segunda-feira, 8 de julho de 2013

Trail do Almonda, 7 de Julho de 2013

Não percebo muito bem, ou quase nada, como é que foi possível fazer provisões de que o Verão este ano não existiria ou estaria adiado lá mais para o fim do ano. Não gosto do calor e nestes dois últimos fins de semana, sem contar com os dias úteis entre eles, ele tem estado insuportável. Pergunto-me se haverá alguém que goste disto, provavelmente até haverá mas isso será por certo outra história.
Para quem como eu escolheu preencher este fim de semana, e já agora também o anterior, para correr não teve muita sorte, a Freita e agora o Trail do Almonda foram terríveis com temperaturas acima dos 40 graus positivos, Almonda chegou mesmo aos 44º!!! É verdade que estávamos avisados e a maioria precaveu-se para amenizar os seus efeitos já que eliminar os seus malefícios durante a competição é impossível. Levei o meu camelback cheio com água gelada na esperança que chegasse até ao fim, contava ainda com os muitos abastecimentos que colocaram à nossa disposição para entretanto saciar a sede de forma mais acentuada.
Na partida deste Trail do Almonda era visível algum nervosismo, mas também muito otimismo, nos rostos dos participantes que iriam fazer o Trail, o calor já era muito ás 9h. quando foi dada a partida, vi lá muitos amigos que tinham estado na Freita comigo na semana anterior, esta prova para muitos deles serviu como um desacelerar de kms e dificuldades acumuladas e por isso gostei imenso de voltar a encontra-los, entre eles estava o campeão da Freita, Luís Mota.
Como sempre faço fiz a minha corrida quase sempre a sós, gosto de correr à vontade e confortável, ás vezes a simples presença de alguém obriga-me a ficar pressionado com o desenvolvimento do meu esforço, normalmente é sempre para mais, mas sempre que é possível gosto de correr acompanhado quando os objetivos são traçados com antecedência e numa entreajuda que seja útil para todos.
O percurso foi ligeiramente alterado na primeira parte do percurso, creio que para bem melhor, e por isso deixámos de ir à nascente do Rio Almonda, acho que não se perdeu nada e evitámos aquela descida infernal logo aos 2 kms de prova onde se chegava a perder cerca de 10 minutos para os mais atrasados, desta vez corremos sempre por trilhos nesta parte inicial onde nos primeiros 12 kms as dificuldades foram mínimas. Os abastecimentos, principalmente o 1º aos 7 kms, foram excelentes onde se destacava para mim a melancia e a água, únicos mantimentos que ingeri ao longo de toda a prova.
Desde início que comecei a presenciar muitas dificuldades de alguns atletas, ainda antes dos 12 kms um atleta lutava contra a fricção nas pernas, corria arqueado, tinha escolhido um equipamento nada adequado a esta prova e com este calor, viria a desistir aos 23 kms. Antes dos 12 kms a Analice passa por mim naquele correr curto mas muito constante, dei-lhe um pouco de água fresca que gostou imenso, levava apenas uma pequena garrafa na mão. Após o abastecimento dos 12 kms inicia-se a 1ª subida à Serra D'Aire que nos levaria até aos 545m de altitude, a meio começo a ter problemas de articulação, as mãos incharam e quase não a consigo fechar, procuro esticar os dedos para ajudar a circulação e melhora um pouco, corria/andava agora a subir num trilho coberto entre arvoredo muito bonito e onde o sol conseguia mesmo assim penetrar e atingir-nos com a sua agressividade constante. O piso dos trilhos era agreste com muita pedra pequena, muitas delas soltas que dificultava a progressão, foi assim durante todo o percurso, os ténis que levei cedo mostraram que não eram os mais adequados, eram moles demais por baixo e ali quer-se um piso de sola bem rijo para amenizar os efeitos malignos nos pés e nas articulações, não levava também os bastões por avaria de um deles antes da partida e o cansaço nas pernas obrigam-me a descer até aos 17 kms com calma e devagar na companhia de um ocasional amigo que me acompanhou até ao abastecimento dos 17kms.
Aqui encontro o Mário Lima, estranhei vê-lo ali porque ele seguia muito à minha frente, abasteço e parto levando comigo o Mário, pouco depois o 1º engano, em vez de sair do estradão e entrar no trilho vou em frente, cerca de 300m, e arrasto alguns 5 comigo, na ausência de fitas voltamos atrás e reentrámos no trilho, o Mário começa aí a dar os primeiros sinais de dificuldades e fico com ele mais um pouco, dizia-me que as férias que teve foram nefastas para esta prova, em determinada altura disse-me para seguir e rapidamente perdi-o de vista, faltariam aí uns 12 kms para terminar, soube depois que desistira por problemas de desidratação, efeitos por certo do tremendo calor que se fazia sentir.
Precioso em dias de calor
Pouco depois atinjo o início da subida da Serra que nos levaria de novo ao topo no seu ponto mais elevado a 668 metros, continuava com problemas graves nas minhas mãos, junto ás articulações dos dedos os inchaços são bem visíveis, não sei se isto tem alguma coisa a ver com o calor e a desidratação ou se é mesmo problema da circulação do sangue devido a altitude, já na Freita sentira o mesmo e as condições de altura e calor eram as mesmas, volta e meia estico os dedos e a coisa melhora um pouco mas continuo com dificuldades em fechar as mãos, é com este problema que me irei debater até chegar à meta. Subo agora a caminho do abastecimento dos 23kms, aos 22 falta-me a água, o calor no planalto era tórrido e sem água temia o pior, facilitei no abastecimento anterior e pensava que tinha mais água no camelback, ia junto de mais 3 atletas e por isso ia mais tranquilo, o abastecimento aparece junto ás antenas um pouco antes de se iniciar a descida final da Serra, ali já se encontravam alguns desistentes, muitos não resistiram e no abastecimento anterior (17kms) já vira lá muitos desistentes pelas mesmas causas. Desço com muito cuidado, já tinha atestado de água e ia mais tranquilo, o trilho é muito técnico, quem chega ali com algumas forças faz a descida bem o que não era o meu caso, ia lento e quase sempre a andar, a meio sou ultrapassado por 2 atletas do meu Clube que tinham optado por fazer uma prova de contenção desde o início e seguiam agora mais decididos, ainda me tentaram levar com eles mas eu já não reunia condições para outros andamentos e fui descendo conforme podia. Aos 23kms novo abastecimento e mais desistentes à espera de serem resgatados, a partir dali apenas teria mais uma dificuldade para ultrapassar, mas o calor era demasiado e a vontade de terminar era enorme pelo que pouco depois prossegui com outro tremendo erro, não abasteci o camelback pensando que tinha ainda bastante água até chegar ao final. Um pouco antes de iniciar a subida final vejo um colega de equipa a desistir, o Fernando Silva trás de volta até ao posto de abastecimento anterior o José Moga por problemas derivados do calor e a consequente desidratação, espero pelo Fernando e seguimos os dois até à meta, a subida e depois a descida deram cabo do resto, as articulações dos joelhos e os pés também não ajudam nada, mais à frente novo engano 300 metros a acrescentar à contabilidade final, faltam 2kms para a meta e nova falta de água, valeu-me ali o Fernando que me cedeu uma garrafa pequena, o ambiente está sufocante, andamos até perto da meta e aproveitamos os últimos metros para encetar uma pequena corrida e cortar a meta já próximos da exaustão. Comi mais uns bocados de melancia e sentei-me um pouco à sombra, depois sigo e meto-me debaixo do chuveiro exterior conforme estava, tiro depois o equipamento e volto ao chuveiro precisando de cerca de meia hora para arrefecer o corpo, visto-me e vou almoçar, líquidos porque a refeição ficou lá, o estomago não aceitava quase nada a não ser líquidos mas a pouco e pouco tudo começou a normalizar, incluindo as mãos que voltaram ao normal pouco depois de chegar. Para o ano contamos ter melhor tempo e permitir desfrutar melhor esta magnífica prova.
No meu registo andei cerca de 31 kms tendo gasto 5,33,20h. depois de corrigido após a chegada.
Parabéns à organização pela excelência do apoio que nos deram indo ao ponto de colocarem um depósito de água por volta dos 26kms no alto da última subida permitindo que nos refrescássemos um pouco numa zona tão crítica para muitos, excelente.



Classificações

2 comentários:

Jorge Branco disse...

Fazer uma prova nessa condições é um acto absolutamente heróico.
Mesmo que tivesse condições para tal não sei me atreveria a correr o risco. Ainda estou a pensar no Mário Lima!
Gosto muito de desafiar os limites mas com segurança e com o calor não se brinca!
Forte abraço campeão!

Anónimo disse...

Nosso pára
não diria que não tiveram sorte, quem anda à chuva molha-se ou antes, provas no pico no verão num país abençoado pelo Sol (em alguma coisa haviamos de ser abençoados)é de esperar que tenham de ser feitas debaixo de calor...
Sabendo que de facto isso seja de esperar e querendo organizar provas nesse tal pico do verão porque não alterar a hora das mesmas.
De qualquer modo no caso do nosso "pára" e pelo que sei no caso da maioria tudo correu pelo melhor e ai também com o mérito reconhecido aos organizadores.
Boas corridas.
Abraço,
António