terça-feira, 24 de julho de 2012

Ultra Maratona da Areia Melides Tróia

Para a próxima já vai correr a meu lado
Esta edição da Ultra Maratona de Melides a Tróia ontem realizada tinha tudo para eu conseguir fazer finalmente uma prova onde não encontrasse nada de relevante a que obstasse  a que fosse bem conseguida, mas isso nós nunca vamos conseguir saber sem partir e conhecê-la por dentro, podemos estar muito bem, com a moral altíssima, com a temperatura ambiente excelente, tudo é imprevisível por isso para a maioria de nós as respostas começam a aparecer logo que começamos a dar as primeiras passadas, para outros, iludidos pela esperança de bons resultados aventuram~se à procura da sua sorte mas rapidamente tomam consciência da dura realidade sobre o que representa uma prova duríssima como aquela.
Descobrir que uma prova para ser dura não precisa de andar a correr por vales e montanhas basta participar nesta prova, ali encontra tudo: areia seca e solta mas também molhada e mais consistente, plano inclinado sempre para o lado esquerdo, sol abrasador, vento de Norte (desta vez arrastanto consigo o calor sufocante), auto-suficiência de líquidos (até aos 28,5kms) e sólidos para todo o trajecto de 43kms é, diga-se pôr à prova a resistência humana, é por isso que muitos são traídos pelo seu voluntarismo e muito cedo tomam consciência que as coisas não são tão fáceis como parecem. Esta prova está a crescer tendo 365 atletas terminado este ano, muitos deles provavelmente nem sequer leram os regulamentos e por isso desconheciam, ou não tomaram as devidas previdências sobre os avisos e as restrições que a Organização foi lançando durante a preparação da prova. Foi triste ir vendo de vez em quando lixo, muito lixo, pela praia fora: garrafas de plástico e pacotes de gel vazios eram deixados naquele extenso e bonito areal que compôe toda a costa de Melides a Tróia, resta-me a esperança que quem emporcalhou aquilo faça um exame de consciência e perceber que não está a fazer uma prova de estrada onde tudo é permitido, este espaço é de jurisdição marítima e tal como na montanha temos de o preservar sob pena de num futuro próximo ser-nos interditada.
Tal como previa esta prova para mim foi um suplício, desde a partida vi logo que aquilo ia doer, levei 4 gels e 4 nugats para comer e 2 litros de água (meio litro ia numa farrafa), havia quem levasse bananas, maçãs, sandes, bolos e muitas outras coisas, mas eu achei que era suficiente o que levava para ir enganando o estõmago ao longo da viagem, levava ainda os ténis pendurados no camelback pois optara por correr novamente com meias neoprene. Logo que partimos optei por correr na areia seca e solta e evitei aproximar-me da água, as neoprene são muito eficazes na areia mas quando fazem incursão pela água vão enchendo até que de vez em quando tenho de me deitar, levantar a perna e esvaziar a água, fui durante os primeiros kms ali por cima mas depois comecei a observar que quase todos os outros andavam lá por baixo e aproximei-me, vi então a autêntica auto-estrada que a maré quase vazia nos oferecia, nem exitei pois nunca tinha visto nas edições anteriores que participei tão boas condições para correr. Nesta fase já tinha a confirmação que não podia esperar muito do meu desempenho, algo de estranho se passava, as pernas estavam bem mas não recebiam do restante organismo o correspondente impulso, arrastava-me e com uma pista daquelas as coisas deveriam ser diferentes, o meu pensamento levava-me a Portalegre e à Freita e a outras de menor dimensão mas que foram acumulando algum esforço dispendido e também algum cansaço, na Freita caí pelo menos 10 vezes, em duas delas deixaram mossa que me impuseram cerca de 3 semanas quase sem treinar, por isso não era de estranhar as dificuldades que já ia sentindo quando cheguei ao 1º posto de controlo, estavam decorridos 5,5kms de prova com o tempo de 43m, nada mau mesmo assim, mas eu sabia que lá mais para a frente isto iria piorar. Alcanço o Carlos Coelho e deixo-me ir ali com ele algum tempo, é então que começo a perceber que tinha de enfrentar a realidade e vejo-o ir embora novamente e decido meter um ritmo muito lento de forma aque consiga chegar dentro do horário limite imposto pela organização. Aos 20 kms tenho já gasto 3,02h, estava razoável e estava a beneficiar com as boas condições na areia que se mantinham e se prolongariam até ao Carvalhal, local onde assinalava os 28,5km e se encontrava o 1º e único abastecimento do percurso (só um litro de água por atleta), cheguei aqui com 4,02h e já tinha ultrapassado de novo o Carlos que vinha já em grandes dificuldades.
Descansei durante 10m, neste meio tempo atestei o camelback com 1 litro de água que me deram, tirei as neoprene (os pés começavam a ficar duridos por baixo) e calcei as meias de compressão e os ténis que levava ás costas, a diferença foi notória pois os pés ficaram mais confortáveis mas mesmo assim acho que fiz uma boa opção, já por ali via muitos a transportar os ténis nas mãos e a correrem descalços. Depois parti novamente com esperança que aquela paragem tivesse contribuído para recuperar um pouco as forças que de há muito vinham a faltar, foi ilusão de pouca dura, depois com a agravante de a maré já estar a encher e por consequência a auto-estrada também acabou e a progressão fazia-se agora em areia mais solta, o calor era abrasador, falava-se em 34 graus, o vento que vinha de frente era moderado e arrastava consigo uma aragem muito quente, as meias de compressão e os ténis tornavam agora os pés muito quentes, o estômago já custava a aceitar os gels, apenas ingeri 2 e os nogats enrolavam já na boca seca, a desidratação já impedia a existência de saliva e esta é indispensável à dissolvição e encaminhamento dos alimentos até ao estômago. Aos 30kms dicidi molhar os ténis, era já insuportável o calor que sentia nos pés e comecei a caminhar, terminava ali a minha corrida não valia a pena tentar contra o impossível, lembrei-me nesta altura do Fernando Andrade que tinha bloqueado há 2 anos mais ou menos naquele local e apenas arranjou forças para prosseguir caminhando. Aos 35 kms já levo 5,25h de prova e aos 39kms falta-me a água, já tinha consumido 2,5L. ela já estava muito quente mas havia agora começavam as preocupações, lembro-me então que ainda levava de reserva 0,5L dentro do camelback, tiro-a e logo verifico que aquilo era capaz de dar para coser algumas batatas, mas era melhor do que nada, sempre que queria beber um pouco descia até à água do mar refrescava-a um pouco, perdia ali 2/3 minutos, repeti a cena mais 4 ou 5 vezes mas pouco importava, não queria era prolongar para além do suportável as dificuldades em que já ia. Finalmente avisto a meta a menos de 1 km, a praia esta pejada de gente, procuro passar pelo meio ou espaços que tenho de procurar, aqui e ali um incentivo mas a maioria ignora, inicio uma breve corrida 200m no máximo e volto a andar para de novo já em linha de reta para a meta voltar a correr, baixo a cabeça a areia está seca e mole, ouço chamar olho e vejo a minha pérola mais recente, o David estava ali, olhava-me estranhamente mas logo me estente os braços pego nele e procuro levá-lo comigo até à meta, com ele ao colo tento dar mais uns passos de corrida, tinha a meta a 50 metros,  mas desisto não tenho mais forças entrego-o de novo à mãe e sigo para a meta, para a próxima não vou perder nova oportunidade, nem que vá de rastos até lá chegar. Finalmente atingi a meta ao fim de 6, 48,37h para perfazer os cerca de 43,600kms que o meu cronómetro marcou.
Já se escreveu e eu também já li, fortes críticas (creio que construtivas) quanto ao fornecimento de água pela organização, aceito as regras impostas mas a organização terá de ponderar, e poderá salvaguardar no Regulamento essa possibilidade, de reforçar a dose de água que dá aos atletas ao km 28,5 em dias onde o calor se faz sentir de forma quase extrema. Trata-se de uma prova aberta a todos que põe como única condição a sua conclusão em 8 horas. A esmagadora maioria faz aquilo até ás 4,5h mas os restantes podem estender-se até ao limite de tempo, isto levanta um problema grave de saúde que é a falta de ingerir líquidos quando deles mais precisa, as horas de mais calor vão incidir a apartir das 4,5h de prova e nas actuais condições estamos a brincar com a nossa saúde. Vou voltar a Melides e gostava que a Organização fosse sensível a este apêlo, partimos normalmente com 1,5l de água no camelback, bastava no abastecimento do Carvalhal abastecerem-nos na mesma proporção de água, isto é, 1,5L de água numa só garrafa, quem quisesse levaria o 1,5L nos recipientes que transportam e acabaria  assim desta forma o abandono de garradas que se encontram espalhadas pela praia por gente incapaz de contribuir para a manutenção de um ambiente limpo e saudável. Se assim não for vou preparar um garrafão de 5 litros para levar ás costas e dispensarei ajuda no Carvalhal, há 2 anos implorei por mais água e foi-me negada com o protexto do Regulamento, aos 40kms esgotou-se a que levava e não gostei!!!
Agora é tempo de descansar activamente pois no início de Agosto vamos ter nova guerra, agora em Óbidos.
Classificações

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Memorial Francisco Lázaro, Lisboa 15/7/2012

Um fim de semana em que estive muito empenhado em acompanhar a grande Odisseia de 13 bravos guerreiros portugueses que no país basco se empenharam em vencer o duríssimo ultra Trail do Ehunmilak, deu ainda para eu iniciar os treinos, coisa que não fazia há duas semanas, e ainda para acompanhar as provas dos meus "rapazes", nomeadamente o Hugo, a Susana e o Daniel.
Optei por acompanhar o Hugo na corrida que comemorava o grande maratonista Francisco Lázaro realizada em Lisboa uma vez que já assumido compromisso nesse sentido e acompanharia o meu neto mais velho (que expressão mais inadequada) que desta vez dicidira acompanhar o pai.
A Susana iria de novo voltar a correr, desta vez em Almargem do Bispo onde acabaria por alcançar o 3º lugar femenino e 2º do seu escalão sénior, acabando por açambarcar mais 2 troféus para a sua coleção.
O Hugo está de novo a voltar à boa forma depois daquele incidente com a fratura de um dedo do pé e estar impedido de treinar durante 2 meses. Obteve o 5º lugar da classificação geral e 1º lugar no seu escalão + de 35 anos.
Gostei de voltar à estrada, não para correr pois estava ainda impedido de o fazer, mas ver e cumprimentar muitos amigos que há muito não via e trocar muitas opiniões sobre a nossa actividade e compromissos futuros.
Aproveitei ainda e tirei um conjunto de fotos que podem ser vistas clicando o link que deixo no rodapé desta crónica.
No próximo fim de semana mais desafio vai ter de ser cumprido, desafio este bem duro de roer mas que é um dos principais que estabeleci para este ano, Melides/Tróia mete respeito mas a exemplo de outros desafios recentemente vencidos este também será alcançado, assim o espero.
FOTOS AQUI

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Trail do Almonda, 8 de JUlho de 2012

Está a concluir-se o ciclo de provas de Trail que tinha estebelecido para esta época, faltam apenas 4 para atingir o objectivo (Trail de Óbidos, Trail Noturno Lebres do Sado, Grande Lago de Alqueva e Serra de Arga em Caminha. Para trás ficaram duas que não consegui fazer por motivos de saúde (Trilhos do Pastor e Trilhos de Almourol). As que concluí estão ali na margem direita do meu Blogue.
Neste fim de semana calhou a vez do Trail do Almonda, tinha falhado o ano anterior, daí não saber o que ia encontrar, na edição do ano passado tinham-me dito que aquilo já fora diferente e que este ano haveria novamente alterações. Fui a esta prova também por grande consideração que me merece o seu responsável máximo, o amigo Aníbal Godinho, e devo dizer desde já que me considero especialmente satisfeito pelo que encontrei e o prazer que me deu fazer aquele percurso. Depois da tareia da Freita era de bom senso parar mais alguns dias antes de me meter noutra mas pelo que estava informado o Trail do Almonda nada teria a ver com a Freita, pelo menos a nível técnico, já que a dureza também esteve lá mas bem disfarçada através de trilhos espectaculares bem tratados e limpos ajudando assim a minimizar os sacrifícios que aqui e ali tivemos de superar. A prova com este novo percurso torna-se muito bonito e todo ele percorrido em plena Natureza, excepção feita a pequenas incursões em aldeias cujo enquadramento pouco difere do resto percorrido.
O entupimento surgido aos 2 kms de prova ainda está por resolver, provavelmente a organização terá de procurar localizar aquela passagem com mais 2/3 percorridos antes de ali chegar, mas eu não me queixo até deu para descansar um pouco porque para ali chegar aquilo é quase sempre a subir e em abono da verdade também não ouvi quem quer que fosse a queixar-se e eram muito os que esperavam a sua vez para descer aquilo. Logo ao fundo na Aldeia comecei a ver aquilo que faltou na Freita, 1ºs socorros, ali era um local de vigilância apertada, logo pouco depois mais bombeiros a quererem dizer que poderíamos estar tranquílos a nível de apoio e 1ºs socorros durante a prova. Face a alguma polémica surgida durante a semana devido à falta de 1ºs socorros na Freita e também ás diversas tomadas de posição de alguns intervenientes e outros, foi óbvio que muitos amigos se interessaram em saber como me encontrava, a resposta dada foi natural, se estava ali era porque me sentia bem e as consequências do que se passou estavam ultrapassadas. Foi, segundo creio, um pouco antes do 1º abastecimento (5 kms) que uma amiga chamada Catarina (ver foto que acompanha esta crónica) se juntou a mim e estabelecemos conversa a versar naturalmente as minhas odisseias e a Freita em particular informando-me ao mesmo tempo que enquanto podesse se iria manter ali comigo até ao fim. Foi a partir dali que ganhei uma nova motivação e o meu cuidado foi verificar sempre se ela vinha bem. Entretanto no 1º abastecimento lá estava presente mais uma ambulância de apoio e uma mesa recheada de líquidos e sólidos, aliás foi assim durante todos os abastecimentos que de 5 em 5 kms a organização colocou à nossa disposição, como sempre apenas ataquei a melancia e a água era o único líquido que ingeria.
 A Serra oferecía-nos agora trilhos espectaculares, mesmo antes de lá chegar ouve ainda tempo para observar a passagem de 2 batedores em motos com transportamdo caixas de 1ºs socorros para apoio imediato em caso de necessidade e um Jipe que ia andando a vigiar e a ver se estava tudo bem. A Catarina ia-se mantendo ali, ora ultrapassávamos ora éramos ultrapassados, mas isso pouco importava levávamos o nosso ritmo e o objectivo era chegar, por isso e talvez devido ao facto de lavar comigo os apoios nas subidas eu avançava um pouco porque me sentia mais forte para depois nas descidas e rectas aguardar um pouco. Foi a partir dos 20 kms (junto ás antenas) que não mais nos separámos, ultrapassámos muitos atletas, de ambos os sexos, chegando com bastantes energias que ainda deu para fazermos um bom sprint final. Cada prova tem a sua história, para além companhia da Catarina realço também, para além da sua simpatia, a sua vontade de aprender a percorrer um trail, andou sempre atrás de mim com o único cuidado de aprender a contornar os obstáculos e fê-lo sempre com o maior dos cuidados, como aprendeu também a gerir a sua prova de modo a que chegasse ao fim ainda com forças para desfrutar daquele final de prova.
Para mim foi um prazer enorme ter voltado ali ao Almonda agora com um renovado percurso que o torna espectacular, eu e os meus amigos viemos muito satifeitos com vontade de voltar. O almoço foi outra coisa que nos agradou, ao fim de 5h. de prova soube bem aquele excelente manjar, bem melhor do que a sandes e uma sopa do último fim de semana e depois de andar 15h. a "pão e água".
Percorri os 29,720 kms em 4,57h. ainda a tempo de almoçar e conviver um pouco com os amigos.
Agora é preparar com algum descanso a Ultra Maratona Melides/Tróia já próximo dia 22 deste Mês.

terça-feira, 3 de julho de 2012

Ultra trail Serra da Freita, a satisfação de vencer

Para minha satisfação cheguei ao fim de um ciclo que considero espectacular.
Uma pequena amostra
Com a participação no dia 30 de Junho de 2012 no Ultra Trail da Serra da Freita fechou-se um capítulo de provas de dureza assinalável que fazia parte de um lote cuja ambição de concretizar era um claro objectivo nesta fase da minha condição de trailista cuja ascensão dou como terminada, isto é, de agora em diante ficar-me -ei por provas cuja dimensão não ultrapasse os 50 kms.
O Ultra Trail da Serra da Freita era e foi um objectivo conquistado no passado dia 30 de Junho, foi uma prova extrema, a mais dura que encontrei até hoje, já o sabia antes de a iniciar pois fui lendo nos últimos tempos pequenas dicas que iam deixando na Internet, as fotos entretanto publicadas indiciavam isso mesmo, mesmo assim a vontade de lá estar ultrapassava tudo independentemente das dificuldades criadas para esta Edição de 2012.
Tinha feito a 1ª tentativa em 2010 mas diversos factores aliados à inesperiência e a uma deficiente preparação física fez com que não conseguisse ir para além dos 40 kms por ter excedido o tempo limite imposto pela organização da prova nessa altura (8,30h.).
Conhecedor das dificuldades até pouco mais de meio da prova (excepto as novas alterações) preparei-me excepcionalmente bem para a Edição deste ano, para isso participei em algumas provas de Trail, acompanhado ainda de alguns treinos, com o objectivo de acumular kms e ir ao mesmo tempo vencendo dificuldades que me iriam ajudar a enfrentar esta prova rainha do Trail em Portugal, desde o trilho dos Abutres, Sicó, Penafirme, Ultra trail de Sesimbra, Ultra Trail de S. Mamede, Vale de Barris, Reixida, são alguns exemplos, daí a confiança com que parti a caminho destas magníficas Serras.
Queria terminar, tinha 5 horas para fazer a cada 20 kms e sabia que se tudo corresse bem iria terminar dentro do tempo limite imposto pela organização que são as 17,30h.
Sinto-me feliz por isto
Tinha previsto não fazer a prova sozinho, conversei com alguns amigos em sondagem prévia e não encontrei grande receptividade, algum receio à mistura com ritmos que não podiam acompanhar inviabilizou logo à partida essa possibilidade e como se pode agora concluir após o termo da prova eles tinham razão. Ao fim de 1 km de prova olho para trás e já não vejo quem queria ver e prossigo em frente, não queria ser barrado de novo por exceder o tempo previsto como acontecera há 2 anos ainda que tivesse de assumir alguns riscos para o conseguir. Tinha chovido toda a noite e isso iria representar mais dificuldades à nossa progressão no terreno escorregadio, com muita pedra e rocha bem como os rios com os caudais mais elevados em que era preciso cuidados redobrados, contudo enquanto corremos não pensamos muito nisso, vamos vencendo metro a metro e ultrapassando os obstáculos que nos vão surgindo de forma progressiva e a cada momento com dificuldade maior.
Subindo, uma constante m toda a prova
Até chegar ao Rio Paivô (creio ser assim que se chama), com cerca de 17 kms de prova, o percurso é muito acessível mesmo com as alterações também ali efectuadas que aumentaram o grau de dificuldade após a descida do Trilho dos Íncas. É por esta altura que encontro uma atleta a sangrar abundantemente dos 2 joelhos, estava junto a ela outra atleta a dar-lhe algum apoio, soube mais tarde que foi levada para o Hospital de Arouca por familiares ou amigos!!!
Prossegui e pouco depois na aproximação ao Rio Paivô num trilho com muita pedra solta (percurso novo) dou o 1º trambulhão de costas que me deixou muito maltratado na zona do cocsis (deve ser assim que se escreve) mesmo ao fundo das costas, logo ali pressenti que o resto da prova iria ser doloroso pois os movimentos das pernas e a cada passava as dores eram imensas, tomei consciência de imediato que teria de conviver com aquilo até ao final da prova se a quizesse concluir.
Apesar de ter chovido o caudal do Paivô poucas alterações teve mas as rochas que ladeiam as margens do rio tornaram perigosas e escorregadias ao ponto de eu ter caído pelo menos duas vezes dentro de água sem qualquer consequência física de assinalar.
Uma pausa para a foto
Embora a dor no cocsis me limitasse o andamento e também a reação aos desiquilíbrios constantes consegui sair deste rio sem mais mazelas, contudo foi satisfação por pouco tempo. Ao sair deste rio e com destino ao estradão que passava ali perto com destino ao 1º abastecimento e posto de controlo  desiquilibro-me para trás quando subia uma pequena inclinação, tentei equilibrar-me dando uns passos para trás mas o calcanhar bate numa pedra e a queda é inevitável, enrolei-me todo para tentar evitar grandes estragos já que o local era rochoso e muito irregular, depois de parar e deitado de costas comecei a fazer o exame do que podia estar mal e aparentemente pareceu-me que tudo estava bem, o camelback safou-me as costa e a cabeça protegi-a om o enrolamento que tinha feito, levantei-me e reparo de imediato que do meu braço esquerdo jorra um fio de sangue em resultado de um golpe profundo no antebraço com cerca de 5 cm de extensão, tentei estancar a hemorragia mas sem sucesso, segui e vejo logo ali 2 elementos junto ao rio (não sei se eram da organização) que se preocuparam mais com a sinalização do que com o estado em que eu estava, dizem-me que o apoio estava ali a 1,5km, foi sínica esta atitude pois tinham ali uma viatura a escassos metros onde tinha tido o acidente. Prossigo resignado, o sangue começa a coalhar e pára de escorrer, 10 minutos depois chego ao posto de controlo e abastecimento e não vejo qualquer posto de socorro, nem ambulância nem nenhum socorrista por perto que era suposto estar por ali, as duas pessoas que estavam no apoio dos abastecimentos viram-me e ficaram como não tivessem visto nada, ignoraram pura e simplesmente, foi um atleta que ali estava (José Guimarães a quem mai uma vez muito agradeço) que me socorreu dando-me um pouco de Betadine e uma ligadura para proteger a ferida que estava muito feia, trabalho este feito pela senhora que estava no apoio mas que teve alguma relutância em o fazer, creio que pelo facto de estar cheio de sangue e nem todos estarem preparados para ver aquilo.
A falar com a Analice, ela estava pouco confiante
Isto passou-se no 1º ponto de controlo e abastecimento, deixei recado para comunicarem o meu estado e para que os meios de socorro viessem ao meu encontro porque eu ia prosseguir, como resposta obtive a frustrante comunicação de que ali não havia rede e não era possível comunicar, parti na esperança de ter sido ouvido e que alguma coisa iria ser feito.
Depois de ter atravessado novos trilhos abertos exclusivamente para esta prova e outros mais antigos, atravessado a Drave e outras encostas bastante agrestes e rochosas chego ao abastecimento dos 30 kms que estava colocado na base da subida à Garra, aqui chegado pergunto novamente pelos meios de socorro que tinha pedido anteriormente, informam-me que nada sabem, talvez no próximo abastecimento aos 40 kms dizem-me. A ligadura estava agora enterrada entre 2 inchaço que sobressaíam nos topos da ligadura e comecei a recear o pior, pedi de novo para ligarem a pedir socorro e de novo me dizem que não têm rede telefónica!!!
Embrenho-me rio abaixo à espera de iniciar a subida da Garra mas depressa percebi que também ali o percurso foi alterado, nada que já não estivesse à espera e por isso não me senti surpreendido, estava ali o novo trilho batizado dos aztecas, mal se percebia o trilho a seguir e não fora as fitas bem assinaladas no mato rasteiro seria dificil encontrar o caminho.
A partida ás 8h.
De volta ao rio, que devia estar seco mas com as chuvas da noite tinha um caudal assinalável obrigou-nos a andar pelas bermas subindo e descendo pedregulhos e rochas de alguma dimensão até que nos apareceu finalmente a indicação da subida da Garra que não sendo a mais alta ia deixar mossa, o início foi muito penoso dada a forte inclinação e a inesistência de qualquer trilho por onde passar, foi subir, subir até encontrar o trilho dos Íncas que nos levaria depois até à Póvoa das Leiras onde estava o 2º ponto de controlo e também o abastecimento, cheguei lá com 8,45h. (Foi precisamente ali que há 2 anos desisti da prova juntamente com o Fernando Andrade por termos chegado fora do controlo), desta vez já tinha amealhado 1,15h para o pecúleo final e era já uma enorme esperança que ia conseguir concluir aquilo, registo a chegada ali com o meu chip e de novo pergunto pela assistência que devia estar ali e informam-me que de ambulância nada sabem, passo-me dos carretos e manifesto o meu desagardo e mostro o estado em que tenho o braço, não serviu de nada e de novo peço ajuda e voltam a dizer que ali não existe rede!!! Incrível, como é possível? Peço-lhes para comunicarem com o Moutinho para tomar previdências para me resolverem o problema, irritado volto-lhes as costas e prossigo, logo um elemento (da organização?) veio atrás de mim e obriga-me a mostrar todo o equipamento obrigatório, não fosse o desejo tão grande que me acompanhava em terminar esta prova e tinha ignorado aquela exigência (apesar de estar no regulamento) (o apoio médico também estava!) como sou educado e respeitador das regras deixei para segundo plano o mal que já me tinham feito e parei, voltei atrás e mostrei aquilo que pretendiam, creio que nem um obrigado consegui ouvir mas também não esperava mais do isso, o silêncio.
José Guimarães que me socorreu
Parti à procura de atravessar o ponto mais alto do percurso, creio que a subida das leiras, embora seja a Serra mais alta, a mais de 1.100 metros de altitude, foi aquela que menos me custou a fazer, o trilho era feito de pedra e na maior parte dava gosto caminhar por ali, foi uma longa subida até chegar ás Eólicas, depois foi descer até chegar aos 50 kms onde estava situado mais um abastecimento, apenas estavam duas pessoas e uma mesa de apoio onde estavam alguns produtos para comer e beber. Perguntei de novo informações sobre os meios de socorro que de há muito venho pedindo, obtive a resposta já esperada, nada sabiam. Disse o meu nome e apelei para que contactassem o Moutinho para ter os meios indispensáveis para me socorrer à minha chegada, nesta altura já não pedia para irem ao meu encontro mas sim que esperassem por mim e me levassem ao Hospital quando chegasse.
Abasteço o camelback e prossigo à procura de chegar ao ponto de controlo seguinte que estava nos 60 kms de prova, ultrapassei encostas e vales, rios com água cristalina que bebia apesar de levar a camelback cheia, mas aquilo dava-me um prazer enorme, esquecia por vezes as dores no cocsis e ignorava o estado em que se encontrava o meu braço, queria era chegar mas novo adversário se aproximava, a noite.
Chego aos 60 kms já de noite mas ainda em condições de ver onde punha os pés, o frontal de pouco valia ali pois os sinais luminosos estavam colocados apenas para lá dos 60 kms. Estava com um avanço de +- de1,30h. em relação ao fecho do controlo de passagem naquele local, o suficiente para me sentir feliz por conseguir chegar ali e sonhar com a chegada. Desisti de procurar pelos  bombeiros e peço novamente apoio para a chegada, ali informam-me que vão fazer o que podem, como uma sopa e sigo com mais 3 amigos que tiveram a gentileza de esperar por mim para atacar mais uma Serra de extrema dureza até ao planalto a mais de mil metros de altitude, antes visto o corta vento para me proteger do muito frio que fazia e finalmente coloco o frontal.
Hugo Santos, autor de algumas fotos
Partimos para o ataque a mais uma brutal subida mas depressa concluí que não tinha andamento para os acompanhar e fui ficando aos poucos para trás, achei bem que tivessem seguido pois estava tranquilo e sabia que eles não deixariam de ir dando uma olhadela a ver se eu por lá vinha. Esta subida, tal como as outras foi brutal ainda por cima debaixo de uma escuridão total, a certa altura aponto o frontal para a minha direita e dou conta que caminho ao lado de um temível precipício, redobro os cuidados a ter mas as forças já não são muitas, procuro caminhar por locais mais seguros mas tenho de seguir os pontos luminosos que ficam mesmo à beira do abismo, aquilo deve ser bonito para quem lá passou de dia mas à noite aquilo é medonho. À frente vejo os meus companheiros e são um bom ponto de referência, atrás já vejo alguém ao fundo a subir a Serra e fico mais tranquilo, ao fim de mais de 3 kms chego ao planalto da Serra, agora com nova ameaça, o nevoeiro estava a tomar conta do alto da Serra tornando inoperacional o frontal na descoberta dos sinais luminosos indispensáveis á minha progressão, receei o pior pois não via nada nem sabia por onde prosseguir, não existia sequer um trilho que me conduzisse e o pouco que existia deixava-me baralhado, procurava não perder a orientação ia e vinha e assim fui descobrindo caminho até começar a descer para a povoação onde estava situada o controlo dos 65 kms. Mal avisto a Aldeia a emoção tomou conta de mim, dali já podia ver o alto da Mizarela, local de chegada e apesar de ainda estar a 5 kms de distância, mas a satisfação era enorme, à cerca de 15 kms que não fazia outra coisa que andar, andar sempre, queria era chegar ali.
Aos 60 kms, com a noite a cair
Mal entro na povoação vejo o José Moutinho vir ao meu encontro (responsável máximo da prova e por quem tenho muito apreço) a informar-me que tinha tido conhecimento do meu problema e que nada pode fazer na altura, mas não era isto que eu queria ouvir e fiquei muito desiludido, mais desiludido fiquei quando ele me informa que a prova tinha sido interrompida naquele local à alguns minutos devido ao nevoeiro e à perigosidade daquele troço final com a descida e depois a subida do PR7, ainda insisti inocentemente para me deixarem prosseguir mas ele foi inflexível e informou-nos que seríamos todos classificados, faltavam 5 kms e ainda tinha um crédito de 2,30h para alcançar o meu sonho, em circunstâncias normais têlo-ia conseguido, por isso fiquei feliz por ali ter chegado e concluído com sucesso este meu grande objectivo. Fomos logo encaminhados (eu e os 3 colegas que seguiam à minha frente) para o local da meta onde já se encontravam de alerta os bombeiros de Arouca que já tinham sido alertados para o meu problema, logo fizeram o prognóstico e concuíram que tinha de passar pelo Hospital dada a gravidade da lesão e o estado em que também já estava o braço em torno da ferida devido à ligadura que protegia a ferida, foi tomar um banho e comer uma sopa no companhia do Luís Mota, brilhante vencedor desta magnífica prova.
Impressionante
Fui bem tratado no Hospital apesar de agora a recuperação poder não ser total devido à morte de muitas células na parte que se separou e devido ás muitas horas (15 no total) que estive sem receber assistência, ficará lá possivelmente um buraco e uma cicatriz a assinalar a minha passagem e conquista da  Freita. Agradeço também com uma palavra de muito apreço aos bombeiros que me levaram ao Hospital e de mim tomaram conta até voltar de novo ao Parque de Campismo da Mizarela onde estava acampado.
Deixo aqui também uma palavra de profundo desagrado pela falta de assistência nos locais onde não deveriam ter faltado, existe um regulamente em que se compromete a assistência médiaca aos atletas em prova, nós confiamos na organização quando partimos confiantes  que em caso de necessidade os meios estão lá espalhados pelo terreno, o que se passou pode ser considerado um crime e a organização no terreno não se pode eximir de responsabilidades, ninguém no terreno estava em condições de apoiar fosse o que fosse, não se viu um responsável sequer em todo o percurso a acompanhar os atletas e a saber se estava tudo a correr bem, e como se sabe é ali que precisamos desse apoio e não na meta para nos saudar e dar os parabéns. Imensos atletas chegaram feridos com maior ou menor gravidade ao primeiro posto de controlo logo a seguir ao Rio Paivô, é de uma imensa irresponsabilidade a ausência de apoio médico naquele local, mas esta irresponsabilidade estendeu-se a toda a prova sem que alguém da organização tomasse medidas para resolver o problema, confiaram na sorte abandonando quem por ventura neles confiara.
Sálvio Nora, o mentor desta magnífica prova
Esta crónica que faço não tem como objectivo denegrir a imagem seja de quem for, respeito demasiado esta prova e nas pessoas que com competência a têm realizado, as chamadas de atenção que faço ao pormenor pretendem que seja uma lição para quem tem a responsabilidade de conduzir um processo desta envergadura e que envolvem a vida de muitas pessoas pois os riscos que se correm são elevadíssimos e quem participa tem de ter a garantia que os mínimos (já para não falar nos máximos) de assitência estarão salvaguardados.
Deixo claro que não fiquei traumatizado, adorei explorar aquelas imensas serras que envolvem toda a Freita, sabia ao que ia e os perigos envolventes e voltaria a fazer tudo de novo mas chegou a altura de parar um pouco e refletir, atingi nesta altura aquilo que pretendia, vou continuar porque não prescindo de tantos e bons amigos que tenho encontrado e que estimo mas de forma mais moderada, dificilmente farei provas acima dos 50 kms e assim de forma progressiva vou ao encontro do que se impõe a um homem a entrar daqui a pouco na casa dos 65 anos, até lá estarei sempre onde estiverem os meus amigos.

Eis o local onde terminou a minha corrida aos 65 kms e o vídeo a mostrar o fascinante local  da descida e a subida do PR7 que terminava com a meta ali a 1km.
Veja aqui as classificações