terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Maratona de Lisboa, 2012

Ao concluir a 15ª Maratona tenho de concluir que de história pouco tem, a não ser pelo bonito número que já atingi, 11 das quais nos últimos 3 anos. Creio que desta vez ultrapassei aquela barreira de correr por prazer e entrar em larga escala numa situação dolorosa que de todo procuro sempre evitar. Mas ao iniciar sabia perfeitamento que mais km menos km esta fase viria a acontecer, até porque tinha a experiência da Maratona do Porto no final de Outubro, por sinal bem sofrida, em que os antecedentes à sua preparação foram exactamente iguais e daí poder extrair esta comparação entre ambas e saber o que me esperava durante e até ao final da Maratona de Lisboa.
Existe uma explicação para ter ultrapassado aquela barreira do prazer de correr e chama-se teimosia, há duas semanas estive no Ultra Trail dos Amigos da Montanha na distância de 60kms e como é evidente o tempo de recuperação é muito exíguo, mas mesmo assim acreditei que era possível fazer a Maratona dentro dos moldes habituais sem exceder aquele ponto de honra de correr confortavelmente, já no Porto pelas mesmas razões cheguei ao fim muito apertado e ultrapassando os limites, tal como agora, justificando-se talvez aí o Ultra Trail da Serra d`Árga de 45kms que fizera 3 semanas antes.
A 1ª metade da prova foi feita muito confortável e à meia maratona tinha 2,03h, aqui já excedia o tempo previsto das 2h. sentindo já algumas dores nas pernas que se traduziam num cansaço crescente, estava um tempo fresco e sem vento, o que era o ideal para se correr, não levei nada comigo desta vez, nem geles nem água mas não creio que o colapso a partir dos 25kms fosse derivado a isso. Aliás, aos 25kms havia um abastecimento com fruta e aproveitei para aconchegar o estômago, mas de pouco serviu.
Ao virar em Algés perto dos 28kms tive a noção que aquilo ia doer se quizesse chegar ao fim, antes de chegar ali áquele ponto de retorno tinha cruzado com muitos amigo que habitualmente encontro nos Trails e via nos seus rostos a marca do grande esforço que iam a fazer, daí saber o que me estava à espera, é a partir daqui que decido ir numa passada mais lenta porque ia sentindo a perca da sensibilidade nas pernas. Aos 30 kms tinha 3h. de prova mas a condição física era muito débil, vejo ali a Ana Pereira que esperava o testemunho da sua colega de equipa para o levar até à meta, incentiva-me com a promessa de pouco depois me alcançar, como já ia com pouco "gáz" não fazia a ideia que ela tinha o objectivo de me acompanhar, possivelmente até à meta.
É pouco depois de  Alcântara que ela me apanha e decide ficar ali comigo, reconheço que animei um pouco e aproveitei para aumentar um pouco o ritmo até chegar ao abastecimento dos 35kms, um pouco antes tinha encontrado um dos atletas estrangeiros que nos visitaram completamente agarrado e fortes dores nos gémeos que não conseguia sequer dar um passo, deitei-o no chão e ajudei durante alguns minutos até que se sentiu melhor, aconselhei-o a caminhar durante algum tempo e fui embora. Ao chegar aos 35kms disse à Ana para seguir que eu ia parar ali um pouco para comer alguma coisa e hidratar por forma a recuperar se fosse possível alguma coisa, nem lhe agradeci mas fica aqui o registo pelo seu gesto, simples mas que muito me valeu. A partir dos 35kms já ninguém desiste numa Maratona, pelos menos aqueles que correm com o objectivo de a terminar e sem qualquer outra preocupação, mas é a partir daquela distância que começamos a ver as dificuldades que muitos sentem em avançar, por nós conseguimos ver os outros e não falta da parte de quase todos uma palavra de incentivo, senti isso na Avenida Almirante Reis, foi ali que comecei a andar por períodos de 50/100 metros até voltar a sentir as pernas com alguma energia e voltar a correr, aqueles 3 kms até chegar ao Areeiro pareceram-me infindáveis.
Aqui chegado volto a hidratar-me com água e abalo com o objectivo de já não andar até chegar à meta, mas mal entro na Avenida de Roma vou de novo abaixo mas resisto ao ver ali perto a marca dos 41kms, decido então quando lá chegar caminhar um pouco ali já que aquele ponto coincide com uma pequena subida, mas é nesta altura que surge o meu colega de equipa João Inocêncio que veio ao meu encontro e me levou quase ao "colo" até à entrada do Estádio do Inatel onde me aguardava uma forte comitiva dos Amigos do Vale do Silêncio, uns tinham terminado já a Maratona e os outros tinham também concluído a meia maratona com grande sucesso. Só me resta agradecer a todos o apoio que recebi.
Deixo aqui uma saudação a 2 Amigos do Vale do Silêncio que se estrearam na Maratona de Lisboa: o Paulo Duarte (3,35h.) e o Fernando Avelino /3,43h.)e ainda o Juca Jacob que ao fazer a sua 2ª Maratona melhorou o seu recorde pessoal em 10m com a marca de 3,44h.
Passado este dia de 2ªfeira já quase completamente recuperado, com o treino também hoje efectuado e sem mazelas de maior, contudo sei que os limites estão a ser ultrapassados em termos físicos, mas era este o calendário que escolhi fazer e só por força maior é que não cumprirei os objectivos a que me propuz, falta ainda para completar o ano a Meia Maratona de Sevilha e a S.Silvestre dos Olivais, depois regresso para o Cross da Laminha e o Ultra Trail dos Abutres. A partir daqui recomeça tudo de novo, não sei se repetirei algumas provas das mais duras que fiz este ano, uma coisa eu sei, vai ser difícil repetir os 900kms que já fiz  este ano só em provas, uma marca difícil de repetir.
Para os 42,390kms que o meu relógio marcou gastei 4.27,21h. a um ritmo de 6,19m por km. (320m de altimetria de acumulado positivo) e uma pausa/parado de 5 minutos em todo o percurso.
O sentido já está em Sevilha no próximo fim de semana! Agradeço as fotos enviadas por alguns amigos.

Classificações

8 comentários:

horticasa disse...

Parabéns, pela maratona e pelo texto.., Aqui mostra bem o custo que é fazer uma prova destas.
beijinho

JoaoLima disse...

Muitos parabéns amigo Adelino!

Isa disse...

Parabéns!
15 maratonas é um bonito número.

Anónimo disse...

Muitos Parabens grande amigo e corredor.Não sabes a dor que sinto em não te ter podido acompanhar .Fica para a proxima.

Um abraço.

António Fernandes

Anónimo disse...

Parabéns companheiro, está tudo dito e muito bem dito.
Abraço,
António Almeida

Jorge Branco disse...

Parabéns!
Ao contrario do que a Eugénia diz o texto não demonstra o que custa fazer uma maratona!
O texto demonstra o que custa fazer uma maratona vindo de uma ultra há muito pouco tempo!
Sim porque se fosse "só" a maratona, sem toda a carga acumulada, o amigo Joaquim Adelino fazia aquilo com um perna as costas!
Mas para si uma maratona é pouco! Tem que ser uma época recheada de grande desafios!
Não tenho dúvidas que estamos perante um dos mais resistentes ultra maratonistas Portugueses!
Forte abraço.

luis mota disse...

Caro Amigo
Mais uma Maratona, depois de um ano de muitos quilómetros.
900 quilómetros de competição é uma marca digna de registo, parabéns!
Aproveito para lhe desejar umas boas festas bem como à restante família.
Grande abraço

Nuno disse...

Boa Noite Adelino

Muitos parabéns por mais uma maratona concluida com exito. Desejo-lhe uma rapida recuperação.
Um abraço