segunda-feira, 10 de agosto de 2009

A História que ficou do Trail Noturno da Lagoa de Óbidos

NUM SORRISO DE SATISFAÇÃO À CHEGADA

Antes da partida do Trail fui encontrando os amigos aqui da blogosfera e outros que sabia iriam estar presentes e alguns deles tinham estado comigo no recente Trail Melides/Tróia, dos quais destaco o Fernando Andrade, Jorge Pereira, Analice Silva, Célia Azenha e outros que desconheço o nome, desde logo tranquilizei por ver que a opção de eu participar em mais esta aventura não tinha nada de extraordinário desde que salvaguardasse os limites que eu sabia ir estar sujeito.
Foi ali perto do sinal de partida que dicidi fazer a prova em companhia da Otília, tendo como apoio principal o Daniel, já que o José Brito tinha dicidido arriscar mais um pouco procurando alcançar uma marca que pensava estar ao seu alcance. Eu sabia que a companhia da Otília iria ser benéfica para mim pois ela já tinha a experiência do Trail das Geiras de 45kms e que iria ser dicisivo lá mais para a frente quando os kms e as horas já estivessem bem carregados.

Dadas as caraterísticas da competição (noturna) e porque a Lua Cheia pouco ajudou (encontrava-se a Leste e a baixa altitude) tivemos de usar a iluminação dos frontais, auxílio precioso mesmo que tivesse causado algum desconforto no início mas que ao longo da corrida se foi tornando num objecto praticamente insensível.

A partida foi dada mesmo em frente à porta do Cemitério local (penso que para espantar os maus espíritos), logo ali falhei o início da cronometragem no meu relógio mas como o Daniel tinha tido esse cuidado não me preocupei, seguimos logo por uma estrada de terra batida até cerca de 500 metros à frente onde começámos a encontrar a primeira dificuldade, uma longa descida em escadaria, que eu preferi fazer a andar, para não começar desde logo a massacrar os músculos. Um km mais à frente virámos para a direita num trilho que nos levaria pouco depois até à escalada de um monte que não deu epóteses à nossa boa vontade, subimo-lo a andar, embora ouvesse outros que teimavam em correr ali, a sua progressão não era superior à nossa.
Ultrapassada aquela dificuldade seguimos então por caminhos e trilhos espectaculares, o Daniel sentia-se como peixe na água, eu e a Otília já íamos com uma passada bem económica por forma a que o desgaste se desse lá mais para a frente, entretanto somos apanhados e ultrapassados pela nossa amiga e ultramaratonista Analice Silva que através de uma curta conversa nos disse que se sentia muito bem e seguiu. Passado pouco tempo fomos encontrá-la amparada a dois amigos que a auxiliaram, tinha caído de forma muito desemparada e queixava-se da zona do frontal, rapidamente verificamos que não ficaram mazelas e deu também para ver que do seu frontal irradiava uma luz muito ténua (razão pela qual deverá ter ocorrido a queda) e insuficiente para este tipo de competição, depois seguimos todos juntos até ao 1º abastecimento que estava aos 10kms.

Os 11 kms que se seguiram foram feitos ao longo do rio Arelho e da Lagoa de Óbidos, percurso totalmente plano, sempre em terra batida, que de certeza os atletas mais competitivos não deixaram de aproveitar para melhorar a sua média de corrida já que para trás tinham ficado alguns troços onde a corrida era dificultada, nós optámos por seguir o nosso ritmo pois desconhecíamos por completo o que nos esperava lá mais para a frente. Foi neste percurso (antes dos 21 kms) que cruzámos com os participantes da Caminhada e por volta dos 18 kms cruzámo-nos com a Susana e a Mariana que vinham muito bem, nós nem tanto, excepto o Daniel que continuava em boa forma e a apreciar cada momento de corrida, aproveitámos e tiramos umas fótos para recordar aquele momento, tanto mais que a Susana iria fazer anos nesta madrugada e a celebração estava reservada para a nossa chegada.

No 2º abastecimento por volta dos 21kms esteve a primeira e única decepção desta maravilhosa organização, falta de água, tinha acabado disseram, em alternativa bebemos chá que não sendo a mesma coisa soube muito bem. Aqui o Daniel, que continuava cheio de energia optou por seguir sozinho e tentar fazer o resto da prova a um ritmo superior e que pensava estar ao seu alcance e lá foi. Fiquei com a Otília e seguimos agora para a parte mais difícil, percebo agora porque é que o 3º abastecimento estava 4kms mais à frente, enfrentámos logo a partir dali o areal da praia da Foz do Arelho vindo-me logo à memória o pesadêlo dos primeiros kms ainda em Melides, não foi preciso muito tempo por optarmos por atravessar aquele traçado a andar, pouco depois enfrentamos a 1ª duna que é feita com a ajuda das mãos sobre os joelhos e assim sucessivamente nas outras que se seguiram, quando ia a meio dou comigo deitado na areia, algo desagradável visto que o equipamento ia bastante molhado de tanto suor que normalmente irradia de mim, a Otília vinha atrás nem se apercebeu e quando lhe disse foi um fartote, logo de seguida ouço gritar lá do alto da duna, era o Daniel, optara por esperar por nós dadas as dificuldades no percurso que ele estava a observar, estava no local onde já muitos atletas se tinham enganado no percurso, e (sei agora que o Fernando também andou ali feito barata tonta), preocupado conosco dicidiu esperar por nós e seguirmos juntos.
Como o percurso continuava muito técnico, carreiros quase invisíveis com raízes e muita areia num sobe desce constante íamos aproveitando para a espaços raros correr um pouco, e foi assim que sem saber como dei comigo a rebolar mais uma vez na areia, desta vez não havia ponta por onde se pegasse, era areia por todo o lado, quem ali ia comigo achou muita graça aquilo, o Daniel então desfez-se a rir depois de ver que eu ficara sem mazelas e disfarçado de ave penada, tanta era a areia que me cobria.

Conseguimos atravessar aquele calvário e chegar ao 3º abastecimento líquido e sólido que estava situado nos 24 kms. Apesar de já ir muito fatigado e com fortes dores musculares ainda me deu vontade de rir, aquele era o local onde nos era sugerido pela organização através do Slaid de divulgação da prova onde existiria o abastecimento e também o local onde deveríamos retirar a areia dos sapatos, olhei para mim e comecei a rir, a areia dos sapatos era fácil de tirar então e a outra ? aquela que eu transportava por todo o corpo? ainda indaguei se não haveria por ali algum Lago onde pudesse ver-me livre daquele estorvo, mas nada e então resignei-me, limitando-me a saciar a sede e alguma fome que já sentia. Nesta altura a Otília continuava a sentir-se relativamente bem e o Daniel surpreendentemente continuava como se nada se tivesse passado até ali, este estado de espírito dele deu-me a mim e certamente também à Otília maior alento já que ele não tinha qualquer experiência de corridas para além da Meia-Maratona.
Seguimos passados cerca de 10 minutos de descanso e se julgávamos que o pior já estava ultrapassado bem depressa nos resignámos à evidència das dificuldades que iríamos encontrar, após a longa subida que foi ultrapassada em passo de corrida fomos encontrar um troço impróprio mesmo para andar, quer a descer quer a subir fizémos todo aquele percurso a andar e mesmo assim, principalmente a descer, eu mal conseguia suster as dores que sentia nos músculos superiores das duas pernas, valeu-me ali também a presença da Otília, que eu sabia que ia com alguns problemas mas que nem um ai deitou cá para fora, então eu tive de fazer-me de "herói" e seguir o caminho que os meus companheiros de aventura me estavam a mostrar.
Aquele tormento acabou por volta dos 29 kms e a partir daí entrámos novamente no terreno plano, sempre em passo de corrida, que nos levaria até ás muralhas de Óbidos. Aos 33kms estava o último abastecimento onde parámos mais alguns minutos a saciar a sede e onde os simpáticos amigos que lá estavam nos informaram que "só" faltavam cerca de 6 kms para acabar. Quando reatámos a corrida, é que verifiquei o estado em que estavam as minhas pernas, foi aqui que relacionei o esforço dispendido à duas semanas no Trail Melides/Tróia e as dificuldades que estava a sentir, mas estava ali para concluir mais esta aventura e não haveria nada que me o impedisse e assim fui gerindo a corrida até chegar à base da Muralha, mesmo junto à Estação do Caminho de Ferro, modéstia à parte, conforme víamos a aproximação à meta eu ia-me sentindo orgulhoso pela minha corrida e pela companhia que levava, a Otília bravamente e sem queixumes ia ali ao pé de mim e isso bastava para que eu não vassilasse e o Daniel seguia como sempre a cerca de 5 metros à nossa frente a orientar-nos o caminho e a dar a força e estímulo necessários para que prosseguissemos até final.

Quando finalmente chegámos à Estação faltava ainda o pesadêlo da escadaria que nos levaria até lá acima ás muralhas onde estava instalada a meta, procurei subir ao lado das escadas em madeira por uma pequena nesga que havia ao lado para evitar males maiores ás minhas tão massacradas pernas. Chegados ao alto tinha uma boa recepção, toda a família e alguns amigos que nos ajudaram a percorrer aqueles metros finais até encontrarmos aquela mágica porta que nos permitiu terminar logo ali tão maravilhosa aventura.

O Luís Mota e o Brito ali estavam a receber-nos de braços abertos secundado pela Susan e os seus maravilhosos filhos. O Luís que já tinha terminado a sua prova à quase duas horas e o Brito acerca de quase meis hora, ali estavam, não se tendo esquecido destes amigos que dentro das suas limitações também ali foram capazes de chegar, e que bem soube esta recepção.

Aquele pequeno percalço da falta de água no primeiro abastecimento (coincidiu com o abastecimento da Caminhada) não mancha esta extraordinária prova nem os responsáveis por ela, por ser uma prova não competitiva para a maioria dos participantes irei estar na próxima edição, pois o meu espírito de aventura e o gosto pela corrida faz com que estes eventos estejam sempre marcados na minha agenda, até poder.

Ás 5 horas da manhã em pleno Largo de acesso ás muralhas e ao interior de Óbidos juntámos a família e os amigos Brito e a Otília, o Luís Mota, a Susan e os seus folhotes Mariana e Luís Carlos que fizeram o favor de aguardar para cantar os Parabéns por mais um aniversário da Susana.
Foi um gesto muito bonito que a todos agradecemos.
Em breve deixarei aqui um slaid com algumas fótos deste inesquecível dia.

10 comentários:

António Almeida disse...

Grande Joaquim
depois de uma excelente raid uma boa participação neste trail nocturno, parabéns.
Foi decerto uma noite memorável mais a mais que a Susana fazia anos.
Abraço companheiro.

luis mota disse...

Olá Joaquim!
A perfeita descrição que nos transporta para aquela magnifica noite.
Para nós foi uma grande alegria estar convosco e partilhar momentos tão agradáveis.
Cumprimentos para todos da família Mota.

ana paula pinto disse...

Gostei muito de ler o relato dessa experiência. Sem dúvida, deve ter sido uma prova fantástica onde não faltou a magia da paisagem, nem a ternura dos afectos. E, se a isso se juntar a parte hilariante da vida (neste caso, a peripécia de ficar tipo rissol com a areia), teremos os ingredientes para uma noite perfeita.

Parabéns ao Homem, ao atleta e ao pai.

Ana Paula

rustman disse...

Eu já tinha pensado nisto, faz a primeira e nunca mais para...

Parabens!

PS: Se é para fazer mais uma ou duas até ao fim do ano, o melhor é reduzir a kilometragem durante uns tempos! Lá mais para frente temos de repetir o treino da Expo, mas aí já vou para as três horas!

Susana disse...

Excelente odisseia que passaste na companhia da Otília e do Daniel! Também adorei o que escreveste como sempre!
Agora também o Daniel está a ganhar gosto por esse tipo de aventuras, ai ai!!! Adorei o vosso desempenho!
Parabéns por mais este desafio concluído,
Beijinhos da filhota

NS disse...

Reconheço que me pareceu exagerado submeter-se a duas "ultras" com tão pouco intervalo. Ainda bem que tudo correu bem (fase de croquete à parte, eheheh).

Parabéns pela aventura!

Bom (e merecido) descanso.

Fernando Andrade. disse...

Bravo, Adelino!!
Parabéns pela excelente descrição e pelo resultado e quero também agradecer o teu sempre bem vindo comentário no meu blogue a propósito desta grande aventura que foi o TLNO.
Confesso agora que se não fosse a informação de que tu lá irias estar, não me passava pela cabeça fazer o mesmo. Em boa hora o fiz, pois adorei.
Tive pena de não saber que a Susana fazia anos, pois gostaria de lhe dar os parabéns.
Por último, quero pedir-te desculpa por não ter esperado pela tua chegada, mas comecei a ficar com muito frio e a temer por uma gripalhada que não viria nada a calhar, pelo que tive de ir andando para o pavilhão, onde a água do banho fervia, literalmente, sem que alguém conseguisse regular o raio da caldeira, ehehh.
Grande abraço e que venha a próxima.
FA

BritoRunner disse...

Olá Joaquim

Cheguei agora das mini férias e não podia deixar de lhe vir dar os parabéns pela excelente participação no trail de Óbidos.
Adorei a prova, embora aquela duna me tenha desgastado bastante e lhe tenha rogado umas boas pragas...rssss.
Adorei a sua companhia assim como a da esposa, susana e daniel.
Espero que tenha tido uma boa recuperação.
JCBrito

otilia leal disse...

Olá sr. Adelino!
Cheguei de férias e ainda tenho mazelas da nossa aventura.
Deixo aqui o meu agradecimento pela sua companhia e do Daniel, que está pronto para novas e grandes aventuras que os Trails nos oferecem.
Foi com bastante sacrificio e desgaste que cheguei ao fim,( férias e poucos treinos não me prepararam como deveria) mas ficou a experiência e a capacidade para gerir e aguentar o esforço.
Obrigada pelo apoio da Susana e restante familia, foi memorável cantar os parabéns á Susana aquela hora.E comer o bolo (claro)
Agora VIVA o descanso e esperemos pelas próximas...!
Bom descanso, que até os guerreiros precisam.
otília

mariolima52 disse...

Bom Joaquim

Depois do trail Melides/Tróia, mais este trail Nocturno da Lagoa de Óbidos (fartei-me de rir com as tuas peripécias) só te falta fazeres agora a "Marathon dos Sables" no deserto do Sahara.

Já pensaste nisso?

:)

... Tu não paras?!!!

:)

Parabéns para ti e Daniel pelo raro exemplo de querer e já agora fala lá com o responsável do CCD para me inscrever para o Avante.

Só comecei a treinar na semana passada, isto vai devagar mas espero não voltar a ressentir-me da lesão.

... Ah e Parabéns para a leoa tua filha de um leão também de Agosto, ela a 9 e eu a 15.

:)

Abraço!