
Depois da última curva na areia observo a 1km a baliza da chegada, tinha deixado para trás 42 kms, mas aquele último km foi muito penoso e difícil, areia muito solta num plano muito inclinado e ainda por cima com as forças completamente esgotadas. Valeu-me ali a companhia do Daniel, que mesmo sem treinos, me foi esperar perto dos 37 kms.
Mas para chegar ali outro tormento tive de suportar, os primeiros 5 kms foram percorridos junto à rebentação das ondas devido à forte inclinação do areal e ao facto da areia estar seca e muito solta tornando muito difícil a progressão, optei por correr junto à agua enfrentando a permanente rebentação das ondas que por vezes me provocavam o próprio desequelíbrio ao ser atingido pelas vagas que chegaram por vezes à altura dos joelhos, agravado ainda pelo permanente sobe e desce que naquela zona junto ao mar tivemos de enfrentar. Mesmo assim os pés enterravam na areia embora com menor intensidade, felismente aquele duro traçado começou a melhorar a pouco e pouco e permitiu uma ligeira recuperação, os rins deixaram de me doer e as pernas começaram a responder melhor.
Um pouco mais à frente começo a avistar um grupo de 4 companheiros de aventura de entre os quais ia o querido amigo Fernando Andrade, lentamente aproximei-me deles tendo o Fernando apresentado os seus amigos e aproveitado para tirar ali mesmo umas fótos, depois segui com o meu andamento até ao 1º abastecimento que estava ao km 28,5. Aí fiz uma pausa no andamento, andei um pouco aproveitando para me hidratar tendo reatado a corrida pouco depois. Por volta dos 35 kms volto a encontrar o Fernando com um dos amigos, já em grandes dificuldades, ainda tento que viesse mas logo me disse que já não dava mais, então segui com o amigo mais alguns kms que me disse que queria concluir antes das 5 h. de prova. Entretanto o Daniel aparece em bom ritmo vindo da meta para me acompanhar naqueles últimos kms. que ele sabia serem bem duros.
Naquela ponta final ainda andei por duas vezes por breves momentos, para me hidratar e foi assim que de repente visualizo numa das muitas curvas a baliza de chegada, mas eu sabia que aquele km final ia custar tanto como os 42 que tinham ficado para trás todos juntos. Já perto do final vejo a Susana a correr ao meu encontro preocupada porque eu vinha a cambalear, mas este cambalear era mais provocado pela inclinação e a areia solta do que pelo cansaço que eu já à muito transportava. O acesso à meta com uma pequena enclinação fi-lo a andar e só o forte apoio e carinho dos presentes permitiram que ainda arranjasse forças para percorrer os últimos 50 metros em passo de corrida.
Nos últimos kms tive a ameça permanente de câmbrias na zona dos gémeos mas consegui concluir controlando a situação, mas foi difícil depois de concluir a prova, tendo inclusivo de receber assistência dos socorristas quando a Susana verificou que eu não conseguia resolver o problema.
Estou certo que esta penosidade final ter a ver com aquele troço inicial onde fomos chamados a um esforço tremendo para sair dali.
Entretanto foram chegando o Fernando Andrade e o António Almeida, aparentemente com melhor aspecto do eu, ambos merecem a minha admiração pois aventuraram se a fazer este desafio sem que tivessem feito uma preparação adequada para esta competição.
Durante o percurso íamos tendo em algumas praias o apoio do Daniel, da Susana, e da família do António Almeida, da Isabel e da Vitória. Como não era permitido darem-nos qualquer abastecimento iam incentivando e sabendo da nossa condição física.
Após a chegada a organização foi extremamente atenciosa para todos os que iam terminando a prova, demonstrando um grande respeito pelo esforço que todos acabaram por passar, o rigor imposto a todos de auto-abastecimento foi compensado no final, não nos faltou nada, fruta diversa, água, sumo, assistência médica, e carinho, muito carinho demonstrado por quantos estiveram por detrás desta excelente organização.