sábado, 8 de março de 2014

Ultra trail de Sicó,

Finalmente umas palavras sobre o Ultra Trail de Sicó, até hoje andei a tentar perceber o que aconteceu comigo nesta última aventura, não o fiz há mais tempo porque quis evitar justificações esfarrapadas para as dificuldades sentidas e inesperadas. Hoje poderei ter algumas respostas que a ajudem a esclarecer-me porque é que precisei de onze horas e meia para fazer aquela prova e por ter sido o último (sem vergonha de o ser) a chegar e ainda por cima com mais uma hora e doze minutos que o antepenúltimo atleta a chegar (o penúltimo chegou comigo). Aos 10 kms de prova já parecia que tinha feito os 50 kms, imagine-se agora como é que foram transpostos os 40 que se seguiram.
A falência de forças foi abrupta e o cansaço apoderou-se sempre que ensaiava um pouco de corrida, bem sei que nos últimos 10 dias antes da prova ouve ausência total de treinos, mas mesmo assim não justificava aquele estado físico que desde o início da prova se vinha agravando, um dos rins, o esquerdo, apresentava um mal estar sempre que o pé esquerdo batia no chão, a coluna também não estava bem, tudo junto era demais mas nunca me vi a ficar pelo caminho e a solicitar evacuação para a meta desistindo da prova.
Aos 12 kms na subida ao "teleférico" tive de parar várias vezes para conseguir chegar lá acima, o ritmo cardíaco aumentava e as forças vinham por aí abaixo, daí subir com a calma necessária para poder prosseguir sem pôr em causa o objectivo final que era chegar, atrás de mim já poucos atletas restavam, o vassoura e caro amigo João Martins acompanhava já a última atleta e logo a seguir ali ia eu isolado, à frente e para trás já não via ninguém por isso ia mantendo a esperança das coisas ainda virem a melhorar para mim conforme fosse decorrendo a prova. quando comecei a descer um pouco vi logo que nem era capaz de manter um passo de corrida que permitisse recuperar algum tempo perdido nas subidas bem difíceis que tinha pela frente, corria e andava mesmo a descer. As dores nas costas desapareceram mas a fadiga mantinha-se e cada vez mais acentuada, mais à frente junto-me ao Otávio Melo, um amigo que veio dos Açores com fundadas aspirações em fazer uma excelente prova dando continuidade à sua preparação para fazer o MIUT muito brevemente, quis a pouca sorte que se lesionasse uns dias antes na zona do joelho esquerdo e como tinha tudo tratado a nível de transporte e alojamento não quis perder a oportunidade de estar presente mas a lesão agravou-se logo nos primeiros kms e manteve-se por ali nas últimas posições, até final da
prova encostámos muitas vezes, ele subia bem, a andar claro, mas descia em grande sofrimento, eu subia mal e nas descidas conseguia acompanha-lo, até que abalou perto dos 20 kms e só voltei a juntar-me aos 40 kms. Até aos 30 kms segui sozinho mas já a ver a pouca distância o vassoura e o último atleta que o acompanhava, sabia que estava por pouco a sua chegada até ao pé de mim, aqui e ali tentei correr um pouco, nomeadamente antes de chegar ao abastecimento num longo caminho de terra batida antes de chegar ao abastecimento, mas era por períodos muito curtos, definitivamente desisti de correr a partir dali. Faltavam ainda 20 kms e tinha a noção que a coisa não ia ser fácil, passados mais 2 kms e eis que o vassoura chega, vinha sozinho, a sua acompanhante decidira desistir no abastecimento e ele embalou por ali abaixo até chegar ao pé de mim, aqui e ali ainda ensaiava pequenas corridas para tornar menos monótono o nosso andamento mas o próprio percurso também não ajudava muito, ora subia ora descia e por vezes o piso também não ajudava muito. A chegada do vassoura também me tranquilizou, aliás o seu trabalho foi excelente, sem pressões nem impaciência coisa que por vezes observamos muito, ali existiu sempre muito respeito e um grande apoio com o objectivo de terminarmos sem pressas mas com segurança. No abastecimento dos 40 kms encontro de novo o Otávio, ainda era dia, vi por lá um burro aparelhado e ainda perguntei se me o alugavam mas não obtive resposta de ninguém,
abastecemos bem com o apoio daquela excelente equipa que ali estava a dar-nos apoio, louvo também todos os outros apoios, nomeadamente aqueles que para o final mais sofreram com a nossa demora e nos esperavam pese embora o imenso frio que a partir de determinada altura se agravou e muito. O último abastecimento estava a escassos 4 kms da chegada e a partir dali os bombeiros voluntários não mais nos largaram, a noite tinha caído há muito e o seu apoio foi muito importante naqueles kms finais. Creio que ao todo estiveram 4 corporações de bombeiros de concelhos diferentes, nunca vi tamanho apoio em quantidade em tantos anos que levo de trail, sei que ali e em todo o lado eles fazem o melhor que podem por nós e pela nossa segurança, desta vez pude testemunhar porque vinha a fechar a prova o cuidado que eles punham em não deixar ninguém ficar para trás sozinho ou dando indicações precisas sobre os perigos a contornar, bem hajam.
Aqueles 12 kms finais foram palmilhados quase sempre de noite, inevitavelmente encontrámos um rio seco mas muito pedregoso, mesmo com os frontais acesos foi difícil ultrapassar aquilo, as dores já eram mais que muitas, os joelhos, a planta dos pés, as virilhas, a massa muscular das coxas, as mãos que já calejadas continuam a transportar os bastões, etç. De repente vemos a vedação da escola junto ao Pavilhão, entrámos em Condeixa quase sem dar por isso, já trazíamos mais de 41 kms nas pernas, seriam perto de 43 no final, impacientemente alguns resistentes ainda esperavam por nós, muito se arrumara já, não vimos o pódio e a distribuição dos prémios, não sabíamos quem eram os vencedores, quase nada, mas a minha vitória estava ali com a minha chegada, não importava o estado deplorável em que me encontrava e estava imensamente satisfeito, os 42 kms e as 11,28h. deixaram-me como nunca tinha acontecido, mas as saudações dos resistentes recompensaram-me bem com a nossa chegada, lá estava o pessoal do Mundo da Corrida, o Orlando e esposa e também o meu genro Daniel Pinto que tinha chegado há pelo menos 3,30h. e ali estava a receber-me.
Termino com comecei: porquê tanto sacrifício e tantas dificuldades sentidas? Na Segunda feira seguinte um dos vasos sanguíneos rebentou-me no nariz (exactamente como na Geira Romana há uns anos atrás), na Terça e Quarta feira sucedeu o mesmo e à noite fui de urgência para Santa Maria, o diagnóstico veio esclarecer muita coisa que entretanto vinha acontecendo, hipertensão elevada, não só provocou a rutura nasal como também me criou e explicou todos aqueles problemas que passei em Sicó. Um pico mais elevado da tensão levou à rutura, dizem os médicos que se fosse um pouco mais acima seria o cabo dos trabalhos, escusado será dizer que todos os alertas estão agora mais vincados para que não se repita tal estado, a vigilância é permanente e o controlo do problema surgido, que não é novo, tem motivado a regularização da situação de forma a que o mais depressa
possível possa voltar à actividade e cumprir com os objectivos definidos, para já o Pastor e mais tarde S. Mamede.

2 comentários:

Maria Sem Frio Nem Casa disse...

Tenha cuidado consigo Adelino. Trate-se bem! Que o queremos continuar a ver por aí a correr por muitos e muitos anos ainda!

um beijinho

Jorge Branco disse...

Subscrevo as palavras da Ana Pereira amigo Joaquim Adelino.
Com a tensão arterial todo o cuidado é pouco!
Mas o amigo vai controlar isso e continuar a correr por muitos e bons anos.
Forte abraço.