Andava aqui ás voltas a ver como começaria esta minha crónica sobre a minha participação na Ultra Maratona da Areia Melides/Troia e eis que caiem duas respostas a um comentário que fiz no Blogue da Ultra Maratona pertença da Câmara Municipal de Grândola, que me deixaram um pouco aborrecido por não ter sido exato com a opinião que dei em ambas as situações, uma desclassificação e uma data que não estava certa. Sobre a data dou de barato, até porque o anónimo (medroso) que publicou foi pouco simpático no que disse e nem sequer merece resposta da minha parte, exatamente por ser medroso. Sobre a desclassificação de uma atleta, para o caso a vencedora das duas últimas edições e recordista da prova, tenho de pedir desculpa à Organização da prova e também à própria atleta por ter afirmado que fora desclassificada pela Organização por conduta anti desportiva. Ora tal não corresponde à verdade, conforme recebi a informação de um amigo assim a publiquei no Blogue da Organização como certa, o que lamento, a atleta em questão ao fim de duas horas de prova desistiu por falta de água, para não cometer uma falta que levaria à sua desclassificação e também por não subverter o espírito da prova optou por desistir. Uma atitude irrepreensível que se saúda e que devia ser seguida e interpretada por todos, um grande exemplo.
E por falar em água muito pensei eu durante a semana como é que haveria de levar água suficiente por forma a que chegasse ainda "vivo" aos 28,5 kms de prova onde seria dado o único abastecimento de água em todo o percurso, as experiências recentes da Freita e do Almonda sobre as altas temperaturas que nos castigaram fortemente serviram como alerta para esta prova com as caraterísticas únicas que tem, pensei e resolvi congelar durante 3 dias a água do recipiente do camelbek (1,5l) e mais duas garrafas pequenas, conforme o gelo ia derretendo ia bebericando e assim consegui chegar ao abastecimento ainda com gelo para derreter, acrescentado o litro que me deram não tive mais preocupações até final da prova.
Chovia quando cheguei ao barco em Setúbal, eram 5,30h, logo pensei que iriamos ter um dia em cheio para correr, muitas nuvens e o vento era praticamente nulo, mas a chuva foi de pouca dura e ao partirmos para Troia não mais tivemos a sua visita até ao final do dia.
Ás 7,30 estávamos a chegar a Melides e rapidamente tratei de levantar o kit, antes de lá chegar um prego (creio que era o único que ali estava) destruiu-me um dos ténis deixando-me os dedos à vista, por sorte salvaram-se os dedos e pude fazer a prova sem mais problemas.
O campioníssimo Carlos Lopes marcou presença novamente, quer na partida quer na chegada, mas ao contrário dos outros a sua presença não me suscita grandes entusiasmos (e fui dos que estive noite dentro a assistir àquela sua brilhante vitória nos Jogos Olímpicos de Los Angeles em 1984) e a razão é simples: enquanto não me devolverem o preço da inscrição da última Maratona que teve o seu nome e a cancelaram vou olhar sempre com algum desagrado a sua presença, não é pelo valor em dívida mas sim pelo gesto sem que se preocupassem a explicar a razão de tal atitude. Pode ser um dia ele explique isso muito bem explicadinho.
Já me tinha soado que o piso no areal estava muito diferente em relação à última edição, todos nós sabemos, (pelo menos aqueles que são mais assíduos) que de ano para ano o mar transforma aquilo a seu belo prazer e por isso nunca sabermos o que vamos encontrar, desta vez essa realidade voltou a impor-se desde os primeiros metros logo a seguir à partida, por norma aquelas dificuldades iniciais até aos 5/6 kms são já do nosso conhecimento e raras vezes se altera mas aquilo que fomos encontrar creio que nunca tinha acontecido e as dificuldades iniciais transformaram-se numa distância até perto dos 20 kms, brutal, é assim que se poderá catalogar tão difícil progressão.
Em 2010 a baixa mar quase que não existiu e tivemos de correr bem acima até perto dos 30 kms, este ano para além da baixa mar ter ficado 1 metro acima do nível mínimo ainda tivemos o areal com forte inclinação muito solto e ondulado junto à rebentação dificultando a vida a todos os atletas que procuravam diversas vias para poderem correr ou andar ao longo da praia.
Aos 4 kms fui enrolado por uma onda num dos socalcos mais baixos que chegavam a ter pelo menos 1 metro de desnível, a água entrava e numa das vezes fui apanhado em cheio, fiquei de cabeça para baixo mas sem correr qualquer riscos, depois segui sempre ora junto à água ora por cima da areia seca onde era quase impossível correr, pelo menos para mim.
Com duas horas de prova tinha 11 kms percorridos, muito pouco para quem tinha de perfazer os 43 finais até ás 8 horas impostas pela organização, isto atestava as dificuldades que o percurso estava a ter na progressão dos atletas, creio que todos se lamentavam pelas mesmas razões e no final não raras vezes ouvia os queixumes de muitos a dizer que pelo menos uma hora tinham perdido em relação ao ano anterior!
Chego aos 28,5 kms com 4,45h e começo a ficar descansado quanto ao tempo final, parei só o tempo suficiente para abastecer o depósito com 1 litro de água que me deram, manifestamente pouco e que teria de gerir até final, ainda conservava comigo uma garrafa de 2,5 dl. cheia, pelo que parti tranquilo para o que restava da prova, fisicamente estava bem, apenas os rins me doíam quando forçava mais um pouco quando corria, a temperatura do ar estava muito boa, o sol era filtrado pelas dispersas nuvens que permanentemente iam sobrevoando lá bem no alto, o vento era fraco mas aparecia de sudoeste nada ajudando a refrescar um pouco a temperatura do corpo, as ondas eram muito agressivas não permitindo grandes veleidades a quem optava por correr perto da rebentação, de vez em quando descia até à água e refrescava os pés, era uma sensação muito boa e parecia que rejuvenescia a cada instante, a areia por sua vez ia enchendo os espaços livres existentes nos ténis obrigando-me a parar para vazar e deixar os pés livres de novo, ao longe vou avistando a Serra da Arrábida
conforme a neblina matinal se vai desfazendo, em frente vejo um fio interminável de areia que circundava pela esquerda num nunca mais acabar, aqui e ali tenho uma ou mais companhia, de curta duração porque cada um de nós procurava sempre a melhor via para superar tanta dificuldade. A parte mais ocidental da Serra da Arrábida surge agora bem à nossa esquerda mas conforme vamos andando ela está sempre ali no mesmo sítio e parece que nós não andamos nada, de frente já se vê bem o monte onde tantas vezes já pisei nas provas de trail organizadas pelos amigos das Lebres do Sado, começa a delinear-se visualmente o fim do areal, puro engano, chegado lá ainda falta percorrer mais 7 kms até à meta, é um serpentear constante de praias a partir de Soltroia e era também ali que estava o último posto de controlo. Os 40 kms surgem ainda nem se avistava o Pórtico da chegada, tinha esgotado ali o tempo que levara a fazer toda a prova o ano passado, mas isso pouco importava, neste ponto ia na companhia da Dina Mota e mais alguns atletas que tentei, sem êxito, acompanhar até à meta ali a 3 kms. Confesso que nesse momento só queria chegar e antes de cortar a meta dar 1º um mergulho e depois então seguir calmamente para o risco de chegada, mas não sei como a Dina conseguiu dissuadir-me deste intento cortando sozinho a meta e com imensa satisfação por o ter conseguido. O banho no mar ficou adiado para o ano seguinte, se conseguir lá chegar.
A receção foi excelente, consegui fazer aquela parte final a correr, aquilo custa pois trata-se areia muito solta e já não somos capazes de grandes proezas quando ali chegamos mas aquele risco mágico da chegada e à muito desejado dá-nos alento para correr aqueles 200 metros finais.
O salão ao ar livre e bem coberto onde permitiram que fizéssemos a nossa recuperação era excelente, bebidas à descrição fruta com muita fartura, com uvas, melancia, melão e outras iguarias foi do melhor que há para ajudar-nos a recuperar daquela maratona de areia, foi a 4ª vez que me sentei ali e espero ter forças e saúde para sentar uma 5ª vez, depois logo se vê!
7,11,49h (tempo oficial) para a distância no meu cronómetro de 43,740km, média de 9,53m. por km.
Correndo-se à beira mar talvez custe a acreditar mas no final tinha um desnível acumulado de 142 metros (68+74-), os imensos e constantes socalcos (bem visíveis no arquivo do Google) ao longo da costa pelo track registado nesta prova).
Agradeço a simpatia dos amigos que me enviaram as fotos aqui publicadas e à A.M.M.A. da qual aqui publico uma das suas fotos que registaram â minha chegada à meta.
Classificações
Agradeço a simpatia dos amigos que me enviaram as fotos aqui publicadas e à A.M.M.A. da qual aqui publico uma das suas fotos que registaram â minha chegada à meta.
7 comentários:
É sempre um prazer enorme "viajar" nas provas com o amigo Joaquim Adelino! Que capacidade física a sua e que espírito de guerreiro. Forte abraço.
Amigo Adelino,
Mais UMA à Campeão. Parabéns.
Abraço
Bela crónica, beijos
Susana Adelino Pinto
Parabéns Joaquim!
Grande prova!
Eu nunca corri em areia e fico impressionada com todos os atletas que participaram na UMA. Ainda por cima, pelos vários relatos, estou a ver que este ano não foi mesmo nada fácil. Está de parabéns.
Beijinhos e boas corridas!
Parabéns companheiro por mais UMA.
Abraço.
Amigo Joaquim,
É verdadeiramente notável a sua capacidade para enfrentar estes desafios de elevado grau de dificuldade e superá-los da forma que consegue. Dou-lhe os parabéns pela excelente crónica e, principalmente, por ser um exemplo para quem gosta da corrida.
Infelizmente os últimos tempos não se têm propiciado a que nos encontremos, mas espero que isso possa acontecer brevemente para lhe dar mais um abraço!
MPaiva
Eu também gosto muito de andar em bicicleta. Eu pratico ciclismo, mas eu não tenho muito tempo agora, porque eu tenho vários restaurantes em jardins. Eu trabalho muito.
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