segunda-feira, 14 de abril de 2014

Trail de Montejunto 2014

Em Almourol
Os Trilhos de Montejunto foram um bom treino nos objectivos que tenho para Portalegre, mas não se pense que aquilo foi apenas treino, vou sempre nos meus limites mas tenho sempre de refrear quando sinto o limite a ir além do possível, a tensão arterial elevada provocada pelo esforço manifesta-se sempre que dou um "cheirinho" a mais, então nada mais que ir evoluindo até a coisa acalmar e prosseguir de novo conforme as possibilidades do momento.
Em Montejunto foi concretizada a 3ª prova em duas semanas, 31kms no Pastor, 44 em Almourol e 37,5 kms em Montejunto, tudo isto para ir fortalecendo a resistência muscular e psicológica para chegar à Ultra de S. Mamede de 100 kms em Maio próximo, +- 112 kms para um total de 20 h. consolidando assim a ideia de que nas 24h concedidas pela Organização da prova de Portalegre é possível finalizar mais uma vez a prova depois de no ano passado me ter ficado pelos 90 kms.
Montejunto 2013
Montejunto também apareceu no meu programa de provas à última da hora, mais propriamente por ser perto da minha "Terra" e enquadrar-se nas minhas necessidades de treino, mas também porque era uma Serra que desconhecia, é muito visível para quem de longe vai transitando e de vez em quando os meteorologistas a ela recorrem para detalhar o estado do tempo que se faz ou se venha a sentir.
Sobre a Organização da prova pouco sabia, apenas o que vinha descrito no seu Site, vídeos e fotos eram convidativos e por isso parti na convicção que do princípio ao fim as coisas iam correr bem.
Pragança, entranhado na parte norte da Serra era o local onde funcionava o Secretariado da Prova, não foi difícil de encontrar com a ajuda do GPS, contudo o parque de estacionamento das viaturas estava situado numa empresa ("Aviário do Pinheiro S.A.) e principal patrocinador deste evento a mais de 1 km de distância (Quinta da Senhora da Luz) , foi ali que distribuíram também os dorsais e mais tarde serviu também para o tomar o banho retemperador.
Foi a partir daqui que também fomos transportados para o local de partida em Abrigada em autocarros, esta fórmula de organização de transporte cedo se mostrou muito frágil quanto a horários a cumprir e deixar todos os atletas no local por forma a que fosse dado o tiro de partida à hora marcada (9h.), pelo atraso verificado a partida dos atletas apenas se deu meia hora depois, creio que sem prejuízo para ninguém, estava fresco e nebulado nos dois lados da Serra e só lá no alto é que o sol reinava mostrando toda a beleza ao longo de montes e vales no seu interior.
Não foram muitos os trailistas que integravam o grupo do trail longo (cerca de uma centena)  permitindo assim um fácil escoamento ao longo da serra, aliás a serra apenas foi alcançada já iam decorridos alguns kms e quando lá cheguei já estava a ser ultrapassado por alguns atletas do trail curto (22kms) que partiram alguns minutos depois de nós. A ascensão ao ponto mais alto da serra do percurso (648 metros) começou pouco depois (partiramos aos 75m de altitude), foram 3 kms de subida brutal e bem difícil mas ao mesmo tempo muito bonitos, dali das antenas dava para ver a parte os picos mais elevados de toda a serra, as partes mais baixas estavam cobertas por um manto branco de nuvens ou nevoeiro.
Dali até ao km 27 (165m de altitude) fomos descendo e subindo constantemente alguns pontos mais salientes e com algum grau de dificuldade, para trás ficavam imagens espectaculares a convidarem a uma visita com a família e desfrutar de tudo o que a Natureza nos pode oferecer. Os abastecimentos espalhados ao longo do percurso foram diversos e colocados à nossa disposição, quando por lá passava só podia contemplar a sua pobreza, ou porque chegava tarde e o recheio já tinha sido consumido ou porque era mesmo assim e então só encontrava salgados (bolacha) e fruta (pêra rocha), aqui e ali também ás vezes encontrava laranja, líquidos havia sempre com fartura e a água foi e será sempre a minha bebida favorita. Por mim até podia estar sempre e só na mesa a pêra rocha, não precisava de mais nada, para além de ser muito nutritiva é também fresca e sumarenta, o que para o caso é um precioso auxiliar para quem faz desta provas de trail a sua distracção na corrida. Como sempre vou atestado de guloseimas para as provas e só me sirvo da minha artilharia se não encontrar algo que me satisfaça, ontem tive a sorte de encontrar aquele fruto genuíno daquela região, pode até ser uma boa sugestão para inovar noutras provas, embora saiba que se trata de um fruto cuja exposição ao ar livre não pode ser retardado depois de ser cortado mais que alguns minutos antes de ser consumido, coisa que pode ser resolvido se o manterem dentro de água mais algum tempo.
O controlo e apoios durante a prova também estavam a ser excelentes, as marcações também muito eficazes, aos 12 kms dá-se a separação do trail longo do curto, ali ainda exitei um pouco pois havia fitas para lados opostos mas as placas lá existentes tiraram as dúvidas, foi altura de me separar do meu amigo Beijinha que anda a contas com um problema na anca e que não deixa fazer voos mais altos, envio-lhe daqui de novo as melhoras e que possa preparar o melhor possível a sua/nossa Corrida do Mirante.
A partir do km 27 a conversa já foi outra, o calor já apertava bastante, o arvoredo envergonhadamente ia produzindo alguma sombra, a subida até aos 550 m de altitude era toda ela muito acentuada, o trilho estreito era todo ele espectacular mas muito técnico, tal como eu gosto, mas ali os meus bastões pouco podiam ajudar, conforme ia subindo serpenteando a serra a exposição ao sol ia-se agravando, os fogos também devastaram aquela serra, de uma linha telefónica que por ali passa serra acima apenas restam os postes em cimento numa paisagem desoladora mas a querer recuperar com um verde muito colorido a envolver troncos e mato queimado.
No alto encontro novo abastecimento aos 31 kms, a água já se está a acabar, já enchera o camelbeck duas vezes e ali era a altura de renovar e atestar, paro um pouco e conversa com 3 amigos que lá estão, ao mesmo tempo vou comendo alguns pedaços de pêra e devoro uma garrafa de água, também havia laranjas e bolachas mas ignoro-as, depois parto a pensar no que ainda faltava mas tinha a noção de que o pior já tinha ficado para trás, pouco depois dou conta que me esqueci de atestar de água, apalpo e sinto que ainda lá havia alguma, fico com a esperança de encontrar dentro em breve novo abastecimento. Durante 1,5km ainda andei pelo alto da serra até que iniciei uma descida bem acentuada mas cuja dificuldade era reduzida, apesar disso a organização não descurou os avisos necessários à sua perigosidade, no final desta descida estava novo abastecimento, a pêra já tinha acabado, em alternativa tinha umas barras, comi um pedaço bebi água e meti alguma no camelbeck e segui depois de alguma conversa à mistura. Estava perto do objectivo final, a meta, mas ainda passei um bocado difícil antes de lá chegar, via ali por baixo algumas povoações mas não sabia qual delas era o meu destino, até que cheguei ao alcatrão e me disseram que era ali, onde? pergunto eu! ali aquela, estava mesmo ali mas ainda faltavam quase 3 kms, nova incursão em trilhos dentro de hortas  e entrada pela parte norte da povoação, é agora bem audível a animação com música folclórica, ao mesmo tempo era possível ouvir o spiker a anunciar os números do sorteio dos dorsais dos atletas chegados à meta, mas como é possível??? eu ainda aqui vou e tenho o mesmo direito aos prémios a sortear!!! sigo estrada acima e corto a meta, dois ou 3 aplausos e nem uma palavra de animo ou incentivo, é sempre agradável ouvir, mais à frente um senhor pede-me o dorsal, é ele que o tira e diz como que envergonhado que o sorteio já está a ser feito, mas já não vai a tempo, tinha terminado e resignei-me, ficou-me também com os alfinetes que eram meus. Na mesa estava apenas um pêra, muito pequena por sinal, perguntei se havia mais e obtive como resposta, não, não há é a última!!! No palco ali ao lado a festa continuava, conforme cheguei assim parti sem uma palavra nem incentivo por ali abaixo durante 1,5km à procura da viatura e do banho retemperador. Chego à conclusão que estamos mimados demais, estamos habituados ao calor e carinho de quem nos recebe um pouco por todo o lado, podem não dar mais nada mas isso enche-nos a alma, tudo isso faltou ali, a mim pelo menos que o senti.
Nem sei se fui classificado, nenhuma informação surge, no Site o silêncio é total.  
Não sei se voltarei, se o fizer é pela beleza da Serra de Montejunto e por ser vizinha da terra onde passei a minha infância.
Classificações

1 comentário:

Jorge Branco disse...

Não isso não é forma de receber um atleta no final de uma prova! Desconfio que os organizadores que estavam na meta nunca correm na vida se não a atitude seria outra. Quando os organizadores são corredores sabem bem dar valor ao esforço de terminar uma prova para além da prestação atlética de cada um!
Parabéns por mais uma excelente prestação e um relato maravilhoso, como de costume, e rápidas melhoras do problema da tensão alta e muito cuidado com isso.
Forte abraço.