Dia 27 de Junho, eram 5 horas da manhâ no Marujal, ali mesmo à porta do Parque de Campismo quando foi dada a partida da Ultra Trail da Serra da Freita na distância de 70 kms.
Eram cerca de 180 participantes e o ambiente era excelente entre todos onde era manifesto a boa disposição e o incentivo que era trocado entre os amigos.
Tinha feito a viagem na véspera com o Fernando Andrade mas a noite foi penosa pois por falta de alojamento tive de descansar dentro da viatura até ás 3 horas da manhâ, altura em que comecei a preparar as coisas para ás 5h. me apresentar no local de partida.
Partimos de uma altitude de 909 metros ainda noite e com os frontais acesos pois a noite estava a findar mas a escuridão ainda era muito intensa, levava bastante abastecimento líquido e sólido para me precaver e fazer face ás cerca de 15 horas (previsão) que iria ter pela frente. Tínhamos também a indicação que o Sol iria estar fortíssimo, principalmente quando nos encontrássemos já em plena Serra.
Aos 6 kms atingimos a cota de 1035 metros de altitude, quase sempre em corrida mais lenta ou andando onde as subidas eram de maior inclinação, a partir daqui foi sempre a descer até chegarmos à cota mínima de altitude em toda a prova (250 metros), nem sempre se podia correr nesta longa descida, a vista era deslumbrante e o trilho por onde seguíamos também era muito perigoso a merecer grande atenção. É assim que chegamos ao Rio com 17 kms percorridos e onde o calor já era muito incómodo, a
proveitei para logo ali me refrescar e beber água, que por sinal até estava muito fresquinha, até ali tinha partilhado quase sempre da companhia da Otília e a partir dali quase sempre com o Fernando Andrade. Percorri 3 kms por dentro e pela orla do Rio num traçado muito técnico onde permanentemente subíamos e descíamos pedras e pedregulhos e por pequenos carreiros muito traiçoeiros que levou muita gente a cair ao Rio com consequências físicas para alguns deles (ver relatos no Fórum O Mundo da Corrida). Eu caí lá duas vezes mas sem qualquer consequência, a sorte estava comigo. Ali neste local começava já a pressão para atingirmos o primeiro controlo de tempo de passagem que estava aos 20 kms em 4 horas, creio que todos os que partiram conseguiram ultrapassar aquele 1º controlo.
Ainda no Rio aproveitei para tirar algumas fotos e conviver com alguns amigos que dicidiram ali mesmo tomar banho num local de passagem obrigatória com água a chegar ao umbigo, como sempre a Analice viu-se em apuros para passar aquilo, aqui foi o F.Andrade que lhe valeu.
No controlo dos 20 kms tinha 3,30h de prova, procurei a assistência dos Bombeiros, trazia os pés numa lástima pela travessia do Rio, bolhas nos dois pés e algum mal estar do traumatismo que tinha no pé direito devido ao "futebol", foi uma paragem de mais ou menos 20 minutos onde fui muito bem tratado pelo bombeiro que me assistiu. Sem o saber ainda a corrida praticamente acabava ali, começava o verdadeiro Trail, já tinha perdido a companhia da Otília ainda no Rio e o Fernando estava para trás, l
ogo de seguida subimos até aos 750 metros com 26,5kms de prova, nesta altura o Fernando alcançou-me e fizemos uma pequena pausa para comer e beber alguns líquidos, como estava muito calor depressa arranquei, encosta abaixo até alcançar o 2º abastecimento líquido aos 30,5 kms, para fazer estes últimos 10 kms precisei de 2,40h e tinha já um acumulado de 6,10h de prova quando ainda restavam 9 kms par atingir o próximo controlo, este já a eleminar se chegasse para além das 9h. de prova.
No abastecimento dos 30 kms conto novamente com a companhia do Fernando Andrade que chega bastante desgastado , eu próprio também não estava melhor, ouve ali um amigo que nos deu um pouco de sal refinado que nos fez reactivar novamente os índeces de motivação para prosseguir, segui com o Fernando prontos para enfrentar mais uma montanha que estava logo ali à nossa frente que até doía a vista só de olhar lá para cima, dali conseguíamos ver alguns atletas que já iam lá no cimo, pareciam formigas, mas a nossa motivação ainda estava em alta, antes de começar a subir ainda descemos mais um pouco ao longo de mais um Rio de água quase cristalina onde o Fernando aproveitou para se refrescar mais um pouco, eu segui e comecei a subir aquela montanha sem saber como é que o iria conseguir, (em 1.800m. subimos dos 600m para os 1.100m. de altitude), o Sol estava escaldante, de frente para nós enquanto subíamos, não havia trilhos, o percurso era balizado por pequenas fitas
que nos íam guiando, por vezes era um pé à frente e outro atrás, as forças já eram poucas, os pés escaldavam e doíam, é nesta fase que recebo uma chamada providêncial da minha filha Susana, eu quase que não podia falar tal era o cansaço, mas foi um grande estímulo pois estava quase a chegar ao cumee deu para descansar um pouco, entretanto olho para trás e vejo o Fernando a aproximar-se de mim, sinal que a moral está de novo em cima, atrás dele perde-se um vale imenso quase a perder de vista, pouco depois chego à estrada que nos levará até ás Eólicas, ponto mais alto da Serra. Antes de lá chegar ainda conseguimos correr cerca de 1km (já estávamos com saudades) mas foi penoso ter de fazê-lo pois o limite de tempo para chegar a mais um controlo de eleminação estava aos 40kms e só "tínhamos" 45 minutos para fazer os restantes 2,5kms. Mas a surpresa estava para vir, quando pensávamos que a meta estava ali num percurso acessível eis-nos atirados para o triho dos Íncas, que não era mais do que descer novamente a mesma Serra que tínhamos subido e depois circular a Serra por um caminho espectacular mas cheio de obstáculos, mato rasteiro que nos deixou as pernas arrasadas, caminhar em cima de lages, em alguns locais à beira de precepícios até que surge a povoação e o consequente controlo e abastecimento. Aqueles 2,5kms foram percorridos em 1,15h, chegámos com o controlo encerrado à cerca de 30 minutos. Acabava ali o sonho de atingir o objectivo q
ue sonhava. Antes de lá chegar já tinha dicidido com o Fernando que não iríamos prosseguir, aquilo não está acessivel a qualquer um, a limitação de tempos de passagem em cada etapa elimina à partida qualquer veleidade de voltar a tentar, a menos que os prazos sejam alargados. Para mim acabou-se.
A recuperação foi boa e não ficaram mazelas, sinal de que era possível ultrapassar aquilo se a pressão não fosse tão grande.
Parabéns a todos os que conseguirem concluir esta duríssima prova e áqueles que tudo fizeram para o conseguir e por qualquer motivo não o conseguiram.
Uma palavra também de grande contentamento por a Organização ter ponderado e aceite que todos os atletas que chegaram à meta fossem classificados. Foi um passo muito importante para para o futuro da prova, de louvar a atitude.
Agora vou fazer o Almonda, de 30 kms, ali em Torres Novas daqui a 15 dias para levantar um pouco a moral, pois não podemos esquecer que Melides está aí daqui a 1 Mês.