domingo, 23 de janeiro de 2011

1ª Traildos Abutres, Miranda do Corvo

Prova de Montanha (Serra da Lousã) na distância de 33 kms. Esta prova em 1ª Edição, da responsabilidade do simpático Grupo de amigos Os Abutres, de Miranda do Corvo.

Fiz a viagem no próprio dia da prova (22/1) valendo-me do meu GPS, (assim tenho a garantia de não voltar a perder-me), a prova tinha início ás 9,30h. e tinha de percorrer 200 kms para lá chegar.
É verdade que não precisava de chegar tão cedo (7h.) mas é assim que eu gosto, estar a coberto de qualquer contratempo.
As inscrições tinham esgotado há muito e entre os presentes encontrei lá muitos amigos, augurando um Ano em cheio, de trailers. Agora que durante todo o Ano a oferta é cada vez maior, bem diversificada e para todos os gostos.
Esta dinâmica de provas de Montanha, cross, trailers e provas na Areia vai de certeza retirar muitos atletas do Asfalto já que a saturação começa a apoderar-se de um número cada vez maior de atletas. E o que se passou hoje é bem o exemplo dessa realidade.
A partida foi dada ás 9,30h, todos tinham de ser portadores de material obrigtório: Apito,manta de sobrevivência, Corta-Vento,Telemóvel e Camelbak.
Parti bem recheado de peso onde sobressaía 1,5l de água e uma bolsa com as restantes coisas onde incluía 3 gels e marmelada.
Saímos de Miranda do Corvo em direção à Serra da Lousã, antes de lá chegar passámos por várias povoações mas sempre num meio rural onde os trilhos na generalidade eram um autêntico lamaçal que nos obrigava a um constante ziguezague.
Aos 5 kms ouve "carneirada", o grupo que seguia à minha frente não respeitou as marcações e "levou" todos os que iam atrás, (eu incluído e era o último) num caminho diferente tendo apenas dado conta do erro cerca de 700 metros mais à frente, voltámos atrás até encontrar o camino certo, fizemos ali um 1,5kms a mais sem necessidade!!!) outro dilema se colocou para mim e para o Carlos Coelho quando encontrámos de novo as fitas, era para a esquerda? era para a direita? depois de alguma exitação apanhámos o rumo certo. Um km mais à frente quando já seguia na cauda do pelotão com o Carlos Coelho dei um valente trambulhão de frente, uma tranca de pinheiro ficou entre as pernas e a queda foi inevitável, mas correu bem e fiquei apenas com um pequeno arranhão na mão esquerda.
Um pouco mais à frente começamos a avistar o Moutinho, fazemos um pequeno forcing até colarmos e ficamos um pouco com ele com a intenção de o levar conosco, mas não conseguimos, queixava-se das costas e abordava alguns obstáculos com muito cuidado, então dicidimos seguir até ao 1º abastecimento que estava mesmo ali aos 8 kms. A mesa estava bem composta de abastecimentos, sólidos e líquidos com muita variedade mas como se sabe o cansaço quando jé é algum a comida não é tragável com facilidade, pelo menos para mim, mas mesmo assim ainda atestei um pouco.
A partir daqui começámos então o "ataque" à Serra, e que Serra, com as subidas cada vez mais a pique e onde as dificuldades de progressão eram agora muito difíceis, em plena ascenção começo ligeiramente a fastar-me do Carlos Coelho rompendo assim  a estratégia inicial de seguirmos juntos, mas vi que ele vinha com mais prudência e eu só queria era chegar lá ao alto (faltavam 9 kms) dicidi seguir de forma isolada, como ele vinha acompanhado com uma nossa amiga fiquei mais tranquilo, em pouco tempo perdi-os de vista.
Subíamos ao longo de um Ribeiro de água cristalina onde as pequenas cascatas eram frequentes e de uma beleza extraordinária, ora seguíamos pela esquerda ora seguíamos pela direita num serpentear constante, a inclinação era elevada onde quase só se podia caminhar em bicos de pés, as câmbrias no peito dos pés começaram a aparecer tornando doloroso a progressão, caminhando também lateralmente as solas dos ténis já batiam nos tornozêlos. Mas aquilo era para se fazer e quem se mete nestas aventuras sabe que pode enfrentar o pior e eu apesar de tudo estava a adorar aquilo.
As pedras, grandes e pequenas, que íamos pisando também oferecem os seus perigos e foi numa tentativa de subir uma pequena enseada de pedras escorregadias que levei uma espécie de cornada mesmo no alto da cabeça, como aquilo é uma zona de Veados ainda pensei que fossa algum depois de levar com um segundo coice, afinal era um tronco que estava ali mesmo à mão e que providencilamente nos ajudaria a transpôr aquele obstáculo, como eu levava um chapéu tipo Safari se fosse de cabeça baixa nada veria para além de onde colocamos os pés, acabei com uma pequena contusão na cabeça que depressa estancou. Nunca mais me lembrei daquilo.
Depois de ter ultrapassado o primeiro pique de Montanha a 770 metros de altitude e desço até a um magnífico Lago de rara beleza num percurso de estradão com cerca de 2 kms que aproveito para recuperar um pouco as pernas do esforço anterior.
Passa-se o pontão da Barragem e continuamos a subir por trilhos bastante técnicos serpenteando a Ribeira das Mestrinhas onde as águas continuavam puras e cristalinas ali mesmo a rasar os nossos pés não perdendo eu oportunidade de ir bebendo sempre que ela estava mais acessível, aqui situa-se o Parque Natural das Mestrinhas, local onde os animais selvagens se sentem no seu habitat natural. Logo de seguida estava o 2º abastecimento, farto como o primeiro. 2 dedos de conversa e sigo, agora para a parte mais difícil até aos 930 metros de altitude, subidas bem íngremes e com pouca vegetação devido à aridez que consantemente assola aquele ponto da Serra, penso eu que seja por isso. Quando atingimos uma área totalmente despida de vegetação no sopé do topo da Montanha começámos a levar com a forte ventania que vinha de... Norte?  aliada ás baixas temperaturas existentes foi difícil ultrapassar aquele descampado até chegar ás Eólicas que estavam no ponto mais alto da Serra. Seguíamos agora subindo por um estradão de acesso ás pistas de Downhil, (Centro de BTT) e encontro o Vitorino Coragem responsável máximo da prova e coroado Padrinho nesta 1ª Edição (a Madrinha foi a simpática Analice Silva). Mas que estava ele ali a fazer? creio que quis partilhar conosco aquela fase mais agreste da prova, esse foi o sentimento com que fiquei e revela o grande espírito de solidariedade existente entre todos nós. Acompanhou-me até ao ponto mais alto em amena cavaqueira ajudando-me a vencer a última dificuldade no que diz respeito a subidas, e informa-me que ali o termómetro marcava 2 graus negativos.
Dali até à meta são 15 kms, 10 deles com descidas muito técnicas (dificuldade maior), mal começo a descer apanho um novo grupo de 5 elementos e passo para a frente mas não tardou nada a sair disparado depois de ter tropeçado numa pedra, consegui travar e evitar a queda que esteve iminente mas senti logo ali uma pequena câimbra na coxa esquerda, reduzo até passar aquele desconforto.
Um pouco mais à frente novo trambulhão, agora de costas, o suficienta para a perna agarrar de novo, ando um pouco fazendo alguns alongamentos e prossigo com mais cautelas.
Por volta dos 23kms a descida continuava muito inclinada e o trilho muito estreito estava sempre húmido devido à àgua e à condensação provocada pelo arvoredo e... novo trambulhão, outra vez de costas e fui de patins até que parei, mas vi logo que a perna voltou a agarrar e tive de voltar a fazer os mesmos exercícios agora mais demorados até à recuperação, para trás já tinha ultrapassado alguns atletas com o mesmo problema. Sigo e pouco depois numa pequena subida é a perna direita que também agarra, achei estranho ou talvez não, era no mesmo sítio mas agora eram as duas pernas, agora com o novo problema estava mais equilibrado.
Andei até me sentir confortável novamente com a preocupação de correr sem forçar muito e foi assim que cheguei à Aldeia de Espinho ali mesmo ao fundo da Serra, creio que os problemas físicos também  estão ligados a uma deficiente preparação e à longa descida muito técnica que obrigou a chegar aos limites da resistência, estávamos agora com 29 kms de prova e a condizer com o 3º e último abastecimento. Ali a recepção foi excelente, sabe bem ouvir aqueles aplausos, quer do pessoal de apoio quer de muita gente que por ali estava, uma pequena paragem e parto para vencer aqueles kms finais até Miranda do Corvo.
A receber-nos estavam os elementos da organização num ambiente festivo e com um grupo de tambores bem ruidoso que nos encheu de satisfação.
Foi feliz a Organização dos Abutres pelo traçado que nos ofereceu neste 1º Trail por si organizado, está ali aquilo que é a paixão divina da Natureza e que qualquer um de nós aspira em viver. A qualidade e a quantidade está acima da média daquilo que ambicionamos encontrar e eu sinto muito satisfeito por ter tido a oportunidade de lá estar.
Em plena Serra numa das Aldeias (penso que em Gondramar) que cruzámos um Bombeiro virou-se para mim e perguntou-me: se eu era o Joaquim Adelino, eu vinha em passo de corrida e respondi que sim, então dei-a lá cunprimentos à sua Filha Susana que é minha colega lá nos Sapadores de Lisboa, eu como sou de boa educação disse, sim senhor será entregue e segui, mas logo uma dúvida me assaltou, como é que eu vou explicar à Susana se não sei o nome do colega que estava ali? Uns kms mais à frente encontro mais um grupo de bombeiros e comento com eles a situação, aproveito bebo uma mini que eles simpaticamente me ofereceram e desvendam-me a minha dúvida,  tratava-se do Sapador Rui Mendes, ou Mateus? e aqui fica o recado pois sei que a Susana ao ler esta crónica por certo vai receber a mensagem.
A caminho do Quartel dos Bombeiros para o almoço o Luís Mota fez-me companhia (ele já tinha almoçado e foi levar-me até lá) foi então que ele me informa que tinha vencido o Trail, custou-me a acreditar, pois sabia que estava ali gente especialista da Montanha e dos melhores que cá temos. Fiquei com uma satisfação enorme pois tratou-se de um grande feito e confidenciou-me que gostaria de ter ali a sua família a vê-lo chegar e a aplaudi-lo. A organização da prova tinha previsto um tempo de chegada do vencedor perto das 3,30h e ele concluiu aquilo em 2,52h. incrível.
Aos favoritos de algumas provas eu deixo um conselho, não se fiem muito ao julgar quem parte no início das provas que aquilo é só fugachada e julgarem que pouco depois quebram e nunca mais se encontram, as coisas não são bem assim porque em qualquer altura pode aparecer um melhor preparado e desconhecido que resista a qualquer tentativa de perseguição. Ficou o aviso. O de ontem é um homem da estrada e já com alguma experiência no Trail e contem com ele.
Concluí o Trail com 5,40,28h. para a distância de 33, 430kms. à média de 10,11minutos  por km.
Para o Ano vou voltar e penso que a prova ainda pode crescer mais um pouco e dar lugar a muitos atletas que desta vez não puderam estar presentes.

9 comentários:

luis mota disse...

Amigo Joaquim!
A descrição perfeita da prova na primeira pessoa.
Parabéns pela sua bela participação e obrigado pela companhia em Miranda.
Boa recuperação e boa prova para o fim da Europa.

Unknown disse...

Amigo muitos parabéns por mais uma aventura,com quedas,"marradas" e amigos desconhecidos se a vida é uma aventura , as corridas reforçam essa aventura.
Mais uma vez muitos parabéns de todos Amigos

Luis Parro disse...

Grande Amigo Campeão Adelino,
Mais uma prova de alto nível conquistada.
Até ao Fim da Europa!!!
Abraço
Luis Parro

Susana disse...

Mas que aventura e tanto dessas que ao ler me deixa uma vontade de querer experimentar, mas possa sem tantas quedas e cornadas! AhAh!!
Fantástica a tua prestação e a paisagem, apenas de ler!
Sim, vi logo que esse meu colega era o Mendes, pois é dessa zona e é amigo dos "Abutres", e foi precisamente ele que me falou desse Trail. Como sei que de vez em quando visita o teu blogue aqui lhe retribuo os cumprimentos e lhe lanço o desafio de também experimentar destas aventuras trailianas pois sei que se ajeita bem!
Aqui vou acompanhando as tuas aventuras, Força Pai!

Leonel Neves disse...

Bom, não sei o que diga! Ao ler, do princípio ao fim, esta maravilhosa descrição de uma maravilhosa aventura, senti-me como se estivesse lá a correr no meio da serra, e estive, não fisicamente, mas mentalmente.
Parabéns, Joaquim.
Um abraço

Jorge Branco disse...

Grande Joaquim Adelino cada vez melhor!
Onde vai buscar essa energia toda!
Eu que sou um bom bocado mais novo já estou mesmo a meter os papéis para a “reforma”!
Então hoje estou mesmo arrumado pois o treino longo de ontem mais o Kavaquistão deram cabo de mim de vez!

FlipMákinaInfernal disse...

Boa tarde amigo

A música do seu blogue diz tudo,tal como a descrição da prova, tudo.

Adapta-se que é uma maravilha.

Foi a minha iniciação nestas lides também, e como diz no texto, para "variar" de triatlos e provas de estrada.
Pena que no meu Algarve não hajam provas desta natureza.
Adorámos, tanto eu no trail,como a minha Maria na caminhada a experiência, a organização e o grupo de amigos a partilhar a convivência.
Também voltei para trás umas 3 vezes, fruto da falta de experiência, e de ir pelo caminho dos outros( a rever e alterar).
Saudações desportivas de Filipe Conceição

Unknown disse...

Olá Grande Joaquim Adelino;

Este texto maravilhoso, descreve coisas bem bonitas, os desafios, e as dificuldades, para participar numa prova de trail, o que é espectacular.
Vejo a sua felicidade, que apesar de tudo o que passou, de participar neste tipo de provas.
As 5 horas e 40 minutos de intensidade desportiva, deram decerto um conforto de espírito muito bom.

Parabéns e continue nesta forma.
Um abraço amigo
dos Xavier's

Anónimo disse...

Companheiro
gostámos de o tornar a ver, quanto à prova está tudo dito, 5 estrelas, para mim foi mesmo a mais durinha que fiz, pelo que ouvi por cá mais duro só mesmo a Freita.
Abraço e até Sevilha.
António e Isabel