uma das outras), os abastecimentos, apesar de correr na cauda do pelotão estavam excelentes, algumas coisas que vi em fotos já não estarem lá quando passei mas como um atleta prevenido vale por 2 eu estava bem artilhado e se fosse necessário recorria à minha artilharia.
Não sei ainda a minha classificação, nem isso é muito importante para mim, sei que na minha idade (mais de 60 anos) não somos mais de 5 ou 6 a fazer estas distâncias, pelo que me disseram no local teria sido o 2º. (Acabei em 4º lugar)
Distância final: 62,080 kms. Tempo final: 11,17,56h(média 10,55m/km. Calorias gastas: 4000 Temperatura 4ºc.
Em 2012, 57,500kms, 10,31h. (10,31m/km, Total andado 2012: 59,240 kms.  
 
A receber do grande Vitorino o Troféu do 2º lugar da ATRP 2013 
Classificações

6 comentários:

Carlos Cardoso disse...

Muitos parabéns Joaquim Adelino. Foi uma honra tê-lo conhecido pessoalmente (no abastecimento dos moinhos - km 37)...a sua forma de estar e a forma física são um exemplo para mim. Gostava de chegar à sua idade com esse espirito e essa força. Muitos e bons é o que lhe desejo.
Grande abraço

Isa disse...

Muitos parabéns Joaquim. Mais uma aventura, mais uma conquista. É um exemplo para todos nós.
Um beijinho e continuação de tão boas corridas.

joaquim adelino disse...

O prazer também foi meu caro amigo, obrigado pelo incentivo.

joaquim adelino disse...

Isa, obrigado pelas palavras, ainda sonho um dia estar consigo numa destas provas sensacionais. Bj.

Anónimo disse...

Só de ler a crónica fiquei cansado, não porque não gostasse, pelo contrário adorei, mas porque imaginei a prova com as suas dificuldades.
Parabéns pelo feito.
Abraço
Leonel Neves

Jorge Branco disse...

Não a nada a dizer o Joaquim Adelino é um grande campeão!