segunda-feira, 20 de julho de 2015

Trail Moinhos Saloios, 12/7/2015


Pelo 2º ano consecutivo participei no Trail Moinhos Saloios na função de atleta "vassoura" e pela 2ª vez consegui chegar com o último atleta a chegar,
sinal que a função foi mais ou mais cumprida de acordo com o plano de segurança para a prova e tendo sempre em vista a chegada de todos os atletas à meta nas melhores condições.
Apesar da função desempenhada que muito me honrou acabei também por fazer um bom treino correndo e andando conforme os atletas em prova que ocupavam os últimos lugares, o convívio e o ganho de experiência em acompanhar estes atletas é muito enriquecedora, a ponto até de um dos últimos ser um excelente atleta de Trail e estar ali a viver um momento único por acompanhar pela 1ª vez um atleta vassoura. 
Enquanto atleta a minha missão foi limitada ás minhas funções bem determinadas, contudo deu para ter uma apreciação bastante positiva da prova, nomeadamente as marcações (a precisarem de melhor identificação devido à caminhada a decorrer quase em simultâneio e em alguns casos coincidindo com o trail), os abastecimentos de boa qualidade mas a pecarem por escassos, apesar de tudo não ouvi de parte dos atletas qualquer queixume, mas que a organização em futuras edições deverá corrigir.
De resto tudo bem, com a nossa chegada ao fim de 23,400 kms e com 4, 36h de prova o pórtico foi finalmente abaixo, as cerimónias de distribuição dos prémios já se tinham efectuado, descendo assim o pano de mais uma excelente edição do Trail dos Moínhos Saloios organizada por amigos e para amigos.
Obrigado e contem sempre comigo para ajudar.

quinta-feira, 2 de julho de 2015

Ultra Trail da Serra da Freita 27/6/2015

Freita, a eterna e sempre Freita!!! Após alguns dias de relaxamento e descanso defensivo (parado e parado) volto aqui a este meu cantinho onde gosto de deixar o meu rasto sempre que me aventuro por aí na estrada ou na montanha para desta vez falar da fantástica e extraordinária Serra da Freita e do meu regresso a um local que considero mágico e me fascina.
5 presenças nos últimos 6 anos, 270 kms acumulados, 66,05 horas a correr e a caminhar por lugares de sonho onde me honra dizer que chorei, derramei sangue e  desesperei, dizer também que fui ali feliz e ao mesmo tempo acarinhado como nunca por todos aqueles que têm a responsabilidade de gerir um "monstro daqueles" e pelos restantes amigos que tiveram a felicidade de correrem até hoje por aqueles fabulosos trilhos descobertos e desenhados pelo Mestre dos nossos Trilhos, José Moutinho.
Estas primeiras palavras podem parecer à primeira vista um adeus da minha parte à Serra da Freita, mas não é, infelizmente para a minha velha carcaça ainda não é um adeus final, o Ultra Trail da Serra da Freita está em permanente evolução desde a 1ª edição em que participei em 2010, agora foi-lhe acrescentado a prova de Elite de 100 kms valorizando-a muito mais, levando a quem nela participa a limites inimagináveis de esforço físico onde só participam atletas bem cientes das suas capacidades atléticas e de grande resistência, ou outros que ali procuram a superação, o divertimento e a loucura sem limites.
É verdade que desta vez ao fim de 5 tentativas superei a Ultra da Freita
desenhada de forma diferente uma vez que a partida e chegada das provas foi em Arouca em vez do Parque de Campismo do Merujal das edições anteriores situado a mais de 900 metros de altitude.
Também é verdade que esta não foi a Freita que conheci em anos anteriores, tirar à Ultra o fantástico Trilho do Carteiro, o Rio de Frades, o Rio Paivô, a Aldeia histórica de Drave e os 3 Pinheiros não é a mesma coisa que partir e subir até aos mais de 1000 metros de altitude), passar por Cabreiros, subir a "Besta" (a mais de 1000 metros de altitude), subir a Lomba a mais de 1000 metros altitude), evitar o
PR7, e depois chegar a Arouca descendo durante 9 kms por onde se subiu .
Os quase 3000 metros de altimetria positivo que pesaram na minha prova dos 65 kms não fez esquecer o percurso anterior, tenho a noção que apesar de tudo este ano foi mais "suave", quase que parecendo que foi desenhada especialmente para eu acabar com o "feitiço" e onde todos torciam para que isso acontecesse.
Quando parti pelas 7h da manhã o sol já era bem visível e impunha já o seu poder, Arouca fica ali na base da serra e os raios solares que nos atingiam eram já um indicador daquilo que nos esperava lá mais para a frente, optei
por levar uma t,shirt técnica de manga comprida para evitar possíveis queimaduras nos braços desprotegidos, lá no alto a mais de 1100 metros as hélices das eólicas vão rodando lentamente indicando também que o vento que por lá faz é muito fraco, abstraindo de tudo isto o objectivo de cada um é partir e voltar independentemente das dificuldades que nos aguardavam.
Nesta primeira fase da prova foram percorridos 9 kms até chegar ao alto da Serra por trilhos e estradões, aqui e ali iam aparecendo pequenos ribeiros e nascentes de água pura, a encosta e o arvoredo adiaram até quase ao cimo da serra o aparecimento do sol, ali no alto estava o 1º abastecimento e o apoio entusiasta do Carlos Natividade, um dos duros do Trail e grande apoiante da organização desta prova, entrávamos então logo de seguida num longo planalto com paisagens fantásticas onde a liberdade permitia a pastagem livre dos animais sob o olhar discreto do pastor que incrédulo me perguntava o que é que andávamos por ali a fazer! Mais à frente aparece a Aldeia dos Cabreiros, ali os atletas da prova de elite de 100 kms que partiram connosco separam-se na
direcção da esquerda a caminho do trilho tradicional de anos anteriores, eu fui para o lado direito com o sentido já todo centrado na escalada da "Besta" a escassos kms, mas antes de partir aproveitei bem uma nascente de água natural que  ali corria para um tanque, refresquei-me e bebi, revigorando a frescura contrariando, ainda que por pouco tempo, os malefícios que o sol já provocava. Seguimos até Candal a povoação antes de chegar à Besta, em 2 kms chegámos à sua base e de imediato inicio a subida, no ano anterior tinha levado 2h para percorrer aquele km (1) de escalada até a mais de mil metros de altitude devido a câmbrias nas duas pernas, desta vez já ia precavido, bebi uma ampola de magnésio e alimentei-me bem. Mas ali não há milagres, olha-se para cima e só se vêm rochas e pedregulhos em cima uns dos outros, pé ante pé vamos subindo muito devagar, depois a inclinação entra quase na vertical, o arvoredo auxilia-nos refrescando e protegendo do sol escaldante, a partir do meio
começa a aparecer água corrente de nascente e bem fresquinha que aproveito quase a cada passo que dou, o piso rochoso com a água fica mais perigoso e é preciso redobrar a atenção, uma queda ali seria de consequências desastrosas, vou sozinho e a visibilidade para trás e para a frente é escassa e não ultrapassa na melhor das hipóteses os 50 metros, não ouço barulho a não ser de garças ou águias ali já bem perto do alto, finalmente ao fim de 1,12h chego ao alto do planalto que como os demais se encontra "plantado" de mais uma cadeia gigante de eólicas, o calor era forte e a brisa quase nula, sento-me um pouco aproveitando um sombra e

uma pedra mesmo à medida, tiro as meias e limpo os sapatos, venho já todo picado da bicharada, moscas, moscardos e outros insectos que ali sobrevivem à custa dos animais que por ali pastoreiam.

Vencida a Besta o passo seguinte é Manhouce, praticamente sempre a descer mas o piso é manhoso e traiçoeiro, muita pedra e ainda por cima solta em descidas muito acentuadas onde o risco de queda é iminente, o sol aqui castiga mais, não existe uma sombra e o mato é muito rasteiro, ao fundo da descida encontro antes da Aldeia do Muro mais uma nascente com um pequeno caudal onde colocaram um tubo concentrando a saída de água, atesto o camelbeck de água fresca e volto a refrescar-me molhando tudo quanto era sítio, de momento era o possível para fazer frente ao imenso calor existente. Com 8 horas de provas e 34 kms percorridos chego a Manhouce onde existia mais um abastecimento, era o 3º, ali descansei um pouco e tentei comer o mais possível, apenas consegui
ingerir tomate com sal, melancia, batata frita e pouco mais, agradeci o apoio e parti, faltavam mais 30 kms e muita dureza pela frente, tento trazer ainda comigo o amigo Sá mas ele recusa pois já tinha tomado a decisão de desistir, por isso continuei a minha caminhada sozinho mas assim que entro de novo no arvoredo em plena serra passado que foi mais um km e devido ao calor começo a ter muitas dificuldades em caminhar, subi a serra a custo e desci de novo até perto do rio Teixeira e por ali ando até que começo a subir de novo em direcção à Lomba, a povoação que me viu desistir o ano passado quando iam decorridos 60 kms de prova. Encontro já perto da Aldeia um rio e não me faço de rogado e vou lá para dentro refrescar-me, tinha sido muito doloroso chegar ali devido à "marretada" aos 35kms, estava agora nos 40 e a escassos 2 da Lomba, saio dali já bem fresquinho e os músculos a obedecerem melhor ao que era preciso, a escassos 500 metros da lomba novo rio com espaço para mergulho e cascatas, água límpida e cristalina e de
novo me enterro nela, todos estes gestos foram feitos pelos atletas que me antecederam e também os que me seguiam, creio que os atletas de elite que passaram mais tarde e de noite não se atreveram a tal luxo já que a noite ali é bem fresca e não convida a banhos inesperados. No abastecimento da Lomba aproveito para descansar mais um pouco, ali havia sopa e deitei abaixo duas tigelas cheias, a subida que se seguia era tremenda, íamos de novo até aos 1000 metros com 3,5 kms de subida bem acentuada, aproveitei a saída de 3 atletas e segui com eles, olhar lá para cima assustava por isso fomos progredindo com paciência e sempre

concentrados no trilho muito irregular, uma queda ali seria muito mau, uma barreira de assustar que nos acompanhava no nosso lado direito obrigava à máxima atenção. Ao contrário do que já estava para trás ali já eu tinha companhia, mais à frente mais dois amigos descansavam e eu aproveitei para fazer o mesmo, retenho o nome de António Pinheiro antes e depois o Pedro Portugal que não mais me largou até que cortámos a meta em Arouca. 

Após passarmos a Castanheira, local onde em 2012 fui "barrado" a escassos 5 kms da chegada devido ao nevoeiro, descansámos um pouco junto a mais um ribeiro, foi nesta altura que o 1º atleta da prova de elite passou por nós, até ao final passariam mais 3, isto é, já tinham mais 35 kms nas pernas do que nós e saíramos à mesma hora.Antes de chegar ao Merujal pude contemplar finalmente de outro ângulo a majestosa subida do PR7, impressionante, foi aquele pedaço de trilho
infernal que me levou à Freita todos estes anos para o conquistar, estava agora ali na montanha oposta a torneá-la já que o mestre Moutinho decidiu prescindir, e bem, dela em favor dos atletas de elite que na sua maioria passariam ali de noite e com possibilidades de o nevoeiro voltar a aparecer. 
Chego ao Parque de Campismo do Merujal pelo mesmo caminho terminal das edições anteriores da Ultra da Freita, o tal caminho que sempre sonhei um dia cruzar e acabar ali na meta junto à cabana de pedra, não era assim desta vez que eu queria ali chegar, fui de pronto para o abastecimento centrado dentro do Parque partindo pouco depois para os 12 kms finais até Arouca sempre na companhia
do amigo Pedro Portugal a quem agradeço a força e motivação permanente durante o tempo que permaneceu comigo.
Percorremos mais 3 kms no planalto a cerca de mil metros de altitude até chegar de novo ás eólicas, finalmente o tempo fresco estava a voltar, a descida para Arouca de cerca de 9 kms foi lenta, a noite e os trilhos e estradões muito irregulares e bastante pedra solta metiam respeito e não dava hipóteses de correr, as forças também já eram poucas e os meus pobres joelhos á muito que já pediam descanso, e finalmente a chegada com 16,19,15h, tempo oficial, percorrera 62,820 kms registados no meu Garmin.
Gostei muito da recepção à chegada, dos muitos amigos que por ali estavam destaco 2 pela ajuda e apoio que sempre me deram nesta minha já longa odisseia na Serra da Freita, a Flor Madureira e o José Moutinho.
Ao José Moutinho direi que fiquei desiludido por deixar para trás o coração da Freita, pessoalmente preferia fazer a Ultra pelo mesmo percurso de elite até à Póvoa das leiras e depois regressar a Arouca pelo Candal, dá mais kms? claro que dá mas sempre se pode arranjar por ali um arranjinho e encurtar um pouco... se não apenas me resta seguir o rasto dos campeões de elite e ver até onde dá!