No dia da Maratona bem cedo precebi que as coisas não iriam ser fáceis, coisa que eu já esperava, desde a Maratona do Porto no dia 8/11/09 que não mais fiz qualquer treino longo com vista à Maratona de Lisboa, limitei-me a fazer a Meia Maratona da Nazaré, os 16,5kms da Mendiga e a Caminhada de 11kms da Serra de Sintra e depois alguns treinos sem grande disciplina durante estas semanas, por isso sabia que a Maratona de Lisboa iria ser um osso duro de roer, não só por não ter merecido uma preparação adequada mas porque eu conhecia demasiado bem o traçado da prova e por isso encontrava-me um pouco ansioso.
Quando cheguei ao Estádio 1º de Maio faltava ainda 1,30h para o início da prova, tempo suficiente para a habitual fase social onde disponibilizamos algum tempo para conviver um pouco com os amigos, até porque as oportunidades não são muitas. Lá estava o Luís Parro, não me perdeu a pinta desde a Mendiga, o M. Azevedo, J. Magro. M. Lima, Fernando Andrade, vai faltar-me algum, e conheci ainda o Joaquim Ferreira e o Pedro Ferreira.
A minha equipa estava ali em peso, mas só 2 elementos é que iriam fazer a Maratona, eu e o Elísio Costa, o Costa que já andava afastado desta distância desde a Maratona do Portode 2008.De tal forma estava distraído que quando me apercebo já só faltava meia hora para o início da corrida. Já na viatura optei por calçar os ténis com que fiz a Maratona do Porto (já velhos e rôtos) que me fizeram sentir sempre muito bem durante toda a corrida, completada a tarefa sempre trabalhosa de proteger algumas zonas mais sensíveis e devidamente equipado vou para a zona de partida, ainda vou a meio do caminho e verifico que me falta ainda o dorsal, então voltei ao carro e resolvi o problema e corro para o local de partida, mas após os primeiros passos de corrida dou conta que ainda tenho os óculos colocados, volto novamente para trás, as coisas não estavam mesmo a correr bem. À entrada do Estádio (a partida era em plena pista) ainda tive tempo de me despedir da minha equipa que aguardava a hora de participarem na Meia Maratona.
O Costa logo no início informou-me que me iria acompanhar até por volta da Meia Maratona, de certa forma fiquei mais tranquilo pois sabia que a experiência do Costa me ajudaria a controlar a corrida para evitar os excessos logo no início e que me iriam sair caros no final da prova.
Mas desde logo no início verifiquei que as coisas iriam ser muito difíceis, sem ter feito qualquer aquecimento no início antes do início sentia-me muito preso de movimentos e nem mesmo a descida da Av. Gago Coutinho serviu para melhorar as coisas, e a bem da verdade a subida para o Arieiro veio numa boa altura pois permitiu-me que eu encontrasse o ritmo e o esforço certo que eu vinha a procurar, e foi assim que segui até chegar ao início da difícil subida do Alto dos Moínhos onde estava assinalada a passagem dos 10kms, assinalava 57m. Nesta altura o atleta que levava o sinalizador do ritmo das 4 h. ia ali a cerca de 300 metros e nem tentei aproximar-me pois sabia que aquilo não era andamento para mim. Um pouco mais à frente o Costa começa a dizer-me que o andamento vai mais rápido do que devia, era natural porque um pouco antes tinha avistado logo ali à frente o Luís Parro e quis chegar até lá e foi o que fiz , pois já seria um grupo maior e a companhia era de todo aconselhável, mas foi sol de pouca dura, cedo percebi que aquele andamento era arriscado se dicidisse ir ali por muito tempo, optei por ficar com um andamento mais confortável, sempre na companhia do Costa.
Nesta altura começavam os meus problemas com os meus ténis, ao contrário do Porto esta Maratona de Lisboa é um constante sobe e desce e onde a fricção é uma constante e os dedos dos pés são os que mais sofrem e já só desejava chegar à baixa lisboeta onde o terreno já seria plano e as coisas iriam melhorar, pensava eu.
Passei à Meia Maratona com 1,59h (mais 3m do que no Porto) ainda me sentia bem, o pior foi que de seguida encontrámos o vento pela frente assim que entrámos na Av. 24 de Julho, foi nesta altura que perdi o meu companheiro de corrido, como estava previsto ele abalou à procura de uma melhor marca que pensava que estaria ao seu alcance, entretanto eu fui mantendo o mesmo andamento, 6m por km, após passar pelo Viaduto de Alcântara cruzo-me pelo António Almeida, e que bem que ele vinha, pois o sinalizador das 3,30h ainda vinha bem lá para trás, e eu já nem o das 4h conseguia ver, notava-se que eu já ia perdendo vigor e os ténis já pressionavam em demasia os meus martirizados pés, mas a Maratona é isto mesmo, espírito combativo e de sacrifício e quando a mentalização está virada para o objectivo que é a chegada não existe "nada" que o possa impedir.
Um pouco antes de Alcantara cruzei-me com muitos amigos que participavam na Meia Maratona e já estavam de regresso de Belém, o Vitor, o F.Avelino, o Fernando (Mister) o Orlando Duarte, o Tiago, o Luís e toda a equipa do CCd de Loures e outros que agora não me lembro, sabe sempre bem naquela altura um pouco de ânimo. Quando virei aos 27kms o Costa já ia com mais de 200 metros à minha frente, achei pouco para aquilo que ele pretendia mas ainda faltava muitos kms até final,
Aos 30 kms ainda passei com 2,58h (soube depois, já o Luís Mota tinha terminado), foi ali que parei a 1ª vez, só o tempo suficiente para beber água, comer um pedaço de laranja e tomar um gel que levava comigo, considerando as dificuldades que já sentia ao nível dos pés, tracei como objectivo fazer uma pequena paragem a cada 5 kms e onde ouvesse abastecimentos, sabia que o tempo perdido seria rapidamente recuperado logo a seguir, o pior era mesmo os pés, com as dores que sentia eu já imaginava o dedo grande do pé esquerdo com o dobro do tamanho e a sola do pé direito descolada do seu habitat natural, mas não era aquilo que me iria fazer parar.
Chego entretanto ao Terreiro do Paço e vejo o meu filho Hugo aos saltos de satisfação por me ver, na sua companhia estava o Tozé, velho amigo, que não perderam oportunidade de correr um pouco ao meu lado até se cansarem, ao fim de 100m!. Por volta dos 34kms chego-me de novo ao Luís Parro, pareceu-me com algumas dificuldades, ou talvez não, mas ia acompanhado e em boa cavaqueira, de lá saltou o Manuel Azevedo e fez-me companhia, por pouco tempo pois o seu andamento é superior ao meu. Logo a seguir estão os 35kms e foi aí que me "passei", a àgua tinha esgotado e não havia mais, Todos sabem que naquela zona e em qualquer Maratona a água é um elemento fundamental, tanto mais que se trata de uma zona crítica, e é essencial até para a saúde dos atletas. Uma amiga da organização simpaticamente ofereceu-me uma bebida em alternativa e sem açucar, dizia ela, mas água é água e é insubstituível.
Uma ocorrência que pode até arruinar o prestígio de uma grande prova como é a Maratona de Lisboa que arrasta centenas e centenas de estrangeiros e muitos deles ainda vinham lá para trás, uma distração difícil de perceber.
Aos 37,5kms começa a subida final que me irá levar até aos 40kms, um pouco antes passei pelo M.Azevedo pois sempre que aparecia uma dificuldade maior optava por descansar um pouco, andando. Os 40kms foram atingidos com 3,56h de prova, apesar de tudo sempre regular, aproveitando esta altura para o último abastecimento, ali havia água com fartura e deu para beber logo duas garrafas de seguida, mais um gel e laranja e estava pronto para enfrentar os 2 últimos kms e uns pózinhos. Nesta altura já me vou habituando a soportar as dores nos pés pois aproximava-se o final da prova e isso era mais interessante, mal cheguei ao Alto da Bela Vista logo a seguir ao viaduto do Metro (40,400kms) encontro um colega maratonista no chão a contorcer-se com dores, olho e sigo dando uma forcinha para ele, já antes tinha observado outras situações quase idênticas mas que estavam controladas, mas aquele caso mordeu-me a consciência e já a 30 metros voltei para trás e ajudei o homem, notei logo que eram os gémeos, levantei-lhe as pernas pressionando a parte da frente dos dois pés e a coisa estbelizou, dificil foi entendê-lo pois tratava-se um italiano e a comunicação era difícil, tentei ajudá-lo a pôr-se de pé, em vão, os gémeos voltaram a agarrar e voltei a fazer os mesmos procedimento com bons resultados, depois aconselhei-o a manter-se assim algum tempo e tentar chegar à meta com calma e devagar, não sei se me entendeu, pelo menos nem um grácias ouvi. Depois segui, estranhamente mais motivado e com as forças renovadas, tanto que voltei a apanhar o nosso conhecido M.Azevedo em plena subida final, que ao pressentir-me de novo ali arrancou para a meta cheio de força e energia.
A entrada no Estádio foi um momento fantástico, para a maioria das pessoas que ali estavam era mais um que chegava depois de o 1º ter chegado quase há duas horas, mas para mim era muito gratificante, era a 6ª vez que realizava esta proeza e que sonhar é coisa que também encaixa bem nos idosos. Terminei com 4,13,25h.
À espera estavam tantos amigos, lembrei-me dos meus "2 bombeiros" que se estivessem ali estavam tão felizes quanto eu, o Lima foi incansável, o António já tinha acabado há 40 m e manteve-se ali até que eu chegasse, a Isabel percorreu Lisboa quase toda, ela estava em todo o lado, o Vitor, a Família do Mota, e eu estava tão enleado que já nem sentia as dores, próprias de quem acaba uma Maratona.
O frio que estava aconselhava a que rapidamente fosse para o carro e mudar de roupa, e sem exagerar esta tarefa tornou-se quase tão difícil como fazer a Maratona, não fui capaz de tirar os ténis, pois cada vez que tentava chegar aos atacadores os gémeos agarravam e as dores eram muito fortes, optei então pela dicas que dei ao italiano, ao fim de meia hora comecei então pelos sapatos com receio do que ia encontrar e de seguida consigo trocar de roupa sem mais dificuldades, neste meio tempo que passou choveu a bom chover, passaram numerosos grupos de atletas e familiares de regresso aos seus pontos de partida com a boa disposição sempre a reinar, com os espanhóis sempre numa animação espectacular, foi assim durante o fim de Semana.
E eu, bem, regressei também a casa no meio de chuva e bastante frio, ainda com as câimbras a dificultarem-me a condução e a caminho de sarar as minhas feridas.
21 comentários:
Parabéns amigo Adelino por mais uma conquista!
Também gostei imenso da festa que os espanhóis fizeram. Temos de melhorar a nossa organização e a forma como nós portugueses vivemos o atletismo para fazer desta prova uma das melhores.
Parabéns Joaquim Adelino
Excelente relato das peripécias da prova
Mais uma maratona concluída um feito só para atletas de grande "fibra"
Continuação de muitas provas desportivas
com os cumps
J.Lopes
Joaquim,
Parabens por mais essa realização! Um exemplo de garra e superação!
Abraço
Olá Joaquim
Mais uma excelente prova, parabéns, em grande forma!
Tudo corra bem na recuperação.
Boa semana
Grande abraço
Muitos parabéns Adelino.
E já está mais uma para a galeria de provas, agora é recuperar esses pezinhos para a prova de Sevilha.
JCBrito
Amigo Adelino
Parabéns por mais esta aventura aqui tão bem narrada e que me fez reviver o que eu também passei.
Peço desculpa por não ter aguardado por ti, no final, mas é que eu...depois de ter estado sentado, na desbunda, um bocadinho, comecei a sentir friop e fui até ao carro com um chazinho quente na mão, que me estava a saber tão bem (que, por azar, deixei cair, mas não adianta chorar sobre chá derramado). É verdade que também acolhi de braços abertos o incentivo dos Almeida e dos Mota, na chegada, mas nem sequer tive a reacção minimamente cordial, de ir ter com eles. Um ingrato é o que eu sou (o que vale é que sei que eles não levam a mal a indelicadeza).
O fascínio da maratona está mesmo nisto : acabamos com a sensação de alívio por ter acabado, mas passam umas horas e já estamos a pensar noutra! Raios partam isto!: Assim, como é que a gente se cura ?!!??
Grande abraço amigo e força aí para a Meia de Sevilha (sem exageros, claro está).
Fernando
Olá Joaquim,
Muitos parabéns.
Esta, Joaquim, já ninguém lha tira.
Mais sofrimento ou menos sofrimento, o importante é que o saldo seja positivo e que a motivação continue.
Também para si este ano de 2009 foi um ano em grande.
Continuação de bons treinos e de boas provas.
Abraço
José Alberto
Mas qual idoso qual quê!!?
Grande vitória.
Um abraço.
Olá Amigo Joaquim Adelino,
Foi um prazer conhecê-lo pessoalmente!
Um Atleta que correu "Melides" ultrapassa tudo, como se viu mais uma vez!
Pela Crónica e pela Prova ...
PARABÉNS!
Olá Joaquim!
Parabéns por ter concluído mais uma Maratona e também pelo relato envolvente e emotivo da sua prova, ao ler parecia que estavamos no seu lugar.
Um abraço e uma boa semana!
Adelino
Que narrador de qualidade me saíste!!! Os pormenores de cada passada, a ajuda que deste ao italiano e o discernimento da tua realidade para não entrares em loucuras fez com que esta narrativa tivesse o condão, como o Fábio aqui o disse, de cada passada tua fosse a nossa.
Quando te cruzaste comigo na 24 de Julho ainda ias em bom ritmo. O depois não apaga o que fizeste antes e assim acabaste mais uma prova que faz de ti um Homem da Maratona.
Podes crer uma coisa Adelino, são relatos como os teus, para as pessoas que nunca fizeram uma prova destas, ficarem com a noção de quanto custa correr 42 km mas fiquem também com o desejo de um dia estarem na linha da partida para desafiarem os limites da resistência humana.
Agora o merecido descanso q.b. para mais uma meia-maratona desta vez em Sevilha.
Abraço!
Parabéns amigo Adelino, por mais uma vitória. Sim porque acabar uma maratona e durinha como esta é sempre uma grande vitória.
Eu depois da maratona do Porto pouco treinei e mesmo indo acompanhar uma amiga que iria fazer a sua estreia ,consegui "rebocá-la" até aos 40kms embora com algum esforço pois já tinha imensas dificuldades a subir. Na zona da Bela vista e parte da av EUA cheguei a andar um pouco, para depois entrar de novo a correr na Rio de Janeiro e estádio.
Concluí a prova com 4h05m, a minha amiga susana obteve 4h02m.
Prova durinha, mas que me agradou muito.
Grande abraço
José Magro
Parabéns Adelino!
Desta vez não o vi, mas pelo que li, teve de recorrer à fibra de campeão uma vez mais... Agora espero que descanse um pouco que os últimos meses, não têm sido pera doce!
Um abraço.
Amigo Adelino!
Todos temos um grande carinho pelo Joaquim e este sucesso alcançado enche-nos a todos de alegria. O seu relato, excelente, é sentido por quem desafiou a distância.
A Maratona de Lisboa não foi uma prova fácil para ninguém. As características do percurso e as condições atmosféricas não deram tréguas aos Maratonistas.
Regressei de Lisboa muito satisfeito com o sucesso alcançado pelos amigos. Todos concluíram a Maratona. Todos estão de parabéns e temos no Joaquim Adelino o grande exemplo de determinação.
Muitos Parabéns Amigo!
Parabéns Joaquim, por mais esta conquista
Companheiro
e que bela história nos conta, obrigado pela partilha.
Quero aproveitar para lhe dar os parabéns não só por esta maratona mas pelas aventuras neste 2009 em especial Melides, Óbidos, Porto e Lisboa.
Mais uma vez foi um prazer conviver um pouco com o Joaquim.
Agora é tempo de recuperar e desfrutar o resto deste 2009, Sevilha e Lisboa prometem serem belas jornadas.
Grande abraço e mais uma vez os meus parabéns.
Parabéns Pai por mais esta tua vitória!
Podes crer que os teus "2 bombeiros" ficaram tão felizes como tu!
Beijinhos grandes!
"Maratona de Lisboa, há sempre uma história para contar, esta é a minha."
E que história!...
Caro Amigo Adelino,
Muitos parabéns pela conclusão de mais uma maratona.
Muito obrigado pela narração (quase perfeita)que nos leva ao interior da maratona.
Desejo uma boa recuperação e continuação de boas provas, para depois termos aqui excelentes crónicas, relatos e, Belas Histórias...
Um Abraço
Orlando Duarte
Amigo Joaquim,
Isso é que foi uma aventura, para a próxima não se vai esquecer que ir com os ténis à inspecção ;)
Abraço,
Joaquim,
Li com o maior interesse a bela "estória" que nos contou sobre a sua magnífica corrida na Maratona de Lisboa. Afinal de contas esta foi a segunda maratona no espaço de um mês, isto depois de já ter feito o Raid Melides-Tróia no Verão. Acredito que sinto uma saudável inveja pela sua determinação e capacidade de vencer desafios.
Não posso terminar sem deixar uma palavra sobre a forma solidária como não conseguiu alhear-se do sofrimento de um colega de corrida, mesmo que isso o tivesse obrigado a voltar para trás e parar por instantes a sua prova. Esse gesto de solidariedade é um exemplo de desportivismo que merece ser realçado, pois o desporto não só a vontade de chegar à frente dos outros.
Parabéns amigo Joaquim!
abraço
MPaiva
Olá Joaquim,
Os meus parabéns por mais esta maratona concluída com sucesso. Para quem já não fazia a distância há tantos anos fazer logo 3 em 2009 é de destacar!
O relato está impecável tal como sempre e é sempre um prazer fazer e terminar a prova rodeado de amigos.
um forte Abraço
Mark Velhote
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