quinta-feira, 22 de maio de 2014

Ultra Trail de S. Mamede

É verdade, voltei a S. Mamede, Portalegre com o intuito de terminar aquilo que iniciei em 2013 e não fui capaz de terminar, o Ultra Trail de 100 kms de distância. Pese embora o facto de em 2012 ter completado a prova ficaria sempre um amargo na memória se isto não seria obra do acaso ou fruto de um qualquer voluntarismo excessivo que permitira chegar nesse ano à meta. Por via das dúvidas decidira voltar a 3ª vez consecutiva decidido a completar a prova e deste modo terminar um ciclo a que me propus durante estes 3 últimos anos, totalizando quase 300 kms em 53 horas com uma desistência pelo meio.
Desta vez estava ciente das dificuldades que iria ter pela frente, não tanto como pensava, mas num circuito como aquele é de esperar sempre o pior, as alterações introduzidas, pelos menos 5, vieram causar imensos problemas a muita gente pelo grau de dificuldade encontrado, principalmente aos menos experientes e estreantes nesta distância. Para os repetentes, como é o meu caso, estas alterações são sempre bem vindas, mesmo que mais duras, porque se assim não fosse todo o percurso seria previsível e consequentemente muito monótono. Ainda assim...
A noite estava espectacular para a prova, fresca e pouco vento, o Luar estava meio envergonhado não ajudando em nada a encontrar o local onde pôr os pés, à partida perto de 700 atletas ou participantes como era o meu caso. Em ambiente de grande festa partimos à Meia-noite, eu tinha a noção que só voltaria ali à meia noite do dia seguinte, iriam ser muitas horas a correr e a andar. não dormira qualquer hora neste dia e o corpo mesmo antes de começar já dava sinais de alguma moleza. Tudo se esquece quando a organização nos manda embora e ir à nossa vida, a concentração está agora no máximo, já que partiram todos sonham em chegar, a esmagadora maioria leva como único objectivo fazer a aventura da sua vida e chegar em condições de se orgulhar dos seus feitos e superação e ainda poder depois contar a sua odisseia.
Logo no início da prova a organização tentou arranjar uma alteração ao percurso de anos anteriores para permitir um fluxo maior aos atletas na fase inicial, penso que foi um objectivo falhado já que as filas ficaram enormes e andar era muito penoso com tanto tempo de espera para se dar um passo, mais à frente nova dificuldade no rio pelas mesmas razões. Logo que retomámos o caminho normal não existiram mais problemas de entupimento de atletas, sendo atingido o 1º e 2º abastecimento sem mais constrangimentos. Aqui em Alegrete (17kms)começam os meus problemas de barriga, aproveitei as instalações ali existentes e tentei comer alguma coisa, o estômago começava também a ter a sua autonomia e a dizer que tivesse cuidado com o que metia lá para dentro, empurrei a banana, uns pedaços de bolo regional e marmelada e parti à conquista do alto da Serra de S. Mamede, eram agora 13 kms e quase sempre a subir, mas a 2ª alteração ao
percurso estava ali em plena ascensão, do meio da serra para cima aquilo tornou-se brutal, vi um amigo em grandes dificuldades que seguia à minha frente, o filho acompanhava-o, no alto este informa-me que o pai desistira após a 1ª leva de dificuldade, à 2ª já não estava em condições e ficou ali. Subi sempre motivado, os bastões davam-me bastante energia através dos braços e ia sempre ultrapassando outros participantes mas era notório que o cansaço se ia acumulando, quando se chega ao alto e logo a seguir encontro o 3º abastecimento é um grande alívio, era uma confusão enorme, as tendas tinham muita gente, já por ali havia muitos desistentes que ocupavam quase todos os espaços, procurei uma cadeira para me sentar um pouco e não havia, os meus pés já ardiam e necessitava de me descalçar e descansar um pouco, um atleta adormece ali com um café entre mãos, já não o deixam seguir, um colega da minha equipa estava ali em grandes dificuldades
deitado na tenda mas eu não sabia, acabaria por desistir, o Carlos Coelho chega entretanto e informa-me que fica por ali, acarinhei-o com nome que não gostou, fui insensível e magoei-o, peço desculpa pá!!! Mesmo em dificuldades vou à mesa e tento comer um pedaço de banana, não consigo, o mesmo acontece com os outros alimentos e começo a ficar preocupado pois faltavam ainda 70 kms e o organismo não iria resistir. Atesto de água e parto, o dia estava a amanhecer e pouco depois desligo o frontal, dali até ao km 40 é quase sempre a descer por um novo percurso idealizado até ao km 50, aproveito para correr um pouco, o sol começa a castigar o vento era quase nulo, com o estômago sem nada dentro a desidratação instala-se, ingerir a água só aos pequenos goles e a boca de 5 em 5 minutos secava, esta foi uma constante ao longo dos kms que faltavam até à meta, os desvios "técnicos" à mata eram mais frequentes, contei 7, mas pouco efeito fazia. Aos 40 kms (PAC4) sento-me um pouco mas nada ingeri de alimentos, apenas água e pouco depois parti rumo a nova escalada montanhosa, o alto da montanha estava a 970 metros de altitude, vários kms sempre a subir, no alto percorremos o planalto durante alguns momentos em território espanhol, até pensei que a ida
a Espanha seria por algum motivo de cortesia por sermos visinhos, mas não, nem vivalma. Tem razão de ser o ditado "de Espanha nem bons ventos nem bons casamentos" mas que a vista ali do alto para o lado espanhol era bonito lá isso era. O sol ia apertando de intensidade e raramente se apanhava uma sombra para protecção, a descida até ao PAC5) permitiu que corresse mais um pouco mas os pés continuavam o seu processo de degradação. Neste abastecimento nada de novo, mudo a água por estar muito quente e sigo para Marvão, estava ali por perto mas as voltinhas que tínhamos de dar totalizavam mais 11 kms. Corria agora sozinho, aliás nunca tive um sólido companheiro durante toda a prova, apenas de ocasião, e foi assim que iniciei a subida a Marvão debaixo já de um sol tórrido, a calçada inicial vai aos poucos dando lugar a uma inclinação brutal a caminho da entrada no Castelo, quase no topo existe uma fonte de água de nascente, parei um bom bocado e molhei tudo o que era sítio, bebi e abasteci apesar de lá dizer que a água não era controlada, (acho estranho, mas pronto!) Até entrar na porta do ladrão foi um autêntico suplício com aquela subida final a dar cabo do resto. Chego ao PAC6 com 12 h e pouco mas pouco
convicto que iria conseguir chegar à meta dentro de um tempo que considerara razoável, mas isso agora pouco importava, depois de chegar vou directamente buscar a muda de roupa que lá tinha e desfaço-me de tudo o que levava, deito-me no chão frio da sala em cima de uma toalha a recuperar as forças que perdera naquela subida final, estava também muito frágil por  não conseguir alimentar-me, tinha comigo umas barras, umas passas de uva, uns amendoins com açúcar e amêndoas de cajú com sal, nada disto conseguia comer, fui recuperando aos poucos na posição de deitado, queria dormir mas não podia e questionei-me bastante se não ficaria já ali, ao fim de uma hora visto o resto do equipamento, os pés agora já pouco doem com a muda dos ténis, largo tudo o que pode fazer peso e desço à procura de comer qualquer coisa. Havia sopa e comi duas tigelas cheias que me caíram muito bem neste estômago já tão depauperado, preparo tudo e parto mas ainda
queria beber mais um copo de água e bebi, valia mais que tivesse batido com a cabeça num toro qualquer, mal a água entrou em contacto com a sopa esta saíu logo em repelão boca fora, inconscientemente fizera asneira e a única comida que conseguira ingerir até ali estava agora no bidon, sentei-me de novo para recuperar da ansiedade e começo a sentir-me muito bem, limpara o estômago e agora estava em condições de comer mais alguma coisa, fui de novo à sopa e esta aguentou-se lá mas tive de abster-me de beber água durante algum tempo.A partir de Marvão acabara-se para mim a corrida, saíra de lá com 13,45h de prova, tinha agora 10 horas para fazer 40 kms até chegar à meta, na descida de Marvão pela estrada medieval sentia a parte muscular superior a ficar fragilizada e não quis arriscar, era possível mesmo num andamento mais rápido fazer 5 kms por cada hora ficando ainda algum tempo para curtas paragens em locais sagrados para mim, ribeiros,
charcos corrente e nascentes. Depois de passar pelo PAC7 (70kms) onde outro colega da minha equipa tinha posto fim à sua odisseia por problemas nos pés, segui para a etapa seguinte em Castelo de Vide, o sol continuava a não dar tréguas, a subida em pedra torturava ainda mais os pés, onde havia animais a pastar sabia que havia pequenos ribeiros de água de nascente, parava, refrescava e bebia, agora só ansiava que o sol descesse um pouco, até à Capela da Penha somos protegidos pelas sombras das árvores tornando mais fácil a progressão até lá. Chegara finalmente ao ponto mais distante da meta, 80 kms já estavam para trás e estava mais certo de ir conseguir chegar apesar das dores nos pés serem muitas e o estômago continuar com graves problema, neste PAC8 apenas bebo coca-cola, experimento e o estômago aceita, bebo mais 2 copos daquilo e fico à espera de alguma reacção negativa, mas não, aguentou-se. Depois de uns 15m de descanso parto para a etapa mais longa de 13 kms até ao próximo posto de controlo. Tinha os meus filhos em contacto comigo que por sua vez iam acompanhando a prova via Internet, tenho de lhes agradecer porque foi uma ajuda importante, assim soube sempre o que tinha pela frente, o Rui Pacheco , também dos A.V.Silêncio depois de conseguir o seu 4º lugar na corrida também me liga
Gentilmente oferecido pelo Rui Pacheco ( O seu 4º lugar)
e informa-me que aquele trajecto final também tinha sido alterado, mas quando lá passei vi que esta alteração veio de facto valorizar ainda mais a prova tirando-a da várzea e das estradas de alcatrão. Em contrapartida ficou mais difícil mas com muitas linhas de água tão do meu agrado. A noite foi apanhar-me perto do km 90, paro e sento-me para tirar o frontal e colocá-lo, vêm ali perto alguns atletas que passam por mim mas um deles pára a olhar para mim, pergunto se era o vassoura e ele responde que sim, levei as mãos à cabeça e sinto que acabara o meu sossego. Rapidamente apanhamos os outros que seguiam à nossa frente, com uma passada forte sigo para a frente descendo agora para o Convento onde estava instalado o PAC9, fora aqui que eu desistira o ano passado mas este ano estava determinado em prosseguir mas sabia que ainda ia encontrar um osso duro de roer com a passagem na Ermida cuja escadaria possui mais de 270 degraus. A Coca-coça
Rui Pacheco
continuou a ser a única ingestão que o organismo consentia, quer no Convento quer na Ermida. Na Ermida ainda alcancei mais atletas bem como no caminho até à meta. 00,40h estava a entrar na pista, muito debilitado ensaiei uma corrida ao iniciar a volta, mas pouco depois estava de novo a andar, o José Sousa veio a correr ter comigo e a meu lado incentivou-me a correr até à meta e assim fiz. Estava concluída, vou até ao sintético e deito-me, seria melhor que aquilo fosse relva mas depressa me levanto, o José o Miguel e a Yolanda levam-me rapidamente dali para um banho retemperador, depois descansar em solo duro no Pavilhão escolar, comi uma maçã e de imediato para dentro saco, até de madrugada. Nada tenho a reclamar, as marcações estavam impecáveis e pequenos enganos verificados são normais, gente muito simpática que encontrando, parabéns pelo sucesso na informação que disponibilizaram em cima do acontecimento permitindo que a família mais chegada estivesse sempre perto de nós. A toda a organização um muito obrigada. 

terça-feira, 13 de maio de 2014

II Trilhos das Lampas 10 Maio 2014


Os Trilhos das Lampas vieram provar mais uma vez que na Região de Lisboa também se pode realizar excelentes provas na variante de Trail. Participei na 1ª Edição e também no treino de adaptação ao terreno nesta 2ª Edição realizado no dia 23 de Março: Treino trilhos das lampas.  Este treino veio antecipar aquilo que já se esperava irmos encontrar no passado dia 10 de Maio, uma grande realização de uma equipa que ainda anda a tentar encontrar os passos certos para que sejam eliminados pequenos erros que se notam por serem precisamente pequenos. Os Trilhos das Lampas vieram na altura e
hora certa tendo em conta os meus objectivos para a Ultra de S. Mamede em Portalegre, tive ainda a sorte de ter a companhia do Alexandre Duarte nesta prova, grande amigo e companheiro que tive a felicidade de conhecer mais de perto também num treino nocturno realizado há 2 anos em S. João da Lampas em homenagem à Meia Maratona com o mesmo nome e da responsabilidade do Fernando Andrade. Nada vou acrescentar ao que já li em torno desta prova, para mim ela foi mais um hino à nossa liberdade de podermos correr e desfrutar de um sítio extremamente bonito e acolhedor, bonito pelos campos e arribas percorridos
e acolhedor pela simpatia e apoio dispensados a todos pelos colaboradores espalhados ao longo de todo o percurso. Tirei o melhor aproveitamento possível para o que pretendia, nem as diversas entorses que tive, uma delas mais a sério, me amedrontaram ao pequeno teste a que me propuz. Passados 2 dias e estou de volta aos treinos e sem mazelas aguardando com alguma ansiedade responsável pela próxima sexta-feira.

Voltarei sempre que seja convocado, é uma forma pessoalmente de agradecimento pelo grande empenho que o Fernando e a sua equipa de trabalho põe naquilo que faz
para receber os amigos, o seu empenho é também o nosso e só assim conseguiremos chegar senão à perfeição pelo menos a níveis razoáveis a roçar o melhor que sempre ambicionamos.
Classificações

terça-feira, 6 de maio de 2014

Ultra Trail de Sesimbra 3 de Maio 2014

O Ultra Trail de Sesimbra realizado no dia 3 de Maio fazia parte activa da minha aproximação aos 100 kms de Portalegre a realizar dia 17 de Maio próximo, fazia e fez, embora tivesse de lá saído bastante maltratado devido ao excessivo calor e provavelmente mal equipado no que diz respeito ao calçado. Tiramos sempre bastantes ensinamentos em provas deste tipo para enfrentar distâncias superiores, é o caso, mas ficamos também com muitas dúvidas quando nos surge algo inesperado quando temos tão pouco tempo de intervalo e tentar ainda corrigir o que está mal...
O local onde funcionou o Secretariado este ano foi mudado, esse facto atormentou-me a mim e a muitos dos participantes, nem se pode dizer que cheguei tarde (7,15h) mas só ás 7,55h é que consegui obter o dorsal, ainda lá ficaram muitos atletas à espera de também receberem os seus, dali até ao local da concentração foi uma correria para chegar a tempo da ordem de partida, felizmente o Director da prova estava informado e atrasou ligeiramente a saída dos atletas. Claro que a responsabilidade cabe-me por inteiro, o problema é que conheço mal Sesimbra e em consequência o nome e localização dos hotéis, mas há hora de partir ás 8 e picos estava já serenado e mais calmo, pensando apenas no que me esperava e como me iria sair de mais este empeno.
Nesta prova de Ultra tinha ainda presente o meu colega de Clube, o Rui Pacheco e o meu genro e colega de equipa Daniel Pinto que iria fazer a prova da mini de 21 kms???, foi também de grande importância no apoio ali nos momentos que antecederam a partida uma vez que sua prova era só ás 9,30h.
A organização já tinha alertado para o calor que iria estar durante todo o dia, e quando partimos os sinais do tempo quente já davam o alerta para o que aí vinha, por isso vesti uma t,shirt técnica de manga comprida para evitar as queimaduras nos braços que estavam mais expostos ao sol. 
Era a 3ª vez que ia fazer esta prova, sempre no mesmo sentido, dura mas sempre muito bonita, nem sequer me surpreendi quando verifiquei que tinham feito alterações ao percurso, pelo menos mais duas incursões arribas abaixo e acima, espectacular a 1ª mas muito perigosa a 2ª, nesta andei ao bate cu por ali abaixo já que a corda ao longo do muro apenas existia no alto e depois nada havia para nos segurar, a solução que encontrei foi passar para o lado direito do muro e aí encontrar mais consistência no chão e alguns arbustos onde se podia agarrar, assinale-se contudo que nunca estivemos em risco de algum acidente motivado pela perigosidade da descida, aliás a organização não se cansou de prevenir para os cuidados a ter naquele local, apesar da queda que ali dei e ter esfarrapado os joelhos no muro ainda me pergunto o que está ali a fazer aquele mamarracho de muro em cimento que corta a arriba de alto abaixo quando no seu interior apenas existe vegetação tal como a que existe do lado de fora, pode ser que alguém ainda me responda!
A partir dali nada se alterou em termos de percurso, com o sol a aumentar de intensidade tornava-se penoso avançar, as arribas e o arvoredo muito curto não deixavam trespassar pontinha de vento, nem o facto de andarmos 30 kms perto do mar nos trouxe qualquer melhoria em termos de frescura, levava também um boné com abas caídas atrás como protecção ao pescoço e a humidade crida pelo suor na t,shirt ajudava a manter o corpo um pouco mais fresco. Quando atingi o abastecimento junto do Farol já só tinha em pensamento as dunas que se aproximavam, elas estavam entre os kms 25 a 30, ainda me restava a esperança de fazermos aquele trajecto pela praia do Meco tal como o tínhamos feito há 2 anos, mas não, o caminho apontou-nos de novo para as dunas, o sol já estava quase a pico e com 5 horas de prova, mais abaixo víamos em quase toda a praia os banhistas a banhos de sol, sim porque podiam-se contar pelos dedos de uma mão aqueles que estavam dentro de água, para nós que nas dunas torrávamos ao sol a única coisa que queríamos era aquele fresco da água do mar, tal era o escaldão que já suportávamos. Um pouco mais à frente terminam as dunas e dá-se inicio à descida que conduz aos bares de apoio de praia, um pouco antes encontro um pequeno ribeiro que desagua para a praia e que vem do interior, refresco-me num local mais fundo e encontro um atleta sentado na berma do riacho com as pernas dentro de água e cheio de dores devido a câimbras na coxa, com ele estava o Pedro (o mesmo que tocava o Bandolim na Corrida do 1º de Maio) aproximei-me e enfiei-me dentro de água para o ajudar, nem pensei que ainda tinha os pés e sapatos cheios de areia das dunas, depois de comprimir a parte muscular ele sentiu-se melhor e seguiram os 2 pouco depois atrás de mim. O abastecimento dos 30 kms estava logo ali a seguir e creio que o rapaz acabou por desistir logo ali, se assim não foi que me desculpe pois ele estava muito queixoso e ainda faltavam mais de 20 kms para o fim.
Aproveitei para beber água e abastecer o camalbek e comer um pouco de laranja, havia por ali mais coisas para comer mas com o calor que estava nem a marmelada caía bem, tirei a areia dos sapatos e das meias mas como estavam molhados, meias e sapatos, muita areia ainda lá ficou o que se tornaria um calvário para mim a partir daquele momento. Agora percorríamos estradões e trilhos onde já se podia correr, mas as tareias das arribas e das dunas deixaram muita mossa, a agravar tudo isso a planta dos meus pés começam a ceder, a fricção é permanente as areias, as meias molhadas e o chão muito quente vão enrugando e branqueando provocando fortes dores assim que cada vez colocava os pés no chão, tentava ignorar as dores e seguia correndo sempre que o terreno era mais propício. Para piorar as coisas volto a encontrar um ribeiro em plena estrada, não havendo alternativa volto a molhar os pés e tudo piorou. Agora quase que só ando, pelas minhas contas estava quase a chegar ao km 37 onde estava novo abastecimento, o meu ritmo anda perto dos 5 kms por hora, assim sei que chegarei à meta dentro das 10h de prova. No sentido em que vinha nem me apercebia que o abastecimento estava ali, um barracão, eu ouvia pessoas e até pensei que era alguma festa, vejo uns pinos no chão e pensei até que se tratava de alguma prova de kart, olho e só tenho a certeza porque estavam lá alguns trailistas sentados e a comer. Um pouco antes de ali chegar numa das muitas vivendas que ladeavam as estradas pedi uma pouca de água a um senhor que estava no seu varandim a enviar-nos palavras de incentivo, parei agradeci e pedi a água, ali estava uma mangueira no chão e eu só queria uma pouca de água mais fresca pois a que transportava estava muito quente e só bebia o suficiente para bochechar a boca uma vez que o organismo já não tolerava sequer a água. O Senhor foi a casa e trouxe-me uma garrafa de 1,5l de água muito fresquinha que foi um encanto, parece que ganhei outra vida, despedi-me dele e da sua Senhora e abalei com outro ânimo à procura do abastecimento e posto de controlo dos 37 kms. Aqui ainda comi uma canja e arrependi-me depois de não repetir, a Ana Ciríaco ainda insistiu mas eu não comi, ali já levava mais de 8 h. de prova e ainda faltavam 15kms para percorrer. Parti de novo e pouco depois chegam mais alguns atletas, aproveito e vou com eles, ao longo da prova andei sempre com companhia por perto, nem sempre isso acontece e nesta parte final foi bom ter a companhia de alguém, no caso 3 amigos que partiram juntos e juntos queriam chegar, até que um deles começou a sentir-se indisposto e foi a altura de eu abalar percorrendo agora uns trilhos muito pedregosos e depois a descida para as pedreiras. Devido ao estado lastimoso dos pés procuro ainda assim descer a serra a correr, ao fundo já via novo abastecimento e malta amiga a incentivar, queria água fresca mas só havia água quente, a desidratação era agora mais evidente, a boca secava a cada 100 metros e não tinha sede, havia uns pedaços de laranja e umas batatas fritas mas não lhes toquei, preferi aguardar pelo abastecimento do Castelo pois lá havia mais variedade e podia ser que conseguisse comer alguma coisa. Já tinha recebido alguns telefonemas a saber por onde andava, é sempre bom a gente sentir que nos esperam e ás vezes no meio do nada sempre aparece esta mão amiga a dar-nos o alento final. Aos 49 kms chego ao Castelo, lá está o Ricardo e o Ico, ajudam-me a abastecer de água e tratam de tudo, grandes amigos que nesta hora eles bem percebem daquilo que precisamos, nem lhes vou agradecer porque sei que a sua satisfação maior foi ter ali chegado e prosseguir até lá abaixo bem juntinho ao mar. Na meta tive a grata satisfação de ver a minha filha Susana, foi surpresa para mim, mas ali estava, olhei para os lados a ver se via o pirralhito David mas nada, corto a meta e logo sou abraçado pelo Tigre a felicitar-me por conseguir fazer a prova e chegar ali, muitos amigos de todo o lado apareciam com os mesmo intuitos, aparece também o Davidezinho e começo a ficar um pouco atarantado até que me dizem para seguir e ir até ao abastecimento. Valeu-me aqui a pouca vontade de comer alguma coisa e ingerir alguns líquidos porque quando cheguei ao local de abastecimento fiquei desolado com o que vi, tinha de saltar para o areal onde estavam os géneros e líquidos, o sol batia ali com muita intensidade e nem uma sombra existia para me refugiar um pouco, praguejei sem ofender, e pedi desculpa porque de sol já eu estava farto durante todo o dia e vim embora. Depois foi o banho mesmo ali no apoio de praia, as dores eram mais que muitas nos pés, estava com força e as pernas nada de mal assinalavam, por isso eu estranhar porque é que os pés reagiram tão negativamente, teria sido só pelo facto de molhar duas vezes os pés e a acumulação de areia ao mesmo tempo provocando a fricção dando origem ao aparecimento das verrugas e bolhas? ou seria o calçado que não é apropriado para aquele piso? O que sei é que é uma incógnita e me coloca desde já em alerta para S. Mamede a apenas 11 dias de distância.
Os dados desta minha prova foram os seguintes: 51,830 kms de prova, 10,56h. para terminar, ritmo médio12,40m por km, gastos 3.214 calorias, ganho de elevação 1.599m.
Dia 10/5 à noite vêm aí os trilhos das Lampas para depois tranquilamente pensar só na Ultra de S. Mamede no dia 17 de Maio. 
    

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Corrida do 1º de Maio 2014

A Corrida do 1º de Maio foi mais uma prova enquadrada no meu calendário de corridas planeada para este ano, esta é uma prova que pelo simbolismo que representa está e estará sempre no meu horizonte de realizações, a esta juntei também a edição deste ano da Corrida da Liberdade comemorativa do 25 de Abril. Até Setembro (Festa do Avante) não voltarei à estrada, andarei pelas serras e areais, e já terei kms suficientes para me entreter.
A corrida do 1º de Maio foi um ensaio a 2 tempos, a 1ª parte mais suave até chegar ao Terreiro do Paço na companhia de um grupo de amigos e depois daí até à meta, sempre na companhia do Mário Lima forcei um pouco porque era a subir para ver até que ponto a força poderia responder àquilo que pretendia, consegui por isso o objectivo e aqui o Mário ajudou bastante, o único receio era que a prova de Ultra trail de 52 kms de Sesimbra estava a 2 dias e um treino aqui mais forte podia prejudicar aquele. 
Notou-se e foi claro que as provas de estrada têm que envolver um bom treino para o efeito, ora eu não treino estrada nem para estar preparado para essas provas, logo o ritmo é quase nulo quando me apresento lá, limitando-me apenas correr para chegar, já que o organismo em momento algum consegue acompanhar a leveza e força de pernas que posso disponibilizar limitando-me o ritmo e um melhor desempenho. 1,27h. foi o tempo que precisei para chegar e pessoalmente considero que já foi muito bom.