terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Ultra trail dos Abutres, 2ª Parte...

Não chuveu mas a Serra estava assim
08,30h. Miranda do Corvo, minutos antes tivera lugar uma revista minuciosa a todo o equipamento com que todos os atletas transportavam consigo, nomeadamente aquele que era obrigado levar, foram rigorosos e é de louvar a intransigência em não ceder a algumas faltas de material na respectiva bagagem. Ao som de um trio de Gaita de Foles e Tambôr os atletas, cerca de 300, saltitavam num local fechado e bem espaçoso para afastar um pouco o tremendo frio que se fazia sentir, eu já tinha as mãos geladas mas sentia-me confortável o resto do corpo pois tinha vestido duas t,shirts e uns calções curtos de licra  que considerei suficientes para enfrentar a temperatura existente, outros estavam de tal maneira ensarapilhados que custavam a mover-se, mas pronto cada um deve ter pensado, tal como eu, a melhor maneira de se apresentar na partida.
Estava ali pela 2ª vez, o ano passado tinha-me deslocado sozinho a esta prova e tal como sempre faço fiz a crónica da história da participação nesta prova neste meu blogue tendo de imediato provocado reações nos meus Amigos de Clube de tal forma que secretamente alguns foram alimentando a ideia de virem a participar numa aventura destas, e eis que ali estavam eles a meu lado a acompanhar-me para este meu segundo desafio, digo aqui os seus nomes porque eles foram enormes e corajosos em aceitarem este desafio: Filipe Ramalho, Hernâni Gonçalves e o Paulo Portugal.
Não sei o que este amigo fez depois áquela vestimenta
Não sou grande estratega em provas desta natureza porque nunca sabemos o que vamos encontrar pelo caminho, mesmo que já a conheçamos, pois existe a tentação dos organizadores nos apresentarem sempre coisas diferentes, atitude que se aplaude, até para que o Trail possa evoluir e motivar a vinda cada vez maior de participantes, por isso apenas conferenciei com o Paulo em o acompanhar já que entre todos era aquele que se sentia pouco à vontade em concluir esta dura prova, os outros 2 eu sabia que estavam bem e por certo fariam companhia um ao outro.
Há hora certa partimos, cada um de nós sentia a adrenalina própria nestes momentos, desejavam-se a melhor sorte entre amigos apanágio sempre presente neste tipo de competições. Não tardou muito que não chegámos ao Cristo Rei lá da Terra a cerca de 1km da partida, penso que simbolicamente esta passagem terá a ver com a crença que cada um perfilha e que eu de bom agrado até aceito, o problema é que apenas pode passar um de cada vez por uma escadaria que dá acesso ao cimo do pequeno monte onde a estátua está erguida motivando logo ali um enorme congestionamento, parece-me que desta vez conseguimos ser mais expeditos do que no ano anterior, pelo menos eu desembaracei-me bem melhor.
Eis o Jorge, grande companheiro  enquanto pôde
Cumprindo o que estava estabelecido o Paulo seguia comigo mas cedo verifiquei que ele já sentia algumas dificuldades, quando chegámos ao Parque Selvagem onde estão uma série de animais, alguns deles pertencendo a espécies em perigo de extinção, já ele não se sentia muito à vontade principalmente a subir, contudo seguia corajosamente enfrentando a contagem dos kms de forma crescente até ser possível fazê-lo. Na zona mais plana do percurso era possível correr e foi o que fiz e aos poucos afastei-me tendo o cuidado de vez em quando olhar para trás e ver como vinha o Paulo, até que acabei de o perder de vista e dicidi seguir com a esperança que ele dicidisse parar se considerasse que não era capaz de terminar a prova. o ritmo que eu levava dava-me garantias de poder ultrapassar os dois controlos a que tínhamos de obedecer sob pena de eleminação. Até ao 1º abastecimento situado mais ou menos aos 10 kms andámos pela orla da Montanha com pequenas incursões já com alguma dureza nas subidas mas que pouca mossa causava. Nesta parte do percurso tive a grata companhia de amigos da RunPorto entre os quais destaco o meu particular amigo João Meixedo e foi com eles que segui até ao abastado abastecimento.  Pouco comi, levava o Camelbek cheio de água e pouco bebi, neste intermédio de tempo o Paulo não chegou e difinitivamente dicidi seguir sem ele e atacar a Serra a partir daquele momento, aqui arranjei outra excelente companhia, o Jorge Pereira do BES que comigo enfrentou aquela duríssima subida até à altitude de quase 800 metros em apenas perto de 5 kms.
Esta parte do percurso teve no seu início e até a meio uma forte inclinação provocando em nós já um desgaste enorme ao nivel das articulações nos pés ( com câmbrias) e dos joelhos, e uma 2ª parte mais suave que nos levaria ao alto desta parte da Serra por zonas muito bonitas e sempre acompanhado por um pequeno Ribeiro cuja água cristalina nos tentava a cada momento, (quase que me atrevia a sugerir aos amigos Abutres que colocassem um pequeno copo de água (mesmo em plástico) junto ao caudal de água em diversos locais para que de uma forma mais fácil e cómoda para quem quizesse a ela tivéssemos acesso já que de joelhos não dá muito jeito). Descemos agora e saímos na parte Sul do pequeno Lago que é atravessado por uma ponte em madeira muito bem apresentada, estranhei, ou talvez não, porque na Edição anterior aparecemos ali vindos da parte Norte mesmo junto à margem esquerda do Lago, calculo que foi para evitar os cortes que alguns espertos fizeram o ano passado e que foram descobertos, pois desconheciam que havia um controlo logo a seguir à passagem daquela ponte. Dali até aos 18 kms, onde estava localizado o 2º abastecimento, foi a melhor parte do percurso, pouco acidentado e onde se encontra quase toda a fauna animal selvagem existente na Serra da Lousã, passámos e nada vimos. Continuava com a companhia do Jorge e ambos já denotávamos algumas dificuldades que íamos ultrapassando com o decorrer dos kms. No 2º abastecimento nova mesa bem farta de comida, laranjas, frutos secos, batatas fritas, marmelada sopa e muito mais, como seria normal atirei-me à marmelada e laranjas, ali bebi tambem um pouco de sumo e água enquanto descançava, pouco depois o Jorge já me dizia para nos irmos embora, coisa que fizemos logo de seguida para atacar o ponto mais alto da Serra que estava ali a 2 kms a uma altitude de 940 metros.
Desta vez o Vitorino Coragem não estava lá no alto para nos confortar, (andava com a vassoura ás costas e na cauda do pelotão), e não era preciso, ao contrário do ano passado (2 graus abaixo de zero e muito vento) este ano as coisas estavam bem melhores com um lindo dia e com uma temperatura excelente, ao mesmo tempo enquando íamos Serra acima o Jorge ia consultando o seu garmin e ia aquilatando a altitude que íamos atingindo confirmando os dados registados e anunciados da dimensão altímetra desta Serra. No cimo confirmou-se os 940 metros, em cheio.
Há muito que o meu Garmin tinha deixado de funcionar e eu estava sem orientação, eu que sou um despistado nesta matéria, acusava excesso de carga no histórico, dicidiu calar-se e bloquear começando desde logo a apitar insistentemente, bem tentei e até pedi auxílio ao Luís Miguel (o Tigre) que apanhei neste abastecimento  para me ver aquilo e obtive como resposta que tinha de gramar a campainha daquilo até chegar à meta, e gramei, só que depois fui ver o histórico desta prova e nada, Já não volta a acontecer pois para além de eleminar tudo já está programado para ir apagando automaticamente quando a memória chegar ao limite.
Aos 20 kms atingimos o topo e desde logo apontámos ao trilho utilizado pelos praticantes do BTT Serra abaixo para pouco depois sair-mos para o novo traçado (mais 13 kms) acrescentados ao percurso do ano anterior, aqui começaram os grandes problemas para nós, não por culpa de quem idealizou este espectacular Ultra Trail mas por nós que estamos pouco habituados a apanhar charutos e tareias desta natureza. Logo que comecei a descer a pista aconteceu o 1º trambulhão, uma pedra um pouco saída e fui de frente sem fazer grande resistência pois já me habituei a esta ideia como proteção contra males maiores, nomeadamente fraturas dos membros superiores ou inferiores, resultado, um joelho a sangrar mas nada a que já não esteja habituado. CONTINUA
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