sábado, 27 de dezembro de 2014

5ª S. Silvestre Pirata noturna na mata de Monsanto em Lisboa em 26/12/2014

Graças ao empenho e dedicação dos amigos, Paulo Pires, Boleto, Orlando Duarte, Manuela, Parro e tantos outros que estiveram na 1ª linha foi possível organizar de novo mais uma edição de S. Silvestre Pirata nas matas de Monsanto cujo objectivo é reunir os amigos e em conjunto festejar o final de mais um ano nas nossas vidas. A corrida é sempre o pretexto para a reunião, foi a 5ª edição e a todas elas eu estive presente, a organização pirata aproxima-se da perfeição em
organização de uma outra prova qualquer das mais consagradas, inscrições via Internet gratuitas (no local apela-se a uma dádiva de 1€ para pagamento do caldo verde e um contributo para a ajuda das despesas da Colectividade que nos acolhe. Depois é a reunião da foto antes da partida para a galeria das S.Silvestres da nossa história, desta vez ouve a separação dos piratas dos 17kms e dos 10 kms, creio que foi uma evolução positiva, os inscritos eram
mais de 400 e a confusão foi evitada separando desta forma os afoitos  desta paródia. 

Monsanto à noite mais uma vez ficou pejada de pirilampos, os 17 e os 10 kms permitiram esticar os kms de floresta engalanada com as luzes dos frontais dando uma beleza rara a este pulmão da Cidade muito carenciado de quem o abrace, felizmente que este punhado de amigos mantêm a nobre vocação de ali nos reunir abrindo também desta
forma a possibilidade de cada um contribuir com um gesto de solidariedade para com aqueles que mais necessidades têm e que possam nesta quadra festiva serem lembrados e apoiados.
Sem pressas de andar no tempo que vem, conto continuar a ir sempre que a piratagem decida reunir, o êxito de mais esta iniciativa deixa boas indicações para os anos seguintes e os amigos que vieram pela 1ª vez são o garante que esta porta continuará
aberta para que todos possam via a engrossar estes movimentos espontâneos que nasceram de uma vontade colectiva muito abrangente.
Obrigado aos piratas/mor pela diversão e pelo que nos ofereceram sem exigir nada em troca.

O NOSSO VASSOURA, LUÍS PARRO, FOI IMPECÁVEL NA BUSCA DOS SINAIS LUMINOSOS, (COM A "HUMIDADE" MUITOS CAÍRAM ), E ASSIM CONSEGUIMOS DAR COM O CAMINHO DE REGRESSO, ATÉ AQUI A PIRATAGEM ESTÁ A EVOLUIR.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Ultra Trail de Barrancos 29/11/2014


Barrancos era de facto um mistério para mim, conhecia a luta pela morte dos touros, figuras públicas como o Paulo Guerra, o José Maria e mais recentemente o nosso ilustre amigo Francisco Bossa, Este Ultra Trail ali realizado era uma oportunidade que não podia perder de por lá poder passar, sim porque para se ir a Barrancos tem de se ter um motivo, pelo menos, forte. Vinha de uma prova muito dura dos Amigos da Montanha na semana anterior onde pus à prova as minhas reais capacidades físicas de momento durante aqueles 63 kms e quase 12 horas de duração, superada esta sem mazelas de maior entrou no cone de imediato Barrancos, em 2013 falhara esta prova exactamente por causa daquela mas desta vez tudo teria de mudar, devidamente acompanhado pelo meu genro Vitor Pinto, que me acompanhou também a Barcelos cedo decidimos avançar para Barrancos, à condição gentilmente cedida pelo Ico, inscrevemo-nos na semana anterior. Para mim
seria um desafio enorme porque nunca tinha feito duas corridas de 60 kms cada no espaço de uma semana, mas estava determinado, queria conhecer Barrancos e estar junto dos amigos, em especial do Ico Bossa por quem tenho muita estima e admiração.
Durante a viagem até Barrancos, por estradas nacionais por ser mais em conta e por se ficar com um melhor conhecimento dos sítios nunca antes visitados, fomos observando ainda a partir de determinada altura o grande deserto em que está transformado uma boa parte alentejana, agricultura é quase nula, não sei se é da época, o que vi foi muito sobreiro, azinheiras, oliveiras, videiras e alguns animais pastando, estradas mais ou menos bem arranjadas e uma paisagem, apesar de desolação, muito bonita, creio que isto é a realidade alentejana e um pouco da realidade do nosso país, lamentavelmente!
Mas Barrancos é outra coisa, surpreende quem por lá passa, a vida e o dia a dia das pessoas não se vê, tem de se por lá demorar para começar a entender aquilo, pessoas afáveis e carregados de simpatia, mal entrámos em Barrancos e logo nos deram como referência para encontrar o nosso destino a famosa praça dos touros de morte, como aquilo não é pequeno foi o cabo dos trabalhos, rua acima rua abaixo e tivemos de voltar à Rotunda inicial sem conhecer
a famosa praça. à noite a vida transforma-se como que por magia, o sossego dos mais idosos a contrastar com a irreverência e o espírito divertido da juventude, assim chamada. Para felicidade nossa a juventude de Barrancos, e eram tantos, juntou-se na noite de Sábado no mesmo local onde jantámos para comemorar a ida ás sortes de 2 dos seus, é uma tradição e uma das coisas mais bonitas a que assisti, cantou-se e bebeu-se, nós apesar de muito cansados da dura luta que travámos durante o dia para vencer aquele obstáculo de 56 kms, entrámos na festa e fomos brindados com cânticos alusivos ao evento, que rapaziada simpática que se exprimiram assim dando corpo e sentido a uma tradição bem enraizada pelas gentes mais antigas. Dali regressámos a casa, de peito feito e extasiados pela juventude de Barrancos, uma Vila assim só se pode orgulhar por ter uma chama acesa a fluir para o futuro com uma juventude desta qualidade, bem hajam.
Quase que passava por cima  daquilo que me trouxera a Barrancos, o Trail e Ultra Trail de Barrancos, provas que prometiam as maiores dificuldades para os atletas, era o mau tempo dos dias anteriores e os sucessivos avisos (meio a sério meio a brincar do Ico), confesso que foi coisa que não me preocupou muito, aliás sempre tenho dito que gosto de correr à chuva mesmo que isso implique haver muita água e lama no caminho. Pior foi mesmo levantar-me ás 6h da
manhã para partir ás 9h de Espanha em Encinazola e voltar a Barrancos ao fim de 20 kms para abastecer quando a escassos 500 metros, ou menos, está a fronteira que divide os 2 países. Em resultado disto e devido ao elevado caudal dos rios o tempo de controlo foi reduzido em uma hora, de 7 para 6 horas (eliminação), entrei em parafuso, tinha passado uma forte provação em Barcelos na semana anterior para passar o Rio Cávado aos 52kms e agora estava com o mesmo dilema, com a agravante de ainda sentir os efeitos de então. Mais tarde tivemos a prova da justeza da medida quando chegámos à hora da verdade junto ao rio nas suas margens. Creio que seria acertado e a exemplo do ano anterior, (salvaguardando os compromissos fronteiriços com a comunidade espanhola), começar e terminar a prova em Barrancos permitindo assim começar a corrida uma ou duas horas antes
criando-se assim condições para que todos, ou quase, terminassem a Trail ainda de dia aliviando um pouco a pressão sobre a eliminação como aconteceu com alguns atletas nesta edição.
Em Encinasola, terra fronteiriça com Barrancos, poucos deram pela nossa presença, para isso muito contribuiu o local escolhido para a partida, é uma terra pequena é certo mas a população local ignorou a nossa presença, apenas fomos recebidos por duas ou três mulheres que estavam no mercado a dar café, ou vender? a quem chegava, talvez por ter pouca freguesia depressa foram embora dali.
Estava ali com vários amigos do meu Clube (Amigos do Vale do Silêncio) uns para a Ultra e outros para o Trail com partidas separadas de 15 minutos. 
Face ao "corte" de uma hora só tinha uma solução, partir e aproveitar aqueles kms iniciais que desciam por estradões carregados de pedras e pedrinhas, muita lama e rochas escorregadias, era correr e procurar andar o mais rápido possível onde não me era permitido mais do que isso, não queria morrer na praia dos 34 kms e por isso tinha de fazer pela vida, as brutais paredes que tivemos de escalar (não sei se no país vizinho ou no nosso) começaram a preocupar-me, se houvesse mais daquilo a coisa podia complicar-se. É no final da 2ª parede aos 10 kms que sou "apanhado" pelo meu genro Vitor Pinto que partira 15m depois, a partir dali até Barrancos o percurso tornou-se bastante acessível com muita subida e descida acompanhado quase sempre de muita lama e pequenos cursos de água rodeados de mato e bastante arvoredo. Aos 18 kms separam-se os atletas
das duas provas, aos 20 estava no centro (bem no alto) de Barrancos a abastecer para voltar de novo ao campo e percorrer os 40 kms que ainda faltavam, psicologicamente aquilo não é bom para muita gente, talvez na aba da Vila fosse mais indicado mas provavelmente foi ali que o Ico começou a mostrar a sua tendência de complicar a nossa vida face à ausência de alta montanha no Alentejo (salvo raras excepções). Perto dos 25 kms 2 Amigos do nosso grupo chegam-se a mim, o Fernando Silva e o Juca Jacob, assim mesmo, e juntos partimos decididos à procura do posto de controlo dos 34 kms, era suposto estar aos 33, e aí começámos a recear o pior, tínhamos 5,15h e receámos que este controlo estivesse mais longe do que pensávamos, mas não, para enorme satisfação ali estava ele exactamente aos 34 kms e 5,30h, valera bem a pena pelo esforço despendido para ali chegar, voltava a sentir a ansiedade a abalar por superar mais esta barreira,
agora era comer e beber e descansar um pouco, combinámos 10 minutos de paragem e um pacto de não agressão durante a próxima hora, era andar enquanto fazíamos a digestão, contudo pré-estabelecemos um ritmo próximo dos 5,5kms por hora mesmo a andar. Foi assim que chagámos ao Castelo de Noudar, uma pérola local mas que nos passou ao lado, isto é, nós é que passámos ao lado dele e não sei porque razão não tivemos a oportunidade de o percorrer no seu interior, depois lá bem no alto uma vista surpreendente e espectacular sobre o rio que serpenteava no vale cujo leito bem forte de água banhava as margens ali mesmo junto aos nossos pés, é ali no meio de obstáculos muito difíceis de ultrapassar que encontrámos o Ico, percebe-se agora as suas preocupações com a noite e a perigosidade daquele local, por isso ele estava ali, podia vê-lo e não valorizar a sua presença, mas a sua dedicação e preocupação não o deixou estar noutro local senão ali ao pé de
nós, podia até estar na meta e esperar os atletas de forma cómoda mas merecedora pelo seu empenho e trabalho ao longo de tanto tempo, mas não, num dos locais mais agressivos lá estava, dei-lhe um abraço e segui com o meu grupo com ele a acompanhar-nos durante algum tempo, depois deixou-se ficar para trás aos poucos. Pouco depois as luzes dos frontais substituem a luz do dia, as forças para correr já faltam, aproveitamos a parte plana e as descidas para nos aproximarmos o mais possível da meta, já prefiro só as subidas mas tenho de correr atrás dos meus colegas para não ficar sozinho, é assim que chegámos ao abastecimento dos 51 kms, viro mais duas sopas, abasteço água e abalamos, aproxima-se agora mais uma enorme subida, é agora que transparece as dificuldades que já sentimos, Barrancos à vista dá-nos outro alento, alento este que se vai desvanecendo, subimos, descemos, voltamos a subir e perdemos Barrancos de vista, ainda
faltavam kms mas aquela referência fazia-nos falta (lembrei-me de Portalegre na 1ª edição e aqueles 10 kms infernais), seguimos agora pelo meio de um eucaliptal a meia encosta e de repente o corta-fogo, talvez esteja ali a razão do Ico ficar para trás, ele não se atreveria a ficar connosco até ali, iria ser um problema, quero acreditar que ele não fez aquilo por maldade, talvez houvesse por ali umas cercas a isolar as propriedades que não nos deixaram outra hipótese senão subir aquilo, não me lembro de subir coisa assim em plano inclinado, mas como era para acabar virámos mesmo à direita quando o João Campos (companheiro de quase toda a jornada)  já seguia bem lá no alto dando-nos em plena noite um plano daquilo que nos esperava. Dali até à meta e desde que a noite chegou a nossa corrida foi caminhar, mesmo assim conseguimos terminar num tempo que considero para mim excepcional dadas as dificuldades encontradas (10,28h para 56 kms) e os efeitos retardatários dos Amigos da Montanha. A festa da chegada e o ambiente
criado à volta dos atletas que iam chegando enche-nos o peito de satisfação e um bocadinho de vaidade interna, Obrigado à organização do Mundo da Corrida e todos os que estavam espalhados ao longo do percurso a apoiar-nos, e um abraço fraterno ao Ico pelo grande trabalho efectuado e pela forma sempre simpática como nos recebeu na sua terra.
Aos meus companheiros de viagem e de prova aquele abraço.