sábado, 28 de agosto de 2010

De férias e de regresso ao trabalho.



E pronto, acabaram-se as "férias" e como elas foram curtas, 6 dias em plena Natureza, ali em Tengará (Sobrena) ás portas do Cadaval. Uma encosta bem verdejante onde imperava um pereiral bem apetrechado de suculentas peras, (da rocha, claro está, calor até fartar onde a brisa suportável estava ausente entre as 11 e as 16h.
Encosta acima encosta abaixo, ora enchendo ora vazando baldes carregados do precioso fruto que tem por destino a exportação, destas raramente as veremos nas bancas dos Supermercados, que desperdício sermos privados de tanta qualidade. Aqui, pouco falta para que os agricultores tenham ainda de pagar ás grandes superfícies para verem o produto de um intenso ano do seu trabalho ser escoado.
Ainda assim a recompensa, apesar de reduzida, ainda permite sonhar por dias melhores e ver finalmente um dia a recompensa de tanto esforço que um punhado de carolas teima em manter em defesa daquilo que a agricultura lhes permite ali fazer.
Apesar das dezenas de toneladas colhidas, Tengará não vive exclusivamente daquilo, o amigo José Pereira tem aquilo como uma ocupação de tempos livres (bem podia arranjar coisa melhor) mas com a ajuda da simpática mulher e dos 2 filhos consegue extrair daquela terra do melhor que existe em Pera Rocha.
Foi por isso que dicidi (e outros amigos também) gozar 6 dias das minhas "preciosas" férias apanhando peras e desfrutar daquele brazeiro que aqui e ali ia sendo atenuado com uns goles de água bem gelada enquanto não chegava a hora das soculentas refeições que a D. Ana nos preparava para retemperamento de forças.
No final da missão fica-nos a saudade daquele envolvente trabalho e fundamentalmente do convívio ali proporcionado nestes dias, para o Ano haverá mais e agora para mim é o regresso ao "trabalho".
Dia 30/8 é o regresso aos treinos após 3 semanas de pausa, vem aí a Corrida do Avante, S. João das Lampas e o Trail do Grande Lago, no Alqueva.
Ali estou eu a selecionar as melhores peras, o José Pereira e o seu tractor na recolha dos Maloques (penso que é assim que se diz) e o Carlos Gadunhas aproveitando uma pequena sombra ao mesmo tempo que ia fazendo a sua colheita.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Trail Noturno de Óbidos



A nova versão Dia e Noite do Trail Noturno de Óbidos veio melhorar e muito esta magnífica prova que tem de tudo para quem gosta de correr em cenários muito bonitos e em alguns casos espectaculares.
Foi com este espírito de curiosidade que eu e o meu genro Daniel nos fizemos à estrada até Óbidos, não sem antes eu mais uma vez confundir A1 com a A8 como melhor opção para lá chegar.
Quando lá cheguei (17h) já o F.Andrade e o C.Coelho se tinham aviado e aguardavam já a hora de partida, nós após uma curta pausa para conversa regressámos ao local onde tínhamos deixado a viatura, pelo meio encontrámos o José Xavier e a Família que vinham a chegar, ficámo-nos pelos cumprimentos pois ainda faltava fazer muito trabalho e o tempo disponível começava a escassear.
Para esta prova tive o cuidado de planear aquele que seria o mais leve, o cinto com duas botijas pequenas (menos de 10 dl cada, 4 gel e 3 barras e a máquina fotográfica que apenas fez peso pois nem uma foto tirei durante o percurso.
De regresso ao "Campo da Bola" lá bem no alto do Castelo onde iríamos chegar e também onde se iria dar a partida simbólica da prova deu para encontrar muitos amigos e conviver ali um pouco com todos. Alguns ainda a sentirem-se de mazelas da Prova Melides/Tróia, outros de desafios ainda maiores e de extrema dureza, mas com um sentido sempre alegre e despidos de algum vedetismo que por norma sempre aparece alguém. O Carlos Coelho dá nota de pretender fazer a prova sem forçar e manifesto o meu desejo de lhe fazer companhia.
Partimos dali depois de fazermos o habitual controlo de partida e de imediato dou nota que o meu Garmin não funciona, estranhei, estava sem bateria, tinha-o deixado a carregar toda a noite mas devia estar mal ligado, não pensei muito nisso pois como ia fazer a corrida acompanhado iria ter toda a informação na mesma.
Saímos pelas 19,30h +- em conjunto com os atletas que iam fazer a prova mais pequena (22kms) e por isso a confusão no início foi maior pois partiram perto de 300 atletas.
Como já conhecia parte do percurso na fase inicial parti com alguma prudência e sempre com o Carlos Coelho na mira, um pouco mais à frente e já na companhia da Célia Azenha subimos o morro em passo acelerado e conforme as forças permitiam, já no alto decido acompanhar a Célia na esperança que o Carlos conseguisse vir também o que veio a verificar-se, no entanto de vez em quando ele ficava e a dada altura ele informa-me que lhe doía um joelho, aconselhei-o a vir com calma e chegar ao fim sem mazelas, nesta altura nem 10kms tínhamos ainda percorrido. Decido acompanhar então a Célia até onde as forças me permitissem, estava-lhe grata pela ajuda que ela me tinha dado na parte final da UMA e estava na altura de lhe retribuir.
Toda a história do resto da prova tem a ver com a sua companhia, inicialmente íamos apenas os dois e depois aqui e ali tínhamos a companhia de outros amigos,ora vinham ora iam e faziam um poucode companhia, sabíamos que o ritmo ia nos limites e tinhamos um contra, a Célia começara um pouco antes a queixar-se de um joelho e por isso havia cuidados acrescidos, raramente eu passava pela frente para não desestabilizar o andamento e deixava-a marcar o passo de corrida que até era muito bom.
No abastecimento dos 18,5kms passámos com 1,57h, era muito bom pois o percurso também ajudava, ali eu já sentia algum cansaço nas pernas, o que era natural face à empreitada da semana anterior, mas a partir dali acabaram-se as facilidades, areia e Dunas até não mais acabar, conseguimos reunir ali um grupo mais numeroso ao longo das Dunas até chegar ao ponto mais a Sul ao longo do Mar onde se avistava Peniche mais ao longe, Aqui a entreajuda foi muito importante para encontrar o caminho certo que eram sinalizados por pequenos! refletores. O abastecimento sólido aparece aos 25kms eaproveito para tomar um gel pois estava a necessitar de renovar as energias e seguimos de imediato onde a dureza das subidas e das descidas iam causando mossa nas minhas já depaupuradas pernas e onde também já se fazia sentir algumas bolhas nos meus pés.
Durante uma parte do percurso tivemos a companhia da Analice, de vez em quando abalava mas nunca se afastava muito, até que em determinada altura ficou para trás e nunca mais conseguiu recolar.
Do Carlos nada sabia e só comentava com a Célia o desejo de ele nunca ficar sozinho no meio daquela escuridão e ter a fatalidade de se perder.
A Célia já só se preocupava comigo pois via que eu já ia preso por um cordel muito fino, mas nem por isso reduzimos o ritmo e fomos seguindo por sítios que por certo eram muito bonitos e até tive a sorte de encontrar um riacho que atravessava o estradão onde seguíamos que aproveitei para me refrescar um pouco.
Aos 35kms novo abastecimento, água com fartura, despejei 5 copos de água e mais um gel, aqui perdi o contacto com a Célia, ela e mais 2 amigos seguiram enquanto eu descansava um pouco e me hidratava melhor, quando retomei já levava cerca de 100m de atraso, tentei recolar mas não consegui e fui assim durante mais 3 kms, até que me apercebo de uma seta a indicar o caminho para a esquerda mas não vejo sequência, sigo atrás deles e aviso-os, dicidimos continuar , um pouco mais à frente conseguimos retomar o percurso certo e até final fomos sempre juntos não sabendo eu onde é fui arranjar forças para os acompanhar.
A subida ao Castelo foi das coisas mais dificeis mas também a mais desejada e foi com alegria imensa que cruzei aquela porta mítica a condizer com a meta final.
Para a Célia um agradecimento muito grande, a ajuda mútua foi essencial e no final obtive e retribuí um carinhoso beijinho de agradecimento que muito me sensibilizou.
O Daniel também ali estava à minha espera e ficou naturalmente satisfeito por me ver chegar pois prometera-lhe uma seca até ás 6h. de prova.
Ele também estava satisfeito com a sua prova, tinha feito 4,31h e sentira-se sempre bem, a exemplo do ano passado até parece que esta prova é mesmo à sua medida.
Para os 42 kms de prova gastei 5,22h.
Vou voltar em 2011, parabéns à Organização na esperança que em 2011 nas bancas (a meio e no final) esteja ainda a tão desejada melancia que eu e os que atrás de mim seguiam acabaram por quase nem a ver.
Segue-se... um repouso absoluto.

Fotos de Isabel e Xavier

Fotos Trail de Óbidos

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Rescaldo da UMA (Melides/Tróia)

Melides e Tróia ficam marcados de forma muito profunda no mundo das Odisseias em que me envolvi à apenas 1 ano. Odisseias que apenas vou considerando as que me dão mais prazer de correr, Ultras, Trilhos e Montanhas. A estrada já pouco me cativa, excepção feita a algumas maratonas e também meias-maratonas até final do Ano, o resto é para esquecer ou então para servir de pretexto para algumas paródias e convívios com os amigos, tais como Vialonga e Ribafria.
Já li alguns comentários sobre a grande jornada na Areia e da UMA quer dos participantes (atletas) quer da organização, em qualquer deles parece-me irrelevante os motivos apontados pois com um pouco mais de disponibilidade, empenho e respeito mútuo todos teremos a ganhar. Quanto a mim não haverá muito a alterar, pelo menos no essencial e basta-me traduzir o que já referi mais atrás para que se entenda que uma simples opinião pode ajudar a mudar alguma coisa: a disponibilidade, nada custava que à chegada dos atletas ali estivesse alguém a receber-nos e a guiar-nos para o local de recuperação e não apenas, como aconteceu comigo, alguém que simpaticamente me deu uma garrafa de água e nem mais uma palavra, valeu-me ali o Daniel que me orientou e apoiou naquela fase em que ainda estamos meio grogues. Na zona de recuperação nada custava que os zelosos colaboradores que destribuíam a fruta ao balcão o fizessem directamente nas mesas onde estávamos na fase crítica da nossa recuperação, pois como sabem era sempre um suplício cada vez que nos tínhamos de levantar para repetir mais um ou dois pedaços de fruta. Recordo que em 2009 havia uns tabuleiros onde era servido à mesa aquilo de tanto necessitamos para a nossa recuperação, bastava seguir esse exemplo. Da mesma forma também considero condenável a atitude de alguns, (ainda bastantes, infelizmente) participantes que pediram apoio de transporte de regresso a Melides e depois faltaram à chamada, não se trata apenas de uma despesa extra que podia ser evitada mas sim uma grande falta de respeito dos faltosos pelo enorme esforço que a Organização (Cãmara Municipal de Grândola) fez, colocando no terreno todas as condições condignas para que se tornasse mais cómoda a nossa participação. Penso que é equilibrado o preço que pagamos pela inscrição, compete a todos os envolvidos, atletas e Direcção da Prova, cumprir com a sua missão e com o respeito mútuo que se impôe. Eu vou continuar a ir à UMA, solicitando ou não apoios à Organização, esperando no entanto que os avanços positivos postos à nossa disposição não sofram algum revès causado por uma deficiente análise da situação que depois venha afectar a generalidade dos participantes.
Faço aqui uma rectificação de uma afirmação que deixei na postagem anterior: Afirmei que o Recorde da prova tinha sido batido pelo Eusébio Rosa nesta Edição, tal não corresponde à verdade, segundo o António Almeida este Recorde pertence-lhe de facto mas remonta a 2007 com 2,51h. é obra.
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Mais fotos aqui

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Odisseia Melides/Tróia

Havia um alerta laranja, para não dizer vermelho, deixado pelo Joaquim Antunes (Decano Ultra daquelas paragens) que sabiamente e em tempo oportuno nos avisara das péssimas condições que o percurso da UMA se apresentava nesta edição.
Confesso que não levei muito a sério o aviso, não pelas sábias intruções que ele ia deixando no (Fórum Mundo da Corrida), mas pelo que eu conhecia da edição de 2009 confiado que estava que pior que aquilo não saberia o que era, agora já sei e confesso que fiquei "aterrorizado" quando ia observando os kms a passar e aquilo não melhorava...
Como já aqui tinha dito optei por levar calçado umas meias Neoprene nos primeiros kms da prova até ultrapassar aqueles 6kms iniciais (tinham sido os que me deram mais dores de cabeça em 2009) e depois calçaria os ténis que levava presos ao Camelbak, estranhei não ver ali mais ninguém com a mesma ideia do que eu, nada de especial pensei eu, de repente dou comigo rodeado de uma câmara de filmar a registar o meu chip (tive de substituir o fixador) e então reparam nas meias e vai de entrevista, pensei para comigo que o dia até nem estava a correr mal, vi por ali o Carlos Lopes, (o grande Campeão) e pensei logo na sua Maratona e o fiasco que ela deu e também na falta de informação quanto à devolução dos 20€? que paguei, ficaria mais feliz de o ver ali apenas na sua condição de grande campeão mas infelizmente aquela ferida sobrepôs-se a esta.
O meu grande amigo e genro Daniel acompanhou-me nesta jornada, pois na edição anterior esteve lá a apoiar-me com a minha filha e logo prometeu que este ano aquilo era para fazer, se o disse assim o fez, vi logo ali muitos amigos e outros conhecidos de jornadas anteriores, e pelas "conversas e picardias" nos dias anteriores vi logo que aquilo ia estar animado pois havia contas a ajustar do ano anterior (e estavam lá todos).
A habitual eficácia da organização da prova permitiu que o programa fosse cumprido até ser dado o tiro de partida, via-se por ali muito boa disposição, não sei se para disfarçar o nervosismo ou se aquilo para a maioria era considerado como favas já contadas. Para mim era uma incógnita, ia correr descalço, só tinha feito 2 treinos com meias normais no total de 25kms, mas estava confiante que assim eu iria sentir-me mais confortável quando me atirasse para o trilho das ondas.
Estranhei ver o vencedor da edição de 2008 ali na linha de partida (Eusébio Rosa) como se fosse fazer uma prova de 5 mil metros, nem uma pinga de água tinha consigo, apenas a camisola, calções e sapatilhas, pensei que fosse apenas fazer um treino, até lhe tirei uma foto para certificar mais tarde se era verdade o que eu estava a ver.
Dada a partida procuro logo a linha de água, a manhã estava fresquinha e o céu estava encoberto, o Sobral alvitrou que iríamos ter pelo menos duas horas de céu encoberto, e não se enganou, mal chego à água verifico que as ondas estão um pouco ariscas e a maré ainda está muito cheia obrigando-nos a correr muito acima daquilo que seria o ideal onde a areia se encontrava muito solta, quer a seca quer a molhada, de imediato entro na água e começo a enfrentar as ondas na zona de rebentação, pois era ali que ainda ia encontrando algum piso mais acessível para correr, na mesma linha que eu havia poucos que corressem tão perto das ondas, via o Parro minha frente e o F.Andrade ali logo à sua direita mas por pouco tempo pois depressa se foi embora e nunca mais o vi.
Depressa verifiquei que iria ter problemas com as Neoprene, não porque me dessem mau correr ou me magoassem os pés, o problema surgiu porque o número da meia era superior ao meu pé e inevitavelmente a meia ia escorregando para dentro conforme se ia apresentado a inclinação da areia, levando-me a parar de vez em quando para corrigir o enrolamento e retirar ao mesmo tempo a água que se ia acomulando lá dentro. Ainda assim preferi continuar a correr com as meias em detrimento dos ténis face à dificuldade que o piso apresentava, continuando assim com o plano traçado até ultrapassar aquela primeira dificuldade!!!
Ao contrário do ano Anterior aqueles 5 primeiros kms estavam a parecer-me mais fáceis de ultrapassar, pelo menos tinham desaparecido as lombas constantes e dava para correr cortando o desfazer das ondas, desta forma ia poupando forças para quando chegasse a parte mais fácil poder correr mais folgadamente, cheguei aos 5,5kms ainda com o mesmo tempo +- do ano passado, mas ia algo apreensivo, ali naquele local na edição de 2009 já se podia correr em areia molhada mas mais dura e a maré estava já muito baixa, desta vez a maré mantinha-se muito alta e a corrida decorria num plano demasiadamente inclinado ao mesmo tempo que a areia se mantinha muito solta, passei neste 1º controlo na esperança que aquilo viesse a melhorar. A corrida tornou-se penosa, via muitos atletas cada vez com mais dificuldades e a ficarem para trás, havia outros que penosamente lá conseguiam passar por mim mas que rapidamente começavam a fraquejar, continuo a observar o Parro ali à minha frente mas entendi não forçar para chegar até ele, volto a parar para tirar a água das meias, pois o pé já dança lá dentro e antes que começasse a fazer fricção tinha que esvaziá-las (não sei por onde é que a água entrava, mas estava satisfeito pois a areia não conseguia lá entrar). Entretanto antes dos 20 kms alcanso o Parro e o Carlos Coelho e a partir dali os encontros são frequentos, ora sigo eu ora seguem eles, pois ali o importante é chegar e se vermos que os nossos amigos vão progredindo dentro das suas possibilidades, mas bem, então cada um deve dosear o seu esforço apenas com o objectivo de chegar.
Já tinha perdido a esperança de ainda ver o A.Almeida e o F.Andrade lá mais paraa frente pois torna-se cada vez mais doloroso a progressão, a maré já devia estar mais baixa mas mantinha-se na mesma elevada e só via à minha direita um permanente monte de areia com inclinação acentuada e que ia desembocar na rebentação das ondas, lembrei-me do Mário Lima, não sabia se estava para trás, mas era o mais certo face à dificuldade que aquilo estava a ter.
De repente aos 22 kms dou com o Daniel a caminhar à minha frente, tinha começado a andar 2 kms mais atrás e ia desistir disse-me ele, estava incapaz de correr, as ancas e os pés estavam insuportáveis e negou-se a continuar com aquele suplício, ainda tentei demovê-lo a acompanhar-me mas não consegui, seguiu ainda até aos 28,5 kms e apanhou boleia para o local de chegada. Apesar de estar com os mesmos sintomas que o Daniel e ainda com dores na zona dos rins não desanimei e prossegui, o piso ia ficando cada vez pior e sempre que a areia ia ficando demasiado mole eu tinha de andar, sempre dentro da rebentação e ainda com as Neoprene calçadas, tinha planeado tirá-las por volta dos 10 kms e agora tinha de alterar a ideia inicial, mas já estava a tornar-se insuportável a sua manutenção, não pelas meias mas sim pelas dores que já ia sentindo nos pés pela permanente inclinação da areia, (parecia que os dois pés estavam abertos ou como se diz com fratura de esforço) mas decido levá-las até ao único abastecimento que estava aos 28,5 kms. Perdi a noção do tempo gasto até chegar aqui, (levava o Garmin e desinteressei-me totalmente dele) mas sabia que o objectivo inicial das 6 horas estava em causa.
Mal cheguei deram-me logo duas garrafas 0,5l de água, aquela que transportara desde Melides estava a esgotar-se, enfiei com uma para para o depósito e bebi metade da outra, a restante guardei-a e supliquei por mais uma, não, disse-me logo o diligente colaborador o regulamento não permite excepções, resignado aceitei a decisão e tinha de fazer pela vida. Calcei os ténis e logo outro à vontade e alívio senti de imediato, tomei um gel e segui na peugada do Parro e do Carlos Coelho, do Mário nada. Ainda ouço dizer que o primeiro já ali levava 11 minutos do que aquele que seguia em 2º lugar, recebo também a notícia que mais 4 kms à frente o piso irá melhorar um pouco. Esperançado nesta nova situação vou avançando com a maré já a encher (ela nunca chegou a vazar) e por isso tinha a minha tarefa ainda mais complicada, agora de ténis evito correr e andar na água, alcanso novamente o Carlos e o Parro ainda vou um pouco com eles mas ficam definitivamente para trás. Finalmente aos 33 kms o piso apresentava-se excelente, já podia correr, mas onde é que estavam agora as forças para poder correr? Vi ali à minha frente a Célia Azenha que me tinha passado um pouco antes e ia a juntar um pequeno grupo de entreajuda até chegar ao final, iam a andar, fiz um pouco de esforço e corri até chegar a eles, eram 4, mal lá chego recebo um bem vindo da simpática Célia mas de imediato começam de novo a correr, fiquei pregado, andei mais um pouco e voltei a tentar, alcancei-os de novo e agora consegui ficar lá, a cada km andávamos um pouco e assim chegámos aos 40 kms. Nesta altura o inevitável aconteceu, acabou-se-me a água, como estava perto fiquei tranquilo, no entanto a Célia logo se prontificou a ceder-me alguma e aceitei de boa vontade.
Dali até à meta seguimos juntos mas no último km deixei-me ficar um pouco para trás, segui mais lento pois havia muita gente na praia e já me custava contorná-las.
Mal chego a 150m da meta recebo logo um grande incentivo e cumprimento do "Tigre", um abraço do Daniel que me acompanha ainda alguns metros, do Sobral, da família Mota, do António e da Isabel, do V.Veloso, da esposa do C.Fonseca, ali mesmo à beirinha da meta, e outros que o descernimento não ajudou a decorar, receber este carinho ali ao cortar a meta por si só já nos sentimos recompensados.
Tempo final: 6,54,23h. para os 43,660kms. (mais 1,50h. que em 2009)
O Daniel já conhecia os cantos à casa e depressa me encaminhou para os locais mais apropriados para a minha recuperação, tinha partido ás 9h da manhã e eram agora 16 horas, a fome e a desidratação estavam nos limites, a condição física era ainda razoável, ausência de câimbras e dores mosculares, pior estavam os pés. Sentei-me num cadeirão, ali mesmo ao lado do Decano da UMA, enquanto ia comendo tudo o que o Daniel ia trazendo (melancia, melão e uvas) ia dando um dedo de conversa com o Joaquim Antunes sobre a sua profecia desta edição da prova tendo confirmado que esteve ao nível das dificuldades da edição dse 2006.
De seguida fui dar um mergulho mas rapidamente saí da água, tinha comido muita fruta e a água estava muito fria tendo-me dirigido de imediato para os chuveiros para limpeza geral.
Já não tive coragem e força de vontade para voltar para junto da meta e apontei de imediato para o barco.
Custou-me muito fazê-lo pois estavam lá tantos amigos e mereciam um pouco mais de atenção da minha parte, mas eu estava de rastos, nem sei como lhes pedir desculpa.
Um abraço a todos, aos que concluíram, áqueles que não o tendo conseguido tudo fizeram para resistir até ao fim, à organização pela excelência e competência na realização de mais uma edição da prova.
Uma saudação especial ao vencedor da prova, Eusébio Rosa, que nas condições terríveis do percurso e sem transportar uma pinga de água venceu a prova folgadamente e com um novo recorde.
Voltarei para o ano, com a esperança que desta vez a maré quando vazar esteja mesmo vazia.